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Passos N.148, Maio 2013

RUBRICAS

As cartas

“MAS QUEM SOU EU PARA REDUZIR O OUTRO AOS SEUS ERROS?”
Caro Carrón, tenho 16 anos. Tinha um relacionamento muito bonito com uma colega de classe, depois as coisas mudaram. Por vários motivos, fiquei profundamente irritada e desiludida com as atitudes dela, e estava convencida de que ela deveria vir me pedir desculpas. Essa situação se arrastou por dois meses, mas eu não estava contente: sentia raiva, desilusão e amargura. Estava com tanta raiva que, para mim, ela não existia mais. De manhã, não nos cumprimentávamos, todas as vezes que a via, me sentia incomodada. Mas quando ia à missa, dizia: “Senhor, mostre-me o caminho justo, porque só Tu sabes o que é melhor para mim e para ela”. Sábado, depois da escola, cheguei em casa chorando. Olhei para o livrinho dos Exercícios do CLU e disse a mim mesma: “Não consigo ficar assim, espero que isso possa me ajudar”. Comecei a lê-lo. A um certo ponto, o texto diz: “Mas quem sou eu para reduzir o outro aos seus erros quando ninguém me olha assim? Se Jesus não nos olha a partir dos nossos erros, por que nós deveríamos fazer isso?”. Senti um tremor tão profundo no coração que me fez pegar o telefone, ligar para essa amiga e pedir desculpas pelo modo como a olhava, senti a necessidade de compartilhar com ela a beleza daquilo que tinha me acontecido, então, li a frase para ela. A coisa surpreendente foi que ela também estava sentindo um incômodo como o meu, mas não sabia como retomar. Agora, somos mais amigas do que antes e mais leais, porque descobrimos que só um Outro nos permite ser assim.
Giulia

UMA DESCOBERTA NOVA: O TRABALHO NO TRABALHO
Um pouco como todos, fiquei chocada com a notícia da renúncia do Papa. Enquanto os dias passavam, eu não conseguia dormir à noite pensando no que tinha acontecido. Devo admitir que o desconcerto inicial deu lugar quase imediatamente a uma grande pergunta, especialmente porque quando ouvia comentários de mau gosto dos meus colegas, eu reagia como se estivessem atacando meu pai. Então, nasceu em mim a pergunta: por que essa notícia me chocou tanto, quem é esse homem para mim? Então, comecei a ler algumas coisas que Bento XVI escreveu. Reli os discursos que me marcaram no passado e que, consequentemente, marcaram minhas escolhas no presente. Acompanhei seus últimos Angelus. E diante daquele ancião que não se descompunha diante de uma multidão de 150 mil fieis, fiquei comovida ao pensar no ato de amor que estava realizando. Sinto este homem tão próximo porque o que ele fez nestes anos foi mostrar não a si mesmo, mas sua humanidade mudada pela presença de Cristo operante em sua vida. É isso que o torna tão fascinante, tão pai a ponto de me levar a dizer: quero segui-lo porque quero essa liberdade para mim. O segundo evento, poderia ser definido como o trabalho no trabalho. De um mês para cá meu trabalho tornou-se realmente entusiasmante. Depois de um ano enfrentando dificuldades e muitas vezes tendo vontade de ir embora, finalmente neste mês vi como em um ambiente insólito como o empresarial é possível aprender tanto para a vida. A mudança dos últimos tempos também deveu-se à possibilidade de trabalhar junto com uma jovem que me fez ver uma maneira nova e diferente de estar no ambiente de trabalho, com uma vitalidade e um desejo evidente a todos na empresa. De modo particular, fiquei comovida pelo fato de ela, nestes meses, se preocupar também com a minha formação profissional quando todos os outros estavam interessados, no máximo, na minha sobrevivência. O relacionamento com ela cresceu também fora do trabalho, compartilhando algumas paixões em comum. Domingo passado fui jantar na casa dela e voltei para casa ainda mais comovida, agradecendo pela amizade que o Senhor estava me doando. No dia seguinte, cheguei no trabalho e pensei: o que me torna feliz, aqui e agora? Simplesmente a proximidade de uma pessoa tão humana? E se agora ela me fosse tirada? Naquela mesma tarde fiquei sabendo através do meu chefe que essa moça tinha sido promovida e transferida para outro departamento. Depois das primeiras horas, em que me senti um pouco traída, disse a mim mesma: caramba, como o Senhor me leva a sério, faço a pergunta de manhã e à tarde me coloca numa bandeja de prata a ocasião para verificá-la. Falando com meu chefe, fiquei comovida pelo modo como ele me colocou a questão entendendo realmente o que tinha me tocado na maneira de trabalhar daquela moça, que pode permanecer mesmo ela não estando mais perto de mim. Hoje, poder trabalhar com este desafio em mente, muda os dias que começo com grande ceticismo. Assim, continuo o meu trabalho no trabalho, ainda mais certa de que tudo é feito para mim e para o meu bem.
Maristela, Dublim (Irlanda)

A PERGUNTA QUE DÁ GOSTO ÀQUILO QUE ACONTECE NA VIDA
Oi Julián, no lugar onde trabalho estou aprendendo muito e é realmente verdade que a primeira atividade, tanto na empresa como trabalhando na minha tese que pouco a pouco vai tomando forma, é antes de mais nada uma passividade: olhar, seguir, deixar-se tocar por aquilo que acontece, perguntar, deixar-se questionar por aquilo que alguns diretores dizem. Porém, sem renunciar a ser eu mesmo! Estou me dando conta de que a coisa vitoriosa que posso oferecer a eles, agora que ainda tenho um pouco de dificuldade com o inglês, é só uma: o método e a concepção cristã dos quais fiz experiência na universidade Católica, e que não posso mais deixar de lado. Isso significa um certo modo de ler os documentos da empresa, de fazer as entrevistas para a tese, de ir aos encontros... Tudo é permeado por algumas perguntas que para mim se tornaram carnais através do trabalho de Escola de Comunidade: do quê se trata? O que me interessa? Qual é o objetivo último? Os diretores ficaram impressionados com o modo como me coloco e me jogo em algumas reuniões, e com certas perguntas que faço. Na empresa, os funcionários não fazem pausa para o almoço, mas cada um come seu pãozinho diante do computador. Eu, ao contrário, como na cozinha. Dia após dia, alguns funcionários começaram a me perguntar: “O que você está fazendo?”. “Comendo!”. “Podemos comer com você?”. E, assim, primeiro dois, depois três, agora somos cinco funcionários comendo juntos durante 15 minutos (impensável para o americano). Há dois dias, também juntou-se a nós o meu diretor. Na empresa, entre os 200 funcionários, só dois são católicos: eu e o Presidente (não sei se realmente acredita, mas pelo menos é simpatizante). Todos os dias, ele me chamava ao seu escritório para me perguntar se tinha novidades sobre o Conclave e qual era o meu juízo. Pouco a pouco, os outros diretores também começaram a fazer isso. E começamos a ter discussões muito interessantes, por exemplo, nos nossos almoços na cozinha. Em suma, o nível profissional é altíssimo, mas nisso tudo emerge o ponto que estou olhando: tudo isto, se não tem a ver com a pergunta “Cristo, como posso te responder hoje? O que queres de mim?”, perde o gosto. Então, mesmo que sejam coisas muito bonitas, perdem o valor, deixam de ter sabor. E a saudade de casa, de Chiara, de alguns amigos prevalece fazendo a cabeça ficar em outro lugar. Essa pergunta, essa espera sem fim do meu coração é constantemente mantida acesa pelas Laudes e Completas (que nunca rezei na Itália), pela necessidade física de fazer Escola de Comunidade. Um trabalho que me abre àquilo que acontece na realidade e me ajuda a ir fundo nas coisas. Porque estou me dando conta de que eu preciso responder a Ele a cada dia, preciso que a minha vida seja grande, e é grande se é oferecida, se é serviço pela obra de um Outro.
Marco, Boston (USA)

UM LUGAR PARA AMADURECER A FÉ
Eu já tinha uma caminhada na Igreja e uma forte amizade com Marcinha que sempre me convidava para ir à Escola de Comunidade e outros encontros de Comunhão e Libertação, mas eu sempre tinha algum imprevisto que me fazia não priorizar este momento. Porém, ela começou a me chamar para outros encontros como o passeio de escuna, retiros e almoço com a fraternidade dela. Participando desses eventos, observei a forte amizade entre as pessoas e aos poucos fui conhecendo a proposta de CL, o que despertou a vontade de participar da Escola de Comunidade. Neste primeiro ano de encontro com o Movimento, tenho amadurecido a minha relação com Cristo e percebido que toda circunstância que me é dada é um forte sinal da presença d’Ele, uma resposta para as minhas dúvidas, angústias e medos. Observo, assim, que é uma forma que Cristo encontrou para me educar. Depois de poucos meses frequentando as reuniões, recebo um telefonema de Marcinha querendo combinar comigo um melhor momento para jantarmos na casa de Otoney, juntamente com Mariana e Adriana (minhas amigas que começaram a participar do Movimento também). A partir daquele encontro pude aprofundar mais qual era a proposta do Movimento e conhecer a experiência que Otoney e Miriã tiveram ao encontrar o mesmo. Também partilhei com eles o que me movia a conhecer cada dia mais o Movimento. Outra experiência que me marcou foi a Coleta de Alimentos. Eu já tinha decidido participar como voluntária e fui surpreendida com um telefonema de Núbia que me convidou para ser vice-coordenadora de um dos mercados. “Você aceita?” Respondi: Mas como se nem sei bem o que é a Coleta?” E ela disse: “Se você topar depois te explico”. Aceitei mesmo preocupada, porque entendi que era mais um chamado de Cristo para mim nessa companhia. Na Coleta pude fazer uma maravilhosa experiência e perceber que não era apenas um gesto de caridade, pois fui muito correspondida. Também foi ocasião para conhecer Quislon e partilhar com ele essa nova experiência, pois entendo que este é um caminho também para ele. Além disso, depois deste gesto fiquei mais próxima de Silvana e de Núbia. Quando recebi o convite para a assembleia de abril, fiquei tocada mais uma vez com a frase de Carrón no convite: “Encoraja-me pensar em vocês maravilhados quando descobrem emergir em vocês o desejo de felicidade, rumo a um horizonte ilimitado para além de toda e qualquer aparência. Tudo muda, menos isso. Que a vitória sobre a confusão que ninguém, nem mesmo nós, pode impedir”. E tentando responder a pergunta sobre o cap. VII de Na origem da pretensão cristã: “O que você identifica na sua vida das coisas ditas no texto?”, identifiquei-me com o trecho da primeira página. “... Quanto mais alguém compartilha a vida de uma pessoa, mais é capaz de ter uma certeza moral a seu respeito, porque os indícios se multiplicam”... Isto foi o que aconteceu com os discípulos no relacionamento com Jesus e é o que venho experimentando com o Movimento, com o maravilhamento em perceber Cristo através das circunstâncias que me são dadas. O caminho que estou fazendo, em especial nas Escolas de Comunidade às terças-feiras – que têm sido sempre um acontecimento, no modo divino que Otoney e padre Ignazio têm conduzido e também nos testemunhos das pessoas –, me permite enxergar que minha busca só é preenchida com a “Presença de Cristo Vivo” numa companhia. Entendo que ninguém poderá preencher esse vazio, essa angústia, e essa espera é a certeza de que só Cristo me basta! Começo a entender o que é dar razão da fé, o que é ter autoconsciência e compreender principalmente que o outro é um sinal forte e verdadeiro de Cristo, pois o outro me dá a certeza de que Cristo chega para modificar a minha forma de ver as coisas, e através desta percepção mudo a minha forma de olhar as circunstâncias e consequentemente surge uma nova maneira de caminhar. A partir disso posso compreender melhor o mandamento: “Amar o próximo como a mim mesmo”, pois algo se transformou em mim. Participando de CL tenho experimentado que quando meu coração fica aberto para Cristo, O reconheço nos sinais das circunstâncias e o vazio começa a ser preenchido de modo que meu coração transborda de felicidade, serenidade e paz, mesmo nos momentos difíceis. Tenho percebido que a serenidade, a sabedoria e a certeza de não caminhar sozinha estão alicerçando cada dia mais a minha vida. Esta é a razão da minha alegria, da minha vivacidade, do meu sorriso e da minha paz, porque sei que Cristo me responde e um pouco, já posso dizer como São Paulo: “já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. E, por isso, a cada dia quero experimentar mais desta certeza e por isso expressei meu desejo de ir aos Exercícios da Fraternidade e meu pedido foi aceito. Estou indo a São Paulo pelo desejo de amadurecer na mesma certeza dos discípulos, e entendo que o Movimento é o caminho escolhido por Cristo para mim.
Mara, Salvador (BA)

UMA AULA CHEIA DE NOVIDADE
Recentemente alguns dos meus alunos participaram comigo das férias dos Colegiais em Nashville, e o fruto destas férias começou a se manifestar no dia seguinte à nossa volta. Enquanto os alunos usavam seu tempo para estudar ou para ir ao clube, alguns jovens vieram à minha sala para discutir certas perguntas e alguns aspectos de suas vidas que emergiram nas férias. Convidaram-me para uma nova amizade. Perguntei-me: “Quem sou eu para eles virem a mim com essas perguntas?”. Não sabem que eu também me faço algumas de suas perguntas, porque é perguntando que estou me tornando mais livre para descobrir o mistério do meu coração. Naquele mesmo dia, a aula dos meus alunos do segundo ano me levou mais uma vez a reconhecer o Mistério. Alguns meninos, que normalmente fazem perguntas, muitas vezes relativas à aula, mas normalmente para distrair, começaram a perturbar. Continuei a aula com o resto da classe, e quando viram que suas perguntas desagradáveis eram ignoradas, os dois quiseram se juntar a nós. Quando a aula terminou, perguntei aos dois como gostariam de ser tratados: como crianças ou como alunos do colegial? Um veio falar comigo depois do sinal e me perguntou se eu gostaria de estudar com alguns deles.
Julie, Evansville (USA)

O ENCONTRO COM O HOMEM QUE NÃO TINHA MEDO
O departamento de Ginecologia do Hospital Santa Úrsula, de Bolonha, já voltou à normalidade. Mas aconteceu uma coisa. Até quinta-feira, 14 de março, alunos e professores encheram durante uma semana aqueles corredores: alguns estudantes de Medicina montaram a Mostra apresentada no último Meeting de Rímini: “O que é o homem para dele te lembrares?”, dedicada ao grande geneticista Jerome Lejeune, que descobriu a Síndrome de Down. Entre eles, está André, do quinto ano. Depois de ter feito um curso de Medicina Genética, leu o livro de Clara Lejeune, filha do cientista, e ficou impressionado com a vida desse homem. Com outros amigos, foi a Paris, para a abertura da causa da sua beatificação, e conheceu a filha. Depois, vai à Mostra no Meeting. Assim que a veem, ele e seus colegas decidem levá-la a Bolonha. A Mostra foi montada no departamento de Ginecologia e Obstetrícia de um hospital onde muitas gestações são interrompidas. Aqueles painéis contam a paixão de um homem pela vida, em um lugar onde normalmente se decide negá-la. “Uma noite, precisamos manter a Mostra aberta uma hora a mais”, contam: “Havia tanta gente que era impossível andar”. As dificuldades, assim como as surpresas, não faltaram. Pelo contrário, até o dia anterior, havia um clima tenso entre alguns médicos contrários à iniciativa. Depois, os estudantes foram falar com o diretor: “Quando descrevemos a Mostra ele se empolgou. No fim, veio visitá-la”. Embora no hospital muitos tentassem “evitar” a Mostra, muitos outros cederam à curiosidade. Muitas vezes, contagiados pelos outros. Como um professor de Urologia que pediu dois painéis para pendurar no consultório. Ou aquele de Farmacologia, que pesquisa sobre pílulas abortivas, e que enviou um e-mail aos jovens convidando-os para conversar. “Para mim, essa Mostra foi o encontro com alguém que nunca teve medo”, diz André: “Um verdadeiro cientista. Sacudiu-me da posição indiferente em que me encontrava e me disse: do que você ainda tem medo?”. O desafio destes dias, para eles, foi o de comunicar a todos o fascínio de quem “busca incansavelmente o por quê e o como daquilo que vê”, como disse Clara sobre o pai. Na profundidade desse olhar está toda a verdade do cientista e do homem. Por isso, a história de Lejeune não para de fascinar e de mover.
Lucia Bresolin

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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