O tempo da pessoa
Caríssimo padre Julián Carrón, agradeço a oportunidade de nos comunicarmos pessoalmente. “O tempo da pessoa” começou para mim em 2010, quando comecei a me maravilhar com a humanidade de algumas pessoas e me perguntava: “como podem ser assim?”. As palavras do livreto da assembleia de La Thuile daquele ano,“Viver é memória de mim”, me atingiram profundamente, me fizeram entender que é preciso a minha iniciativa, pois percebi que uma humanidade transformada, plena e atraente também era uma proposta para mim. Foi como o abrir-se de uma cortina, abrindo passagem de um lugar escuro para outro cheio de luz. Senti a minha pessoa resgatada e que o meu eu precisava mover-se. Só eu posso mover o meu eu! Assim, senti-me valorizada, é como se alguém me dissesse: “agora é com você”. Isso me fez sentir livre e acolhida como sou, entendendo que agora é comigo! Decidida, segui o que era proposto, comecei a fazer Escola de Comunidade diariamente, olhava para algumas pessoas cuja humanidade me fascinava. A atração pelo humano transformado e um movimento da minha pessoa começaram a fazer meu coração pulsar mais forte e percebi que olhava tudo de um outro jeito. Percebi que não era mais a mesma pessoa, comecei a me surpreender comigo mesma, veio à tona a consciência de que era Ele a agir em mim. Comecei a dar testemunhos nas assembleias, meu marido e algumas pessoas do meu trabalho falaram que eu havia mudado. Mas o melhor mesmo era aquele pedacinho de infinito dentro de mim, a pulsar, era entender tantas coisas que eu antes não entendia, era me lançar nos relacionamentos com curiosidade. Continuei a fazer as mesmas coisas que fazia antes, mas desejando amar tudo. Os problemas, a tristeza, meus limites e o cansaço permanecem, mas deixam de ser o mais importante. Comecei a agradecer porque tudo isso foi dado a mim através de vocês que caminham junto comigo. Estou apaixonada por essa vida que me faz sentir nova e não velha, estou apaixonada pelo fato de que o meu sim a Cristo transforma o meu olhar em Seu olhar. Desejo que eu possa sempre viver essa “mais vida”, suplico que Ele me dê rostos onde eu possa reconhecê-Lo, pois não sei mais viver se não O vejo.
Heloisa Oliveira, São Paulo (SP)
Sem muletas, volta-se ao essencial: a realidade
Durante o inverno, uma doença me obrigou a ficar na cama por um longo período, me impedindo de participar dos momentos do Movimento, sobretudo a Escola de Comunidade com padre Carrón através de videoconferência e o encontro de retomada semanal. Vi-me privada de todas as “muletas”. O Senhor me obrigou a viver um relacionamento “cara a cara” com ele. Em uma noite em que as dores ficaram mais fortes, senti-me abraçada por Ele e em sintonia com aquilo que padre Carrón disse nos Exercícios e que minha amiga me contou. A comunhão – pensei – não conhece distâncias. Compreendi que aquilo pelo qual vale a pena viver é “o essencial”, isto é, a realidade assim como se apresenta e que não sou eu que escolho, e até a ansiedade com que, muitas vezes, participo de alguma iniciativa, diminuiu. Foi a descoberta do essencial que me levou a viver os relacionamentos de uma maneira diferente: com minha mãe, com meu filho, com meu marido, que antes considerava como um apoio que terminava em si mesmo; com meus amigos que vêm me visitar. Entendo agora que o verdadeiro apoio “claro e sólido” é Cristo presente na companhia dessas pessoas que considero um dom. O que me liga a esses rostos já não é mais a necessidade de ser confortada por eles. Aquilo que me move nos relacionamentos, hoje, é o meu “desejo de infinito” que faz com que veja esses rostos como o de pessoas que também querem a mesma coisa que eu. Dei-me conta de que Cristo, depois de ter me alcançado na minha solidão, está nessa companhia. Agradeço ao Senhor por ter me colocado ao lado do meu marido que, com a sua vida, sua presença, sua calma, me chama a uma nova consciência: Cristo é tudo. Essa é a certeza que me faz entrar no real, e está no meu comer, no meu beber, e até nas batatas, como disse Dom Giussani.
Aurelia, Reggio Calabria (Itália)
Um passo atrás, e volta a dominar o maravilhamento
Se fosse resumir este mês, diria que a coisa mais fascinante foi o dar-me conta de que através de toda a dificuldade, de eu me encontrar do outro lado do mundo para começar um novo trabalho, o Mistério está me fazendo iniciar um caminho. Aqui em Sandy, no sul de Salt Lake City, estão Don e Kim, marido e mulher, que encontraram o Movimento através da amizade com os pais de Jonah Lynch. Fazem Escola de Comunidade em uma paróquia com outras duas pessoas que conheceram através de um panfleto que convidava para fazer um trabalho sobre o livro de Dom Giussani. Eu cheguei da Itália e Don e Kim me hospedaram e me ajudaram a procurar uma casa. A coisa incrível é que toda a minha gratidão por ter sido hospedada e acompanhada é incomparável com a gratidão deles apenas pelo fato de eu estar com eles, e eu realmente não fiz nada. Na Escola de Comunidade, um desses novos amigos arranha o violão. Sempre chega com um folheto com o canto da semana, normalmente uma música da paróquia. Eu, que tenho minha ideia sobre quais cantos deveriam ser feitos, uma vez sugeri usar um dos cantos do livro de CL. Na Escola seguinte trouxe seu folheto com... Country Roads! Não sabia se ria ou chorava, e pensava: “Será possível cantar Country Roads no início da Escola de Comunidade? Melhor não cantar nada”. Enquanto eu estava completamente definida por esse aborrecimento, dou um passo atrás, olho para ele, e fico maravilhada porque, no meio do nada, existem quatro pessoas que leem o livro de Dom Giussani. O aborrecimento, que era visível no meu rosto, transformou-se num sorriso. Quanto mais o olhava cantar Country Roads, mais me comovia por Jesus presente no meio de nós. Como me disse um amigo, essa é a virgindade: esse passo atrás, essa separação da minha imagem de como as coisas deveriam ser, para dar-me conta de que Ele existe. Estava realmente mudada, grata por eles estarem ali. Comecei a tomar iniciativa na Escola de Comunidade, enquanto normalmente, um pouco por causa da língua, um pouco pela dificuldade de entender onde se ia parar, não dizia nada. Naquela Escola de Comunidade, estava tão fascinada pelo Outro que tinha dado o ar da sua graça, que me senti livre para enfrentar todas essas dificuldades. Ali me dei conta quantas vezes, nos encontros com meus amigos, na comunidade “perfeita”, com os cantos “perfeitos”, na Escola de Comunidade “perfeita”, não havia espaço para o maravilhamento da percepção de uma Presença, da comoção por Sua presença.
Laura, Salt Lake City (EUA)
Uma estranha oração
No dia 21 de outubro, um domingo, participei com os universitários de CL do Rio de Janeiro do Dia nacional da juventude (DNJ), evento organizado todos os anos pela Pastoral da Juventude no Brasil. Responsáveis por rezar as Laudes, Natasha, Carlitos, Bruno e eu subimos ao palco, logo no início do evento, que aconteceu no recém-inaugurado Parque Madureira. A Lena, o Marcos, a Yasminne, a Nathalie e nosso amigo Felipe também estavam conosco, nos apoiando nos ensaios e na organização das orações. Finalizávamos aquele que havia sido um fim de semana maravilhoso, de plena companhia entre amigos. No momento em que chegamos ao palco, tremíamos feito varas verdes! Foi um pouco difícil lidar com o público, que se dispersava muito facilmente... O Bruno teve a brilhante ideia de rezarmos o Angelus no modo “mais conhecido”, com as três Ave-Marias, o que fez com que bastante gente prestasse atenção no início do gesto. Porém, no momento em que rezamos as Laudes, percebemos que a maioria não ficou tão atenta como antes, possivelmente porque não conhecia e estranhara a oração em reto tom... Estar ali, no entanto, foi para nós uma verdadeira graça! Mais belo ainda foi dar-se conta de que nossa amizade, com efeito, não é apenas algo divertido, como também é relação com Outro. Com um Outro que se fez carne e que salva-nos todos! Então, por mais ou menos bem recebido que fôssemos, por mais que muitos tenham "dormido" durante as Laudes, dizer "sim" e propor a todos aquele gesto, aquele modo "diferente" de se vincular ao Mistério, foi de fato a confirmação do lugar e da Pessoa em que reside a nossa consistência! Fiquei muito feliz de estar lá com os meninos, anunciando a boa nova que é Cristo através de nosso carisma. É uma graça ser Igreja através dele! Agradeço ao Senhor por tê-lo doado a Dom Giussani, e assim nos ter possibilitado encontrar tanta beleza! Rezo para que nós possamos nos dar cada vez mais conta disso.
Mariana G. Matos, Rio de Janeiro (RJ)
No Brasil, com as cartas de Giussani nas mãos
Caro Julián, escrevo enquanto estou num avião voltando para o Brasil. Que comoção ler no site de Passos os testemunhos dos primeiros amigos que, há cinquenta anos, chegaram aqui. Cheguei a São Paulo exatamente cinquenta anos depois daquelas palavras de Giussani. E aquelas cartas parecem escritas para mim, hoje. Comoção porque a dinâmica é a mesma: aquilo que tomou a minha vida é para todos, mas sobretudo para mim, para a descoberta da minha vocação. Ler as primeiras indicações “práticas” que Giussani dava, fez-me descobrir o motivo pelo qual o Movimento sempre nos educou à cultura, à caritativa e à missão através da Escola de Comunidade. Impressionou-me uma passagem daquelas cartas: “Não é importante aquilo que vocês conseguem fazer: é decisivo aquilo que vocês conseguem ser. Nós queremos só o Reino de Deus: para Reino de Deus – a partir de Cristo – é importante apenas aquilo que se é, não aquilo que se consegue fazer (...). Sejam, e por enquanto não façam muitos discursos. Isso é só um aprendizado. Vocês não foram aí para mudar o Brasil. Vocês foram para começar um serviço. Tenham profunda compreensão e generosidade para com os outros”. Fazendo intercâmbio em uma grande universidade, a graça do Senhor fez nascer inesperadamente um pequeno grupo de Escola de Comunidade que não nasceu de um “projeto missionário” pré-organizado, mas do fato de eu começar a viver minhas circunstâncias de um modo verdadeiro. É realmente verdade que não é com um discurso que o mundo percebe a nós, cristãos, mas graças a um coração e uma vida mudados.
Francesco, São Paulo (SP)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón