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Passos N.103, Abril 2009

RUBRICA

Cartas

UM FINAL DE
SEMANA INTENSO

Caros amigos, nos dias 06, 07 e 08 de março, eu e mais 23 amigos do Rio de Janeiro fizemos uma bela experiência de encontro com os amigos da Associação dos Trabalhadores Sem Terra, guiada por Cleuza e Marcos Zerbini. Desde a saída do Rio, já experimentávamos o cumprimento de uma promessa. A alegria, a harmonia, as brincadeiras, as conversas, o desejo de abertura a aderir àquilo que o Senhor preparava para nós foi a tônica da nossa viagem. Chegamos às três da madrugada, e nossos amigos Cleuza e Marcos nos esperavam. O final de semana foi intenso: muitas reuniões, que nos faziam tocar o manto de Cristo. Pessoas mudadas, testemunhando a grandeza da experiência de acolhida que faziam, comparando suas vidas com as palavras que Carrón nos dissera no encontro do Ibirapuera. Muitos dos que compareceram àquelas reuniões de final de semana não tinham ido ao Ibirapuera, mas faziam das palavras de Carrón carne da sua carne. Depois, a visita a uma das áreas já habitadas. Um bairro organizado, bonito, cheio de vida. Lá, uma só jovem, de apenas 24 anos, compartilha seu conhecimento e seu talento dando aulas de balé a cerca de 800 crianças. Fomos presenteados com um verdadeiro show apresentado por algumas daquelas meninas e sua graciosa professora. De tantos testemunhos, o de Marlene me impressionou particularmente, pela simplicidade de reconhecer e afirmar um fato: “Diante de tudo que a Cleuza e o Marcos, juntamente com os coordenadores da Associação, conquistaram e continuam conquistando, faz-se notória a evidência de que o próprio Jesus Cristo caminha no meio deles de maneira autêntica e concreta, pois por mais bondosos, legais, carismáticos e tantas outras qualidades que lhes são próprias, jamais seriam capazes de realizarem o grande feito de proporcionarem, para inúmeras pessoas, um lar e uma faculdade, se esse grande acontecimento não fosse realizado pelo próprio Cristo, através da Cleuza e de seus colaboradores que, diariamente, repetem seu SIM”. De volta para casa, guardava a alegria de ter tocado as vestes do Senhor e, no coração, uma inveja santa de meus amigos de São Paulo: como eu gostaria de estar mais perto, para poder ficar aos pés de Cristo, como Maria, irmã de Marta, e poder servi-Lo, servindo aos meus amigos da Associação naquilo que eles me solicitassem. Gostaria de poder compartilhar os meus pequenos conhecimentos com aqueles jovens que têm muitas lacunas em suas formações básicas, mas que têm um coração que grita pela verdade, pela justiça e pela beleza que só Cristo é. A visita à Associação escancarou o meu coração e o de todos os amigos com quem viajei. De volta à casa, o maravilhamento se evidenciava pelo desejo de contar tudo o que o Senhor fez para nós. Em mim, o desejo de seguir ao Carrón mais e mais, que começa abrindo olhos e coração para acolher o seu chamado de atenção a olharmos o que o Senhor está fazendo acontecer entre nós.
Valéria, Rio de Janeiro – RJ

RECONHECER CRISTO
NA AUSTRÁLIA

Caríssimo padre Carrón, escrevo da Austrália, onde moro há quatro anos e para onde acabei de voltar depois de passar férias na Itália com meu marido e minha filha. Nessas férias, vivi momentos de grande intensidade com as nossas famílias e nossos amigos. Assim, quando voltei, perguntei-me novamente (como aconteceu quando me mudei para cá): o que estou fazendo aqui? Vi-me naquela rotina de sempre, a casa para arrumar, cuidar de Alessia etc... Esta manhã, tendo acordado cedo por causa do fuso horário, abri Passos e, lendo os belíssimos testemunhos do Meeting de Rímini, meus olhos abriram-se novamente: é Cristo que me pede para reconhecê-Lo na minha nova casa na Austrália, foi Ele quem me confiou a tarefa de compartilhar com os amigos australianos a alegria encontrada na Itália, foi Ele quem me deu a companhia do meu marido e de minha filha e me conduziu até aqui para vivê-la plenamente por meio dos rostos dos novos amigos. Então, com este olhar, a educação de Alessia e do bebê que carrego no ventre deixa de ser uma luta cotidiana para estabelecer limites e regras, passando a ser uma verdadeira companhia da qual aprender um olhar de simplicidade e maravilha diante do mundo, acompanhando-os em seu caminho para o Destino. As tarefas da casa, o trabalho, os rostos das pessoas que encontramos são a realidade concreta pela qual Jesus me ama e me pede para amá-Lo, aqui e agora. E cada acontecimento, como a Jornada Mundial da Juventude, a Escola de Comunidade, são fatos densos de um Amor maior do que nós, não apenas “eventos para serem organizados”, já fechados e encerrados. A Austrália é a circunstância por meio da qual caminho em direção ao Destino. Com esse novo olhar sobre a vida, quero lhe agradecer pela paternidade com a qual abraça a cada um de nós, pelos meios mais absurdos e apesar dos quilômetros que nos separam.
Raffaela, Melbourne (Austrália)

UMA EXPERIÊNCIA
DE LIBERDADE

Em meados do ano passado, eu estava numa fase muito difícil porque, como havia me decepcionado com algumas pessoas e por ter deixado que isso determinasse a minha vida, não conseguia mais reconhecer Cristo pelos rostos dos meus amigos. Apesar disso, não deixei de frequentar as reuniões do grupo de Fraternidade e nem de Escola de Comunidade porque sabia, pela experiência que já havia feito antes, que não havia outro lugar em que eu pudesse encontrar a resposta para minhas perguntas e ser ajudada a encontrar Cristo novamente. Nessa mesma época, descobri que estava com câncer de mama e foi incrível como este acontecimento mudou a minha vida para melhor, porque, para mim, foi como se a realidade gritasse a presença de Cristo, como se o próprio Cristo me dissesse: “Ei, Flávia, estou aqui, sou Eu que te faço, te sustento, te dou a vida...”  e me senti amada e abraçada, novamente. Isso se demonstra pelos fatos que aconteceram e que acontecem na minha vida, desde que comecei o tratamento: por exemplo, meu amado Jorge, que é marido, pai, mãe, dono de casa, enfermeiro e ainda arruma tempo para trabalhar e faz isso tudo sem reclamar de nada; meus lindos e adorados filhos, Lucas e Letícia, que não deixam que se passe um dia sem que me abracem e digam que me amam; minhas queridas mãe, sogra e fraterna Adélia, que na época da quimioterapia deixavam suas casas e se revezavam para ficar comigo até eu melhorar; a atenção e o carinho dos amigos que não deixam de ligar ou de estar presentes; as orações dos familiares, dos amigos, dos conhecidos e até de pessoas que não me conhecem... Olhando para esses fatos, não posso deixar de agradecer a graça de ter a certeza de que Cristo me ama e que, graças a Sua infinita misericórdia, Ele nunca me abandonou e, seja qual for a vontade d’Ele, sou livre, sou feliz e estou em paz.
Flávia, Rio de Janeiro – RJ

COMBATER O “VÍRUS
DA CRISE!”

Caro padre Carrón, queremos agradecer-lhe pelo discurso na assembleia nacional da Companhia das Obras (CdO). Somos dois amigos do Movimento e trabalhamos juntos numa grande empresa. Em vinte anos nossa indústria teve um crescimento impressionante, até se tornar a líder mundial do setor. Mas o “vírus da crise” atingiu também a nós. Há cerca de três meses, a matriz pediu ao nosso superintendente que demitisse trinta empregados temporários, colegas de trabalho que compartilhavam conosco os momentos de diversão no bar, a partida de futebol, o sofrimento pela doença de um familiar, etc. Diante de uma ordem como essa, não podemos ficar indiferentes. Aos poucos, foi crescendo entre nós a exigência de dar uma resposta à provocação: “O que adianta ganhar o mundo inteiro, se depois você perde a si mesmo?”. E também nos perguntamos: “O que é que temos de mais precioso: nossa carreira, os prêmios, as férias ou a nossa humanidade?”. Assim, depois de várias negociações com a diretoria, propusemos que – para não mandar embora os trinta temporários – nós faríamos um dia de folga por semana, nos próximos quatro meses. Isso causou muita discussão, mas a nossa proposta foi aceita, graças também à disposição e à sensibilidade do grupo dirigente. É verdade o que você disse: que a crise é um teste para a educação que estamos recebendo, isto é, se de fato a fé é uma contribuição para se enfrentar a vida. Só se levarmos a sério a nossa humanidade e o destino dela, nos apaixonamos pelo outro ao ponto de compartilhar com ele o significado da vida. Assim, além da Escola de Comunidade que nós dois fazemos no local de trabalho, uma vez por semana, lemos várias vezes – junto com os colegas de turno, durante uma pausa no trabalho – o texto da CdO, que está no site de Passos. Isso aconteceu com uma simplicidade impressionante, seja porque todos estavam vestidos com o uniforme de trabalho, seja porque era visível, nos olhares deles, a admiração pela excepcionalidade do que estava acontecendo entre nós, o que levou um deles a exclamar: “É verdade mesmo!”; e outro: “Com uma atitude dessas, até trabalhamos menos irritados!”.
Tonino, Antonio e todo o turno de trabalho, Áscoli Piceno – Itália

VIVACIDADE
NAS FÉRIAS

Muitas vezes, na experiência de Novos Alagados, quando as obras entram de férias, fica um período de dispersão. Porém, este ano não foi assim. Com a realidade da Igreja Jesus Cristo Ressuscitado e a presença de padre Inácio, os colegiais tinham um ponto de encontro e o aproveitaram bem. Viveram um tempo intenso de amizade entre eles. O fato de poder ficar conversando depois da missa, marcando para ir assistir a um filme na casa de um ou ouvir música na casa de outro, tudo isso os atraiu. Depois, de 06 a 08 de fevereiro realizamos nossas férias locais. Mas, como disseram os próprios meninos, as férias começaram bem antes! Um casal de São Paulo, Pedro e Miriam, estavam na cidade com as duas filhas: Madalena e Isabel. Eles foram conhecer a Igreja nova e Madalena, que é colegial, logo se entrosou naquele grupinho alegre e espontâneo. Foi ela quem deu a ideia para os meninos venderem lanches após as missas para angariar dinheiro. Ninguém tinha como pagar os R$ 60,00 da viagem e sabiam que poderiam conseguir somente uma parte. Então, a semana que antecedeu as férias foi muito movimentada. Padre Inácio anunciou que haveria a venda e descobrimos que as pessoas simpatizaram muito com a proposta e quiseram ajudar comprando os doces e salgados, se oferecendo para cozinhar para nós nas férias, falando das férias para algum parente... Chamou-me a atenção a fidelidade com que os meninos viveram aquela iniciativa, não faltando a nenhum dia. Na hora das inscrições, todos conseguiram pagar a taxa e, enfim, chegaram os dias das férias, que foram em Jauá, a 14 km de Salvador, litoral norte. Ficamos numa casa grande e simples, “feita para nós”. Ali, o Movimento já viveu muitas férias dos universitários, na década de 1990. Estávamos entre as dunas e o mar. O tema foi: “A verdadeira obediência é uma amizade”. Tudo foi muito interessante e cheio de graça. Os meninos puxaram as brincadeiras, os cantos, fizeram a escala das tarefas domésticas (cozinhamos e limpamos para diminuir os gastos com hospedagem). Padre Inácio arriscou, nos dois breves momentos de palestra, propor 15 minutos de silêncio para um trabalho pessoal. No seu jeito simples e educativo fazia a meninada pensar: “o que eu busquei vindo para essas férias? Como foi, para mim, tentar ficar diante da pessoa que me quer bem e me aponta o destino?”. O momento mais agudo dos três dias foi sem dúvida a assembleia. Era comovente ouvi-los falar. Os meninos estavam dando crédito às suas próprias experiências e não eram em nada repetitivos, mas sim originais. Dava para ver que tinham apostado ficar diante da realidade, verificando a experiência feita. Um deles falou: “diante do pôr do sol e da beleza de cantarmos juntos, fica mais fácil perceber a presença de Cristo”. Outra: “Eu não tive inveja de ver o empenho dos meus amigos, senti sim admiração”. Outra: “Nós fazemos parte de uma corda que dura para sempre. A Lorena me puxou e agora eu puxei Lisandra”. Senti-me desafiada a continuar a aventura da minha vida, enfrentando situações difíceis no trabalho, percebendo os escorregões que dou por impaciência ou resistência. Não importa isso, importa o olhar fixo nos fatos e nas pessoas que continuam nos comovendo. Ver os meninos crescendo e dando passos confirma que vale a pena o trabalho no Centro Educativo, mas não basta se não lhes faz conhecer Cristo.
Regina, Salvador – BA

AS CIRCUNSTÂNCIAS
QUE O MISTÉRIO USA

Caro padre Carrón, nos últimos dias foi inevitável falar de Eluana e do que está acontecendo com os colegas e, em especial, com a minha colega Silvana, que vive mais ou menos a mesma situação do pai de Eluana. A sua filha Valentina tem nove anos de idade e não caminha, não enxerga e não fala. Sexta-feira passada, durante um denso diálogo, ela me disse: “Eu sei como é duro viver uma circunstância como essa; as pessoas não são capazes nem de imaginar. Posso entender o sofrimento desse pai, mas o sorriso de minha filha, esta manhã, vale mais do que qualquer coisa; é como se, num instante, deixasse para trás todos os sofrimentos passados nos últimos anos”. Um famoso hospital de Turim lhe pediu para ir lá dar um testemunho, e eu lhe disse: “Silvana, as pessoas precisam saber que você é feliz, que a sua filha é um dom”. Ela acrescentou: “Mas, veja que eu não teria conseguido nada se não tivesse ao lado pessoas como você, que me ajudam até mesmo com um simples sorriso”. E eu: “De qualquer modo, se não houvesse Valentina, você não teria essa humanidade (que é uma coisa que ela mesma diz com todas as letras: sua filha mudou a vida dela, sob todos os aspectos), você não seria o que é hoje, e nem eu seria a mesma. Como Deus é grande, pois, pela Valentina, nos faz enxergar as coisas e nos transforma!”. E a minha ajuda no relacionamento com ela se dá simplesmente pelo fato de estar lá, ouvi-la, estar com ela todos os dias, ajudando no que for preciso; e isso não é nenhum sacrifício para mim. Aliás, tudo faz parte de uma grande amizade, por isso a relação com ela é, para mim, de grande utilidade. Há apenas um ano conheci Silvana, e a dor dela me parecia grande demais, sua condição dramática me levava a perguntar a Deus, todos os dias, o porquê, mas eu ficava perturbada sobretudo porque não encontrava uma resposta clara. Agora, essa circunstância não mais me mete medo, mas desperta em mim ternura e certeza, e me parece que cria de fato uma possibilidade para mim, uma circunstância usada pelo Mistério para se fazer presente a nós e para que O encontremos de um modo mais poderoso.
Elisabeta, Turim – Itália

O infinito numa caixa (ou melhor, em três)
Dia 14 de fevereiro – como voluntários do Banco Farmacêutico –, pedimos às pessoas que comprassem um tipo de remédio para doar a quem o necessitasse. Alguns compraram mais de um produto, como um casal de jovens que comprou três. As caixas custavam até trinta reais, e tinham o valor infinito e insubstituível da gratuidade, uma coisa que comove e enche o nosso coração, toda vez que a vemos materializar-se num gesto. Nós não sabemos para quem serão doados os remédios, sabemos apenas que fazem parte de um único gesto amoroso. E nós nos comovemos ao pensar naquele que será ajudado e que – pobre verdadeiro – talvez confirme o que diz Pär Lagerkvist: “Um desconhecido é meu amigo, alguém que eu sequer conheço...”.
Clara, Fiorela, Chiara e outros amigos, Milão – Itália

Apoio à distância
Começamos há quatro anos, propondo o apoio à distância da AVSI, na Escola de Comunidade da nossa empresa, a Eni. Foi o nosso modo de fazer as Tendas de Natal. Muitos de nós envolveram os colegas de várias maneiras: uns escrevendo cartas, outros fazendo a proposta durante o almoço, outros ainda pelo e-mail. Muita gente aderiu, de modo que, já no primeiro ano, os apoios chegaram a uma dezena. Agora são dezoito; os colegas que participam são cerca de cem. Dezoito apoios significam dezoito histórias, uma diferente da outra. Histórias de crianças que são ajudadas pela nossa ação e histórias de relacionamento com os colegas que certamente mudam e, muitas vezes, se tornam mais profundos. A proposta, no início, com certeza surpreendeu os nossos colegas. Nem todos aderiram, mas esse convite suscitou a pergunta sobre por que participar desse tipo de coisa. E cada um de nós respondeu contando a própria motivação. Entendemos que Jesus é o bem maior que possuímos e que nós desejamos revê-Lo em ação naquilo que fazemos. E as Tendas são uma ocasião privilegiada.
Paolo e a Comunidade da Eni, Milão – Itália

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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