ESSA PLENITUDE É A ÚNICA COISA QUE DESEJO PARA MIM
Caríssimo Julián, seu artigo no La Repubblica sobre a renúncia do Santo Padre fez-me repercorrer minhas sensações e os passos que dei depois do anúncio. No início, silêncio, espanto. Depois, fui atrás de confirmação. Então, chegou o seu comunicado, e me pareceu perder o fôlego. Como se eu dissesse: para mim, parece impossível, mas é um gesto grande e positivo. Carrón também disse isso... Mas, evidentemente, era uma gaze colocada para esconder a ferida, eu estava reduzindo os fatos. Tanto é verdade que na manhã seguinte acordei triste. No trabalho, falei aos meus amigos sobre esse sentimento e como eu me dava conta de que as coisas não podiam se reduzir só àquilo. Durante uma pausa, reli o comunicado. Essas palavras me tocaram: “O Papa nos testemunha uma tal plenitude no relacionamento com Cristo”. Animado, imprimi o comunicado e fui à minha amiga Manu para dizer: estou começando a entender, eu estava eliminando exatamente este aspecto, o relacionamento imponente e único do Papa com Cristo! Na manhã seguinte, Manu me disse: “Ontem, quase não escutei o que você disse, mas depois me lembrei das suas palavras, e entendi que a única coisa que realmente desejo para mim é essa plenitude de relacionamento, e isso começou a me fazer ver de modo diferente uma situação de trabalho que estava me fechando e que agora posso enfrentar com liberdade, porque é Ele o que realmente desejo”. Fazer o percurso até o fundo é a coisa mais verdadeira e conveniente.
Mauro
A FESTA, A “BALADA” E UMA PERGUNTA QUE REABRE TUDO
Caro Carrón, lendo o texto dos Exercícios de Rímini, me tocou aquilo que você disse sobre a companhia como lugar onde a promessa de Cristo se manifesta. Fez-me repensar em como a minha vida foi radicalmente mudada depois do encontro com certos “rostos” na universidade. Sem esses rostos, não teria nem mesmo podido começar a esperar, não teria podido começar a viver. Há três anos, moro fora da Itália por causa do doutorado. Primeiro morei na Bélgica e agora, há quatro meses, estou na Alemanha, longe dos meus primeiros amigos. Onde estou não existem outros universitários de CL, mas apenas três famílias do Movimento às quais, todavia, não vejo frequentemente. Passo a maior parte dos meus dias com meus colegas, a maioria ateus, e com os que moram comigo. Porém, nunca me sinto realmente sozinha. Há momentos de solidão, e às vezes fico oito horas sem falar com ninguém, a não ser com o caixa do bar. Porém, o sentimento que domina lá no fundo não é de solidão, mas de companhia constante. De fato, tudo o que tenho em minha volta pode me chamar à verdade de mim. Por exemplo, no apartamento (somos cinco e ninguém é católico, exceto eu) começamos a jantar juntos com mais frequência, e nós mesmos cozinhamos. Por quê? Porque é mais bonito, eles dizem. E eles são mais entusiasmados do que eu. Se paro para pensar, eles são sinal, para mim, do fato de que eu sou feita para compartilhar, do jantar à vida inteira. E quando olho para meus colegas de casa, embora muitas vezes sejam artificiais (e quem não é?), vejo que me foram dados, eu não os escolhi e, no entanto, estão ali comigo, lembrando-me, a seu modo, para o quê sou feita. Na sexta-feira à noite, organizamos em casa uma festa de aniversário e algumas pessoas, embriagadas, começaram a se comportar como animais. Fiquei muito irritada e desconcertada. Falando com um rapaz (um dos poucos sóbrios), a um certo ponto, me interrompe e pergunta: “Você está triste, não é? Você não é como eles!”. O que eu poderia dizer, senão o motivo pelo qual estava triste e, assim, fazer memória da razão da minha “diversidade”? Provavelmente, eu viveria como todos aqueles jovens bêbados. No entanto, aconteceu algo que me mudou e que me permite olhar cada momento da minha vida como uma ocasião e não como um obstáculo para ser tolerado enquanto a “balada” do final de semana não chega. Em suma, até naquela circunstância por si só pouco fascinante, fui quase obrigada, a partir de uma simples observação (“Você está triste!”), a fazer memória daquela Presença que não me abandona, mesmo quando não tenho rostos amigos ao meu redor. E se faz presente através de sinais que me levam a reconhecer a mudança que aconteceu em minha vida. Essa mudança, embora tenha passado por certos rostos, não se reduz a esses rostos, mas continua a acontecer através de novas pessoas e novos amigos que me apoiam e ajudam em meu caminho. É cada vez mais claro que em qualquer lugar que eu vá (Bélgica, Alemanha, Estados Unidos) não me falta mais nada, e tenho muitos instrumentos e sinais para continuar a reconhecer Cristo. E essa é a única coisa que realmente me liberta.
Eleonora, Düsseldorf (Alemanha)
A MESMA COISA, A 15 MIL QUILÔMETROS DE CASA
Domingo, estava na missa com minha tia, e ela me apresentou um rapaz que trabalha como engenheiro em uma grande companhia perguntando se eu poderia fazer um estágio em seu escritório. Almoçamos juntos e pudemos nos conhecer melhor. Ele me convidou para tomar uma cerveja com seus amigos no Pineapple Hotel, no dia seguinte. Quando veio me buscar, vestia uma camiseta onde estava escrito “Frassati Austrália”, e quando li isso, comecei a lhe fazer perguntas. Lá, eles se encontram praticamente uma vez por mês para jantar e fazer uma assembleia. Assim que cheguei, fui apresentado a todas as pessoas, entre elas alguns padres que trabalharam em Roma. Depois do jantar, nos dirigimos ao salão para a assembleia (the talk, como eles dizem). O encontro começou com um belíssimo canto e depois rezamos juntos a Salve Rainha. A um certo ponto, foi até o microfone uma pessoa que falou da sua conversão e do seu encontro com o cristianismo. O que mais me impressionou foi o seu olhar absolutamente inconfundível. O que eu não conseguia entender do seu inglês, entendia através do seu olhar e da sua expressão. Fiquei comovido em ver como a mesma coisa que vivi e que vivo na experiência do cristianismo dentro do Movimento, uma experiência que corresponde ao meu coração, estivesse acontecendo a 15 mil quilômetros de distância com a mesma intensidade e com os mesmos traços inconfundíveis, fazendo-me ver e tocar com a mão como não somos nós que a geramos, mas que é realmente iniciativa de um outro. Estive várias vezes na Austrália, e em todas as ocasiões nunca tinha tido a oportunidade de participar de um encontro do gênero, e sempre achei (com um evidente preconceito) que era um país onde era impossível viver uma experiência como a que eu experimentava na Itália. Não posso reduzir o simples fato de ter conhecido essas pessoas e de ter estado com elas (e de continuar a encontrá-las) a uma casualidade. No dia seguinte, lendo o livreto dos Exercícios dos universitários me deparei com isto: “Então, o sinal mais evidente, o traço mais inconfundível da contemporaneidade de Cristo é que eu experimento uma correspondência às exigências do coração que me parecia impossível, uma realidade diferente – excepcional – exatamente porque me corresponde. Este é o sinal mais irrefutável, mais indiscutível de todos, porque é o que mais desejávamos, mas é também o mais imprevisto”.
Matteo, Brisbane (Austrália)
AGORA ENTENDO A ESCOLHA EM RELAÇÃO AO VOTO (E A MIM)
Fizemos um encontro no Colégio Portofranco para trabalhar a Nota de CL sobre as eleições. Fui pretendendo ter algum indício sobre qual o programa melhor para votar. Porém, ninguém falou de programas nem de qual candidato era o melhor ou menos danoso. Assim, saí de lá um pouco confuso. Alguns dias depois, Giorgio Vittadini veio nos encontrar para falar sobre a escolha do curso universitário e disse duas coisas. A primeira, é que é preciso partir do próprio desejo, a segunda é que o tempo nos é dado e que se for usado com inteligência, nos ajudará a entender o que mais corresponde a esse desejo. O mês seguinte foi marcado pela busca de aprofundamento e esclarecimento tanto sobre as eleições quanto sobre a escolha da universidade. O desafio foi interessante porque a realidade respondeu. Comecei a ter uma postura de busca e de verificação em relação a todas as coisas que me preocupam. O efeito disso foi que me apaixonei muito pelo que faço e pela escola, e até as matérias das quais nunca esperei muita coisa, se tornaram mais interessantes. Agora entendi um pouco mais porque o Movimento não nos disse em quem votar. Se tivesse recebido a resposta pronta não teria feito as descobertas que fiz.
Giovanni, Milão (Itália)
A CAMINHO DE EMAÚS
Este baixo-relevo conservado no claustro do mosteiro beneditino de São Domenico de Silos, no coração da Castilha, Espanha, é uma obra que fala por si só. Dois discípulos que se encaminham para Emaús encontram um peregrino e o convidam para passar a noite ali. O primeiro, provavelmente Cleofa, com o dedo levantado (hoje danificado) indica o céu que está ficando escuro e em sua boca podemos imaginar as palavras do Evangelho: “Fique conosco porque a noite cai e o dia está terminando”. O segundo, ao contrário, segura um livro que parece um dos códigos manuscritos que eram meditados no mosteiro, referência ao sentido das escrituras que o peregrino revelou ao longo do caminho. Podemos entender que o convite para ficar com eles foi aceito pela posição dos pés do peregrino-Jesus (que, no detalhe da imagem usada no Cartaz não aparecem): um dos dois, de fato, está virado para trás. Jesus usa roupas estranhas. O traje é real, enquanto o gorro tem o formato das coroas usadas pelos imperadores bizantinos; o manto é rico e bordado com pérolas. Mas Jesus também tem os símbolos do peregrino: a bolsa tem uma concha como fecho, e é enriquecida com uma tira com cinco conchas. O Jesus de Silos é rei, mas também peregrino. O baixo-relevo de Silos é contemporâneo ao surgimento do fenômeno de Santiago de Compostela. O mosteiro não estava na rota da peregrinação, mas é provável que a fama dos milagres acontecidos no túmulo de seu fundador atraísse muitos fiéis. O baixo-relevo, que data da metade do século XII, está sobre pilastras no lado do claustro e tem dimensões excepcionais para a época. Essas figuras, originalmente, eram coloridas: ainda mais preciosas e plenas de uma força de identificação.
(de Giuseppe Frangi)
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