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Passos N.149, Junho 2013

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A história

Posto Policial

Stefano aperta o botão. Poucos segundos e o rosto distorcido pela câmera de vídeo aparece no interfone de André: “Quem é? Stefano? Que surpresa”. “Cheguei de viagem há duas horas e passei...”. O amigo não o deixa terminar: “Fique aí! Vou descer e você me conta”. Eles se conhecem desde a infância. Depois que cresceram, perderam o contato. Então, inesperadamente, André conheceu alguns jovens de CL e os dois se reencontraram. Ficaram mais amigos do que antes. O portão bate. “Cheguei. Stefano, que bom que você veio! Então, como foram os dias do Tríduo Pascal? Uma pena que eu não pude ir. Quero saber tudo”. “Estou aqui por causa disso. Vamos tomar alguma coisa e eu lhe conto”. “Perfeito. Mas eu pago. Vamos ao centro. Estou de carro”. O rapaz coloca as mãos no bolso das calças, depois no casaco. “Poxa, as chaves estão com a minha mãe. Vamos buscá-las. Ela trabalha aqui perto, no posto da Polícia ferroviária. Vou ligar para ela”.

“Oi, mãe, estamos aqui”. A senhora atrás da escrivaninha levanta os olhos. “Aí estão vocês”. Tira as chaves da bolsa e se aproxima dos dois rapazes: “Então, Stefano, André me contou que você foi ao retiro de Páscoa, em Rímini. Como foi?”. “Eu gostei muito. Tudo parecia ser para mim. Padre Medina falou do desejo do homem, que tende ao infinito. Jesus é tão real, tão companheiro”. Enquanto fala, não percebe que uma quarta pessoa está escutando a poucos passos deles. É uma colega da mãe de André que, num certo momento, diz: “Ah, você gosta de histórias de fantasia?”.
Stefano olha para ela: “Desculpe, não entendi”. Ela responde: “É tudo fruto da educação católica. Só dogmas. Estão lhe doutrinando. Você não percebe?”. André intervém: “Não, por quê? Qual dogma? Desculpe, mas até alguns meses atrás eu não acreditava, mas agora faço uma experiência real de que Cristo é um companheiro para a vida. Vejo isso na minha amizade com Stefano”. A senhora não desiste: “Tudo mentira. Um dia, eu também acreditei. Vocês precisam acordar”. Stefano quer entender. “O que aconteceu?”. “Eu era uma católica fervorosa. Acreditava. Tinha certeza da minha fé. Depois, meu pai, um homem cheio de energia, foi acometido por Alzheimer. Eu o vi apodrecer diante dos meus olhos. A partir desse momento comecei a odiar Deus, a blasfemar contra Ele”.

Stefano se cala por um instante. Aquela palavra, apodrecer, penetrou nele. O que dizer a esta mulher tão cheia de dor? O que tem a ver com tudo aquilo que ele ouviu e viu em Rímini? Depois, diz uma frase. E faz uma pergunta: “Mas, se a senhora blasfema quer dizer que para a senhora Deus existe e nunca renunciou a um diálogo com Ele. Não acha?”. A mulher fica em silêncio. O jovem continua: “Quando a senhora foi realmente feliz?”. “Agora, você me vê assim cheia de amargura, tão contra a Igreja. Mas...”. “Mas?”. A voz se acalma um pouco: “Não posso deixar de reconhecer que experimentei a felicidade somente quando era cristã. Nunca mais encontrei aquele modo de viver tão cheio de certeza”. “Porque não tenta entregar a Deus toda a sua dor?”. “Como?”. “Através da oração”. “Não sei se consigo”. “Eu vou rezar pela senhora. Todos os dias”. A senhora se aproxima e o abraça. “Agora, vá. Aliás, espere um segundo. Podemos nos encontrar de novo?”. Stefano diz: “Prometo que sim”.
No carro, os dois ficam em silêncio durante um tempo. Até que André, rindo, diz: “Se eu não tivesse esquecido as chaves... Sabe de uma coisa? Enquanto você falava eu vi o que foram para você os três dias de retiro”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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