Neste ano, o tema do New York Encounter – o evento cultural promovido pela comunidade de CL nos EUA –, foi: “Do eu ao nós: o tempo da pessoa, as origens de um povo”. Isso assume um tom de desafio ao ser pronunciado na cidade que é ao mesmo tempo o centro do mundo e a extrema periferia da existência; cidade na qual metade dos apartamentos é habitada por apenas uma pessoa, numa ilusão de autossuficiência.
Com o trabalho gratuito de 200 voluntários, durante três dias, de 17 e 19 de janeiro, foram realizados debates, exposições e espetáculos artísticos. O arcebispo de Nova York, cardeal Timothy Dolan, na sua mensagem aos participantes do encontro vinculou o “nós” do título à Exortação Apostólica de Papa Francisco: “É vital que a Igreja hoje saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem medo e sem repulsa”. E ninguém está excluído desta vida que a cada ano, em janeiro, emerge para despertar a exigência de “ser alguém e não algo”, como diz padre Lorenzo Albacete no evento inicial; e este “alguém” carrega impresso no coração a saudade de um “Tu” no qual encontra a possibilidade de um cumprimento.
Ao seu lado estão padre Samir Khalil Samir e Frank Simmonds, cujos testemunhos se complementam, mesmo na diferença das circunstâncias: um é padre jesuíta egípcio que trabalha para a convivência em um área, o Oriente Médio, onde o conceito de povo é mais frequentemente associado com a guerra do que com a paz; o outro, surpreso por “uma alegria que não é gerada por mim” que o arrancou de um turbilhão de drogas e desolação. Existe a pessoa e o lugar da sua realização.
O diálogo sobre o tema da educação entre Pedro Noguera, sociólogo da Universidade de Nova York, e padre José Medina, responsável de CL nos Estados Unidos teve uma provocatória pergunta no início: “Perdidos?”. Fala-se do massacre de Newtown, das bombas de Boston e dos testemunhos de violência que, com frequência impressionante, mancham o país, desaparecendo sempre mais rapidamente as notícias depois. Para Noguera, o problema da educação não é gerar competências, mas “construir relações”, porque o homem é intimamente constituído por um impulso relacional. Faltam guias com autoridade, em quem os jovens possam confiar, não divulgadores de informações.
A mesma exigência relacional é documentada, com a linguagem da filosofia, pelo filósofo Fabrice Hadjadj e por David Schindler, decano emérito do Instituto João Paulo II de Washington. Em seguida, se aprofunda o tema do povo judeu com uma grandiosa lição sobre Abraão realizada por padre Rich Veras e por David Flatto, professor de Direito e religião na Penn State.
O arcebispo de Boston, Sean O’Malley, entra na temática das periferias pelo lado do testemunho, não como um professor, e no intenso diálogo com seu velho amigo Albacete refaz os passos de sua missão, do centro católico de Washington para imigrantes hispânicos, falando do episcopado e do caminho até chegar a Boston, onde encontrou uma diocese fortemente abalada por escândalos dos quais não é reticente.
Assim Julián Carrón, em conversa com o diretor da revista Magnificat, padre Peter Cameron, sobre o tema do Encounter, parte daquele desejo fundamental de “não perder nada daquilo que está acontecendo de bonito na nossa vida”. “Este desejo se torna um critério de juízo porque é a possibilidade de uma comparação”, continua Carrón. Seguir este percurso do desejo nos torna “atentos a cada experiência”. O ponto é “levantar-se a cada manhã com esta curiosidade”, como João e André: “A vida deles foi mudada para sempre por aquele encontro, suscitado pelo desejo deles”.
Carrón relembra as palavras do Papa na Epifania: “É um duplo movimento: Deus se move em direção aos homens e os homens em direção a Ele. Mas o encontro amadurece na presença de Cristo”. O próprio Encounter, no fundo, não é nada além de uma irônica, imperfeita e, no entanto, puríssima documentação desse duplo movimento. Contam isso os olhos dos voluntários que preparam a comida, os jovens que abrem as portas, os rostos comovidos dos convidados, a homilia do núncio apostólico Carlo Maria Viganò, os músicos que se alternam no palco, e os organizadores, apesar do sono atrasado por conta do trabalho anterior de preparação ao evento.
Se algo é verdade, fica evidente. Foi assim com um funcionário da segurança local que se aproxima timidamente de uma voluntária e pergunta: “Vocês são cristãos?”. “Sim”, ela responde. “Eu sabia, não podia ser diferente. Eu vi o que fazem e ouvi o que dizem, é muito bonito”. E começou a dizer a todos os colegas da segurança que aquele não era um evento comum. Riro Maniscalco, o presidente do Encounter, afirma: “Se uma coisa é verdade, no tempo sempre continua a florescer. Mas você pode fazer as coisas mecanicamente e o evento cresce, mas seu coração se afasta. Eu rezo pedindo sinceramente que aquilo que fazemos possa ser para o meu coração, e que todos os anos aconteça algo novo para mim”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón