Repleto de momentos belos e únicos, o acampamento aconteceu entre os dias 5 e 8 de setembro, em uma praia à margem direita do Rio Negro, maior afluente do Rio Amazonas, um lugar de uma beleza incomparável, distante cerca de 30 quilômetros de Manaus. Esta proposta nasceu há quatro anos, para propor alguns dias de convivência durante o feriado. Todos os anos o acampamento tem uma programação bastante aguardada de brincadeiras, jogos e músicas em volta da fogueira. E neste ano a expectativa era ainda maior, pois seria na praia!
Os preparativos estavam sendo cuidadosamente pensados por um grupo, quando recebemos a indicação de realizar um momento de silêncio e oração a pedido do Papa Francisco naquele sábado. As perguntas surgiram imediatamente: Como propor silêncio e oração para jovens e crianças no meio da programação de jogos e competições? De que forma faríamos isto? Em qual momento do dia seria mais adequado?
Incluímos então, na noite de sábado, antes das cantigas ao redor da fogueira, uma caminhada pela praia para oração do terço. Em princípio imaginamos que os mais jovens não iriam aderir ao gesto e que a aparente interrupção de uma programação de jogos os deixaria impacientes. Mas o que vimos acontecer foi uma grande surpresa: todos aderiram, inclusive as crianças muito pequenas. Até mesmo um grupo que não estava conosco participou. Quando nos viram com velas na mão, com uma cruz improvisada e rezando o terço, baixaram o volume da música da “rave” que eles estavam fazendo para nos deixar passar. E o momento foi realmente muito especial. Caminhamos pela praia, rezando o terço, numa bela noite de céu estrelado! Este momento foi tão marcante que Sabryna, de 6 anos, na primeira manhã ao voltar para casa pediu a sua mãe: “Mãe, quero rezar o terço e cantar”.
Ver o quanto os jovens não se incomodaram com a falta de conforto é a prova de quanto o importante para eles é a Companhia. Como nos surpreendeu o testemunho do Luyz, 8 anos, que participa dos acampamentos desde o início: “É o momento que encontro os meus amigos e faço novos... Depois da minha família, os amigos são as pessoas que mais fazem parte da minha vida!”. E como disse a Anna Clara, de 15 anos: “Gostei dos momentos de oração, da natureza e também de estar com os amigos”.
Chamados a ser missionários. Neste ano, o tema do acampamento foi definido pela grande provocação que o Papa Francisco fez aos jovens durante a Jornada Mundial da Juventude para "irem a todos os ambientes, até as periferias existenciais para anunciarem Cristo". Pensamos que isto ajudaria nossos jovens a relembrar o desafio que o Papa lhes fez e a convidar seus amigos para o acampamento como gesto missionário. E o que vimos foi que, com a mudança da programação, também nós, os adultos, devíamos anunciar o Evangelho com nossa obediência. E isto fez com que ficasse claro o tamanho da responsabilidade de propor um momento como esse.
A participação dos adultos neste ano foi ainda mais bonita, e foi impressionante ver o quanto eles ficaram tocados com a experiência de estar pela primeira vez conosco ou nos reencontrar após algum tempo afastados, e serem abraçados pela nossa Companhia. Um dos participantes, o Paulinho, que havia um ano que estava longe do Movimento, nos conta que, apesar de estar na reta final para conclusão da faculdade, aceitou o desafio de ajudar no acampamento, e isto fez com que despertasse seu desejo original de felicidade: “Eu poderia estar escrevendo a minha monografia neste feriado, mas decidi estar junto com vocês, o que me faz lembrar do encontro que marcou minha vida... e isto me dá a certeza de continuar, pois estando aqui não perco nada!”. Ou como nos disse a Marina, de 16 anos, em seu testemunho na assembleia, que mesmo diante da preocupação com suas notas na escola, estando ali se deu conta de que “aqui eu me sinto mais eu, me sinto correspondida, mais até do que as boas notas que poderia tirar na escola seriam capazes de me fazer sentir!”. Outro amigo nos relata ainda que, ao trazer sua esposa e filho, percebe o quanto essa experiência o fez reconhecer o valor da família. “Percebo o quanto o Mistério nos acolhe em seus braços, como uma mãe cheia de ternura acolhe seu filho, e quero agradecer o agir do Mistério em minha vida e na vida de minha família, pois é através deste reconhecimento, desta companhia de amigos, que tenho a certeza de estar na estrada certa”.
Fabíola não conseguiu falar durante a assembleia no encerramento do acampamento, pois estava muito emocionada. Mas depois nos enviou um e-mail para compartilhar sua experiência. Ela disse: “Este ano tem sido difícil pra mim. Em março meu irmão faleceu, e desde então – não consigo dizer se por conta disso – tenho vivido com uma sede de Deus, uma sede da minha realidade que nunca havia sentido antes, e minhas emoções estão à flor da pele. Desde a assembleia com o testemunho dos que participaram da Jornada Mundial da Juventude, nunca me vi atenta daquele jeito. Eu me percebi vivendo com aquelas pessoas toda a experiência que fizeram naquele encontro! Isso me ajudou a dizer sim ao convite de voltar a acompanhar as crianças da catequese, com uma consciência de que é para mim, por isso o esforço para tentar corresponder, de tentar apresentar Cristo para as crianças. E para o acampamento fui com a mesma sede, mesmo cheia de medo porque eu estava com duas crianças pequenas, minha filha Maria Luiza de 4 anos, e a Letícia, minha sobrinha de 7 anos, que exigem um pouco mais de esforço meu. Foram dias cansativos, mas que eu quis viver com obediência, olhando com atenção para tudo que nos era indicado. Eu dizia às meninas a todo momento que não estávamos lá pra fazer o que bem entendêssemos, que tinha hora para tudo e que era assim que passaríamos aqueles dias. E eu fui na certeza de que encontraria novamente aquilo que me correspondeu desde a primeira vez. Era um fazer memória de tudo que encontrei tempos atrás. Fazer memória daquilo que precisamos para viver, para nos dar conta de que é isso que importa. Encontrar, agora adultos, pessoas que encontrei há alguns anos, que já são pais e mães, e que têm o mesmo desejo, é algo que me deixa bem feliz, pois me dou conta de não estar sozinha, e de que tudo isso é para mim, sim! Posso ser mais correspondida do que isso? Há algo que corresponda mais ao meu desejo de felicidade? Há algo que eu deseje mais do que isso, para mim e para todos os meus amigos? Respondo que não! Não há algo mais impressionante do que olhar para aquelas crianças, para aqueles adolescentes e desejar para eles aquilo que eu encontrei e que hoje me permite estar atenta a tudo, mesmo diante de um momento de muita dor para mim. Agora, dias depois do acampamento, as crianças me pedem pra rezarmos a oração do Ângelus, me pedem para cantarmos as músicas que ouvimos lá. Estamos fazendo memória, e isso nos ajuda a caminhar com Cristo no coração. É Cristo que renova a minha vida através do rosto e da companhia de cada um de vocês, que me mostra que tudo é graça, que mesmo que eu chore por um bom tempo, preciso continuar de pé – para Ele, e por Ele. Agradeço a todos pelo acolhimento, pela companhia, pela experiência”.
Outra amiga, Horlene, também nos enviou seu testemunho após os dias de convivência: “Desde quando começamos a fazer o acampamento em Manaus, esta é a primeira vez que não fui para cozinhar. Estava meio sem rumo, tentando fazer planos, me perguntando o que vou fazer, e fui surpreendida por minha filha Paula Esther, que decidiu ir comigo e ser minha companhia na barraca e em todos os momentos do acampamento. Depois fui surpreendida, mais uma vez, vendo meu filho Paulo Henrique assumindo, com tanta responsabilidade e criatividade, as brincadeiras, e me fazendo entender que aquele momento era para ele, então entendi que era para mim, e como foi bom ver os jovens próximos à fogueira cantando, e eu olhando as estrelas... Pude contemplar a beleza do amor de Deus na minha vida e durante todo o acampamento receber a visita dos meus outros filhos que por motivo de trabalho não puderam ir, mas escolheram um dia para desfrutar também desta companhia tão cara na vida de nossa família. Gostaria de agradecer a todos com quem pude compartilhar mais uma vez esta certeza de Cristo presente no meu viver e ver as palavras do Papa Francisco se tornarem carne: É preciso deixar-se surpreender por Cristo”.
A beleza retratada nos rostos das crianças, dos jovens e dos adultos durante estes quatro dias nos confirma que a grande missão, de fato, é anunciar este Cristo contemporâneo, que nos convida a sermos homens já, agora! Não importando em que momento da vida nos encontremos, mas sim que estejamos abertos a essa grande novidade que nos dias atuais não se cansa de ser resposta aos nossos anseios, e que corresponde no mais alto grau à nossa busca pela felicidade.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón