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Passos N.143, Novembro 2012

DESTAQUE - Seguindo Pedro

"Com a própria vida" - Mireille Yoga

por Alessandra Stoppa

“A fé nos torna fecundos, porque amplia o coração na esperança e permite oferecer um testemunho capaz de gerar”. Assim escreve o Papa na Porta Fidei. Aqui, brevemente, o relato de uma vida plasmada pelo encontro com Cristo

HISTÓRIA CAMARÕES
“Você, para mim, vale mais do que dez filhos”


“Você é uma árvore que não dá fruto”. Os olhares e os comentários das pessoas lhe sussurram isso. E explodem dentro dela. Na mentalidade africana, não há saída para uma mulher que não tem filhos. “Todos estão ali, olhando a gente. E esperando”. Mês após mês, ano após ano, mas em Mireille há apenas a dor de não poder dar ao homem que ama o dom maior. “Era tudo o que eu queria”.
Em Yaoundé, capital de Camarões, com um milhão e meio de habitantes, acontece todo dia de um marido ir embora, tomar uma outra mulher, mesmo quando têm filhos, e numerosos. Imagine, então, quando não têm! Hoje Mireille Yoga está com 38 anos, o casamento com Victorien dura há treze e em todo esse tempo não aconteceu o que ela mais aguardava. Alguns anos antes de se casar, ela encontra CL. “Ir à igreja era uma formalidade. Nunca senti o desejo de seguir Jesus, era algo abstrato. Como poderia amá-Lo?”. Mas Cristo a chamou, como fez com João e André. “Perguntei a duas jovens aonde iam depois do coral. Venha e veja”.
Quando Victorien a pediu em casamento, ela lhe respondeu: “Sabia que essa mulher com quem você quer casar é feita pela fé? Se você soubesse como eu era antes, não casaria comigo”. Coloca uma condição, inimaginável numa cultura onde o homem é mestre e patrão: “Nunca me impedir de seguir a estrada que estou percorrendo. Porque essa é a minha vida com Jesus”. No entanto, sua ligação com o Movimento se afrouxa, durante quatro anos, nos quais o casamento sem filhos se torna insuportável. E o seu desejo é uma obsessão.
Um dia, toca o telefone. “Venha trabalhar com os meninos de rua”. É padre Maurizio, um missionário que tem um centro para os meninos nanga boko (“os que dormem fora”), que vivem entre a rua e as celas dos comissariados. “Eu disse a Victorien: Deixe-me ir. Era a minha necessidade de ser mãe que buscava resposta”. Aquelas crianças desprezadas e mal-amadas, pouco amadas por pais polígamos e famílias esfaceladas, ou que haviam chegado à capital vindas das savanas do Norte, começaram a procurá-la chamando-a de mamãe e a se tornar adultos
com ela. Mas não é essa a resposta. “Eu ali reencontrei a companhia de Cristo e me abri para o Mistério. Aprendi a olhar a realidade pelo que ela é: um dom”. Não pode mais acreditar naqueles que dizem que o cristianismo é uma história de brancos. E o marido começa a se interessar pela realidade que ela vive. O amor entre eles cresce, junto com aquele mesmo e preciso desejo de ter um filho. Mireille continua a pedir o milagre, mas a criança não vem. “Por quê?”, não se cansa de perguntar. Um dia, Victorien lhe diz para não chorar mais. “Você, para mim, vale mais do que dez filhos. Eu me casaria com você hoje de novo”. Um homem africano não pode falar assim. “Há uma só razão”, diz ela: “No nosso casamento Cristo está presente”.
Fica mais claro quando o desejo parece terminar numa resposta. Outro telefonema lhe revira a vida: “Era uma sobrinha do meu marido. Esperava uma menina e queria que nós a criássemos”. Assim, agora está com eles Andrée. “Tê-la nos braços, tê-la em casa... Finalmente ela chegou como o objetivo de toda a nossa vida”, diz Mireille. “Mas ela não é. Essa clareza chegou a mim com força, uma noite”.
Durante um jantar, padre Marco, um amigo, está falando de si com lágrimas nos olhos: “Nada mais me basta. Quero que Cristo tome totalmente conta de mim”. Andrée corre em volta, ela segura a criança, abraça-a, sem tirar o olhar de Marco. “Era um outro homem. O desejo de se dar cobria sua face. Naquele instante, minha filha entre os braços, aquela criança que eu tanto havia desejado, não a sentia mais, era como se não existisse. No olhar de Marco, Jesus me tocava. E me levava a descobrir a mim mesma: eu desejo mais”.
A consciência de si, até as fibras mais profundas do ser. Tem uma força que está mudando o mundo em volta dela, aqui onde as pessoas correm para se batizar, com a vida ainda tomada pelos espíritos. “Fui chamada a dizer que Cristo está dentro da realidade. E responde a todo o meu ser”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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