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Passos N.151, Agosto 2013

SOCIEDADE / Brasil

O diálogo construtivo em busca do bem comum

por José Roberto Cosmo

Os jovens rebeldes e inconformistas conquistam o espaço público: uma breve reflexão sobre as manifestações dos jovens no Brasil,
Analisando o movimento estudantil de 1968, Hannah Arendt parece antecipar o fenômeno das manifestações juvenis ocorridas em nosso país ao apontar que “esta geração (a de 68) descobriu o que o século XVIII chamou de ‘felicidade pública’, que significa que quando o homem toma parte na vida pública abre para si uma dimensão de experiência humana que de outra forma lhe ficaria fechada”.
Diferentemente da análise antecipatória de Hannah Arendt, todos os analistas políticos foram surpreendidos com as manifestações dos jovens em junho, pois já se acreditava que a juventude brasileira dormia em “berço esplêndido” embalada pelas ofertas de uma sociedade de consumo, hedonista e relativista, que aparentemente satisfazia a todas as suas necessidades, tanto materiais quanto imateriais. Não só os analistas políticos foram pegos de surpresa quanto também os demais segmentos da sociedade brasileira, incluindo os partidos políticos, o governo, as entidades sindicais, as ONGs.
O mais intrigante nestas manifestações é que, desta vez, não existiam demandas específicas ou reivindicações setoriais; não apareceram os partidos políticos agitando suas bandeiras na busca de maior espaço político; não havia a outrora combativa UNE (União Nacional dos Estudantes) na liderança destes jovens que arriscaram sua liberdade ao tomar as ruas das principais capitais do país; e os sindicatos foram rechaçados e colocados à margem do movimento. Embora o iniciador do movimento tenha sido o MPL (Movimento do Passe Livre), em São Paulo, as demandas eram bastante difusas e abrangentes sem um fio condutor que as unificasse; o mesmo ocorria com a liderança do movimento, pois a espontaneidade era a tônica do movimento dos jovens, o que praticamente inviabilizava a negociação preconizada pelas autoridades governamentais.
E eis que, um mês e meio depois da eclosão das manifestações dos jovens, surge um senhor de 76 anos conhecido como Papa Francisco incendiando ainda mais o ânimo destes intrépidos jovens brasileiros ao dizer, durante a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, que os jovens devem se rebelar, que eles devem ir contra a corrente, que o jovem é essencialmente um inconformista, que é preciso ouvir os jovens, dar-lhes lugares para se expressarem cuidando apenas para não serem manipulados (Entrevista do Papa Francisco à Globonews, dia 28/07/2013). Embora numa situação bastante diferente, Julián Carrón, em artigo publicado no La Republica em abril deste ano, já nos chamava a atenção para a necessidade dos cristãos e todos os homens de boa vontade oferecerem seu testemunho na esfera pública de modo a “afirmar o valor do outro e o bem comum acima de todo e qualquer interesse particular”.
Parece-me, portanto, fundamental que os jovens continuem a expressar seus anseios de justiça, de liberdade, de beleza, de igualdade, que correspondem às necessidades mais elementares do coração de todos os homens, criando, deste modo, um espaço público no qual o diálogo construtivo, no dizer do Papa Francisco, seja a tônica dos relacionamentos entre pais e filhos, entre crentes e não crentes, entre as instituições governamentais e não governamentais; enfim, um espaço onde a Política com P maiúsculo faça a sua radiante aparição e permaneça entre nós.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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