A AGENDA PERFEITA, E DEPOIS O IMPREVISTO QUE MUDA TUDO
Caros amigos, gostaria de compartilhar o que aconteceu comigo no último semestre. Primeiro, sobre a música. Eu tenho uma ferida aguda que é o desejo de ser um instrumentista de orquestra, que volta e meia, tira-me do centro, a ponto de desejar largar tudo o que faço hoje para seguir essa carreira. Assim, minha dúvida constante sempre foi: Por que me conceder esse dom (um desejo tão grande) que não pode ser utilizado? Como resposta, no segundo semestre do ano passado o Senhor me concedeu uma orquestra para satisfazer esse desejo, e, detalhe, aos domingos, pois era o único dia “livre” e possível para isso. Essa orquestra tinha um pequeno subsídio de uma Universidade particular, mas essa relação entre a Orquestra e essa Universidade era muito frágil, a ponto de o subsídio não ser renovado para 2013. Observando essa situação, verifiquei que era uma questão política. Como estávamos em um ano eleitoral, propus ao Maestro que falássemos com algum político para conhecer a nossa realidade e pedir alguma ajuda. Pois bem, participando de uma paróquia perto de casa, tinha ouvido falar em um candidato a vereador. Após uma semana da conversa com o maestro, estava em minha casa, quando escutei em um carro de som uma chamada para fazer uma reivindicação pessoalmente ao candidato a prefeito. Falei com a Melissa, minha esposa, e ficamos em frente ao portão de casa observando a passeata dos políticos. De repente, o candidato a prefeito e o vereador do qual tinha ouvido falar estavam na minha frente. Conversamos rapidamente sobre a falta de apoio à cultura e a partir dali marcamos uma reunião em minha casa. Montei uma comissão da orquestra e tivemos uma conversa produtiva. O vereador foi eleito e o candidato a prefeito não. Desde então nos encontramos algumas vezes após a eleição e tem nascido uma amizade gratuita entre nós. As coisas caminhavam muito bem, eu com uma posição de destaque na orquestra, como instrumentista e presidente da associação que estamos montando; os meus trabalhos com a docência também caminhavam bem (um colégio particular, um colégio público e uma faculdade), mais os eventos de casamento que agencio tocando aos sábados, e a orquestra aos domingos. Uma agenda matematicamente perfeita. A partir daí, começou o meu drama devido ao limite físico, quando a realidade se impôs. Não temos histórico familiar de problemas cardíacos, mas na madrugada do dia 13 de novembro acordei com uma forte dor no peito que me levou ao hospital. Já com os exames iniciais alterados que confirmavam o infarto, me vi em procedimentos médicos e na UTI. Nesse momento uma história passou pela minha cabeça e parecia que o meu fim estava próximo. Confesso que foi a primeira vez que não tive medo da morte, e sim da falta de afetividade com o Mistério pois, com meus 33 anos de vida, o Senhor já havia me concedido tantas graças e eu muitas vezes não tinha lhe retribuído com meu sim. Conversando com padre Julián de La Morena, ele me explicava que se faz necessário a desilusão para o amadurecimento do meu eu consistente. Falando dos limites físicos, relatou-me muitos exemplos na história de apóstolos e santos, porém, o que mais me marcou foi a de Dom Giussani que, no final de sua vida tinha tanta coisa para nos dizer ainda e já não conseguia mais falar. Hoje, tenho rezado e agradecido por todos os instantes que o Senhor tem me concedido viver (que antes era óbvio), por estar ao lado da minha família e dos amigos que me sustentam nesta caminhada, na esperança que essa experiência frutifique cada vez mais a certeza que o Senhor é a minha consistência.
Marcio, São Bernardo do Campo (SP)
TENDAS DE NATAL
Organizamos em Ribeirão Preto no dia 10 de dezembro, a décima segunda edição das Tendas de Natal na Pizzaria Zio Totó. Contra todas as previsões – tivemos que cobrar mais caro e as pessoas em nossos ambientes no final de ano têm agendas cheias de compromissos –, a experiência deste ano foi uma das mais belas que fizemos apesar das dificuldades com o material de divulgação. Este foi o ano que mais arrecadamos, mas o principal foi o clima bonito entre os participantes. O que mais me impressionou foi que todos contribuíram de alguma forma: trazendo prendas para o sorteio; ajudando os garçons no serviço do rodízio das saborosas pizzas; convidando amigos, colegas de trabalho e parentes; e todos perguntavam com interesse sobre o destino das arrecadações e sobre as obras da Fundação Avsi. Assim como na experiência da Coleta Alimentar– que cresce a cada ano em Ribeirão Preto e em Sertãozinho –, também no gesto das Tendas de Natal vivemos a esperança que a liturgia dos dias de Advento estavam nos comunicando. O retiro que nos foi pregado aqui pelo padre Márcio Fernandes no dia 8 de dezembro, onde também aconteceu o batizado de Letícia e a primeira comunhão de Márcia, nos ajudou a reconhecer que Deus é realmente fiel à sua Aliança. Cristo vem e Seus passos marcam nossa história, nossa vida, nossos encontros. Com esta consciência renovada vivemos o gesto das Tendas, gesto simples, mas de grande valor missionário, levando em conta a alienação que a sociedade vive no tempo do Natal. Ao mesmo tempo é impressionante ver como as pessoas desejam receber convites deste tipo, para serem ajudadas a retomar um sentido mais humano do tempo e da vida e se dar conta que doar, “dar a vida pela obra de um Outro” é infinitamente mais correspondente à nossa espera do que comprar e consumir. Fica claro, então, que nossa presença no mundo e sua explicitação em gestos missionários é um importante instrumento de Cristo para chamar a si os homens de nossa época. Quando vivemos uma experiência como esta das Tendas não há nenhuma dúvida de que somos profundamente amados, de um Amor eterno que tem piedade do nosso nada e que vem em cada instante da história se encarnando para a Salvação do mundo. E se renova a gratidão por Dom Giussani que ofereceu sua existência humana para que este anúncio pudesse se tornar Encontro em nossa vida, na vida da Igreja e no mundo de hoje.
Marina, Ribeirão Preto (SP)
UM OLHAR REVELADOR DO HUMANO
Amigos, quero contar como foi a caritativa no final do ano passado, pois continuo com a lembrança da maravilha que foi aquele dia. Estou até agora me perguntando: mas, de verdade, para quem é a caritativa? Quem está sendo caridoso com quem? Quem está melhorando alguma coisa pra quem? Porque era tão evidente a minha não capacidade de promover algo naquele dia que era quase desesperador... Primeiro, por causa de todos os problemas pré-caritativa, da minha tentativa de controlar tudo, como se o resultado daquele dia fosse produzido por mim: se as famílias fossem, se conseguíssemos doações, se os nossos amigos iriam participar, se eles iriam ficar satisfeitos, se teríamos lanche suficiente... Estas são preocupações justas e boas, mas levou algum tempo até que eu pudesse deixar as minhas imagens e entender que o resultado também é graça d’Ele, e tudo – tudo – que poderia ter acontecido naquele dia seria graça d'Ele! Então, foi aí que eu não tive mais medo de apostar na realidade e apenas deixar que Ele conduzisse tudo. É verdade o que o Bracco dizia que se temos algumas pessoas que querem fazer a caritativa, vamos em frente! Depois vinha a ansiedade de saber se teríamos mesmo as doações para dar àquelas pessoas, se de alguma maneira o Natal delas seria diferente, porém esse também não era o verdadeiro problema, porque no final das contas era o meu Natal que seria diferente, era o meu Natal que seria melhor. Tínhamos marcado de nos encontrar na missa das 9h, e dissemos que às 10h começaríamos o encontro, porém somente uma família foi à missa. No final éramos 10 voluntários e muita comida! Resolvi ligar para as famílias, falei com todo mundo que não estava lá convidando para nos encontrar e disse que só queríamos estar um pouco com eles. Eles vieram... Esperamos, e eles apareceram. Falamos um pouco sobre a caritativa do banco de alimentos e eles contaram um pouco da vida deles, quem eram, o que fazem. Fiquei marcada por uma mulher, que não pode trabalhar porque tem um problema na mão, vive com a mãe que é acamada, e foi parar no morro porque foi despejada com uma neta, uma filha adolescente e duas filhas pequenas, sendo que uma delas tem problema de saúde sério e vive hospitalizada. Várias vezes ela disse “Graças a Deus”, e não se queixava nem um pouco da vida dela, mas agradecia por ter tido para onde ir, agradecia pela vida da mãe, por poder cuidar da mãe, agradecia pelos filhos e mais! Ela disse que agora vai voltar a estudar, porque ela precisa ser orgulho para os filhos e dar o exemplo para eles... Um casal me disse que eles não iriam e não levariam as crianças porque são evangélicos e como não sabíamos tínhamos convidado para a missa. Eu tinha um presente especial que o Luca mandou, e queria entregar para eles. Então, telefonei para o pai e convidei, disse que ele não precisava se preocupar, se ele não quisesse levar as crianças bastava que a sua mulher viesse pegar as coisas, eu só queria conhecê-los. Veio a família toda. Primeiro a mulher e uma das crianças... Ela ficou com a gente, e me contou um monte de coisas, da vida, do problema da filha que tem hidrocefalia, tudo... Depois chegou o marido e a outra filha. Ali ficou evidente que não importa o que somos, aliás, importava que os nossos corações esperam a mesma coisa. Ela ao sair nos agradeceu muito por tudo, mas ela repetia sempre mais, “obrigada pela simpatia de vocês, pela atenção”. E o homem, quando abriu a sacola e viu os presentes que foram enviados para a ceia dele, ficou tão feliz, tão agradecido... Eu nem consigo expressar a cara que aquele homem fez... Mas eu me dou conta que isso também não é suficiente... Para eles não é suficiente que nós estejamos lá todo mês levando comida, ou promovendo um lanche, porque nós não podemos ser a resposta para eles. Se não levarmos esse olhar, o mesmo olhar com o qual fomos olhados, a caritativa não serviria de nada, porque o que importa nessa caritativa é levar o que temos de mais caro, de mais importante, de mais precioso. E definitivamente não era a comida, os presentes, nada! Mas era esse olhar. Como no texto da Escola de Comunidade fala do rei de Portugal que olhou diferente para aquele povo até dizer que era o rei. E quando penso naquelas perguntas iniciais, só consigo responder que são eles, são aquelas famílias, a minha família que faz caritativa todo o mês, e foram eles que foram solidários comigo indo até ali naquela manhã de domingo para que eu pudesse reconhecer Quem é que me faz e me completa todos os dias.
Luciana, Rio de Janeiro (RJ)
O VALOR DO DINHEIRO
Caro Carrón, sou mãe de três crianças pequenas e há muito tempo que não contribuía para o Fundo Comum do Movimento. Falando com alguns amigos, constatávamos como é difícil viver uma relação boa com o dinheiro, gratos pelo pouco ou muito que se tenha. Fazendo-me a pergunta de como educar os meus filhos a darem o justo valor ao dinheiro, perguntei-me: mas o que é que me educa? Pela primeira vez na minha vida, percebi a exigência profunda de contribuir para o Fundo Comum. Voltei para casa e decidi pagar todos os meses que tinha deixado em atraso.
Carta assinada
“ISTO É UM NOVO INÍCIO”
No fim de semana de 13 de outubro do ano passado, a comunidade de Queensland fez, pela primeira vez, os Exercícios da Fraternidade. Nós nos juntamos na ermida de Marian Valley, um mosteiro no meio de um bosque magnífico, cem quilômetros a sul de Brisbane. Éramos nove pessoas seguindo as lições, divididos em dois grupos porque nem todos sabíamos italiano. A recordação mais marcante que me ficou dos Exercícios foi a frase de Giussani lida por Carrón na tarde de sábado: “As certeza nascem do maravilhamento”. O maravilhamento de me reencontrar com velhos amigos (há dois meses que já não vivia mais em Queensland) e de fazer os Exercícios num lugar tão bonito, os testemunhos das pessoas presentes, tudo gritava a evidência de uma certeza. John, o responsável do Movimento na Austrália, vindo de Perth (que fica a 4000 quilômetros), contou-nos a história de quando apresentou a Dom Giussani, há vários anos, uma fotografia da comunidade da Austrália. Durante longos minutos, Giussani fixou a imagem sem dizer nada e depois, levantando os olhos, disse: “Isto é um novo início”. Nós, na Austrália, estamos longe do coração do Movimento, em um país onde é fácil esquecer que o maravilhamento é um sinal. Agradeço aos meus amigos de Brisbane, e aos que na Itália têm paciência de fazer Escola de Comunidade comigo através do skype, por continuar a fascinar-me por meio dos seus testemunhos, que reforçam a certeza da minha fé.
Brian, Newcastle (Austrália)
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón