A maior festa popular brasileira de devoção a Nossa Senhora. Além da grande procissão, a festa reúne pequenos cortejos e leva a imagem Santa a milhares de lares paraenses. Um povo que cresce na devoção a Maria
Provocados que fomos pela visita de Marco Montrasi, o Bracco, responsável nacional de Comunhão e Libertação, em setembro, aqui em Belém, fiquei pensando no vínculo de CL com o Círio de Nazaré. Descobri que são muitos: no livro O Milagre da Hospitalidade, de Luigi Giussani, encontrei uma perfeita pertinência entre o que ele diz e o Círio de Nossa Senhora de Nazaré – a festa dos católicos paraenses.
Acontecimentos, testemunhos, fraternidade, mistérios e cultura popular embalam a devoção paraense. A história dessa festa é de uma riqueza estupenda de fé e religiosidade popular. Falando da “consciência de ser amado”, Giussani diz que “uma religiosidade verdadeira se documenta na capacidade de partilhar e de acolher”. É uma afirmação que nos ajuda a refletir sobre a fé na Virgem Maria.
O Círio é uma grande procissão que acontece desde 1793, atualmente na manhã do segundo domingo de outubro. Tudo começou quando o caboclo de nome Plácido José de Souza achou, em 1700, a pequena imagem da Virgem de Nazaré, às margens de um igarapé, lugar onde se ergue a majestosa Basílica de Nazaré.
Reunindo centenas de milhares de romeiros, o cortejo percorre cerca de quatro quilômetros entre a catedral e a basílica, marcando o início de quinze dias de celebrações. A rigor, a festa começa dias antes, com centenas de visitas da imagem peregrina (a que foi achada em 1700 está exposta na basílica) a empresas e órgãos públicos, a paróquias de outros Estados brasileiros e até a Lisboa, em Portugal. Os preparativos espirituais começam cerca de dois meses antes do grande dia. Neste ano, 110 mil lares católicos de Belém e mais quatro municípios vizinhos receberam a imagem da Santa, uma Bíblia, cartazes e folhetos. Cada noite, pequenos cortejos percorrem ruas, avenidas, vielas e condomínios. São cerca de 5.500 imagens recepcionadas pelas famílias em meio à novenas, reflexões evangélicas, cantos e o Terço. Depois, cada imagem é levada à casa vizinha, onde “pernoita”, para tudo se repetir no dia seguinte. “É uma oportunidade de convivência. Nós prezamos muito essa espiritualidade porque responde ao que pregamos”, diz Adriana Lopes Remédio, responsável pela comunidade deBelém do Movimento Comunhão e Libertação. Neste ano, integrantes de CL participaram juntos da vigília nas vésperas do Círio.
Tudo no Círio lembra acolhida. “Esses eventos representam uma experiência de religiosidade não exatamente nova, mas que se renova a cada ano e se aprofunda como evangelização autêntica, o que é muito prezado pela Igreja de Belém, transformando a tradição em autêntica catequese”, acrescenta Márcio Monteiro, também integrante de CL em Belém.
Assim, a comunidade de Belém adequa à tradição o que diz Giussani sobre a convivência, a fé e a cultura. “O Círio aproxima-nos; juntos vivenciamos uma fé inspirada por Maria. Experimentamos a acolhida como gesto de verdadeira religiosidade, compreendendo o que nos deixou o fundador de Comunhão e Libertação: ‘Só amamos se somos amados, amados não por quem, e da maneira que desejamos, mas de forma muito mais profunda e essencial’. Não temos dúvida sobre o amor de Maria por nós”, diz ainda Adriana.
Neste ano, calcula-se que cerca de 1,7 milhão de pessoas tenham participado das peregrinações domésticas na Região Metropolitana de Belém, ocasião em que os conceitos de vizinhança expandem-se sob o abrigo da devoção e das bênçãos da Mãe de Deus – eventos marcados pela fraternidade entre parentes e amigos. Essas peregrinações da Santa em Belém do Pará são oportunidades práticas do que nos fala Giussani, lembra Adriana: “A acolhida e a partilha são a única modalidade de um relacionamento humano digno, pois somente nela a pessoa é exatamente pessoa, ou seja, relação com o infinito”.
Já se chamou o Círio de Belém de “carnaval devoto”. A festa tem um lado profano, abrigado nos conceitos de cultura popular. Faz parte da festa o “almoço do Círio”, quando em torno do pato ao tucupi acontece a festa de confraternização. Por isso, dizemos que “o Círio de Nazaré é o Natal dos paraenses”, suscitando refletir sobre a chegada de Jesus. Eu diria que, “por meio de Maria, Ele chega à casa de cada um”. E aqui, mais uma vez, lembremos Giussani: Um itinerário através do qual acontece a partilha, esse abraço acolhedor (de mão dupla) com o qual uma presença acolhe a outra”.
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