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Passos N.156, Março 2014

MAGISTÉRIO

Sem medo de dizer “para sempre”

por Papa Francisco

Trechos do discurso de Papa Francisco aos namorados que se preparam para o matrimônio. Praça de São Pedro, 14 de fevereiro de 2014

Pergunta 1: O medo do “para sempre”
Santidade, muitos, hoje, pensam que prometer fidelidade para toda a vida é um compromisso muito difícil. Muitos sentem que o desafio de viver juntos para sempre é bonito, fascinante, mas muito exigente, quase impossível. Pedimos que sua palavra possa nos iluminar sobre esse aspecto.
É importante perguntar se é possível amar “para sempre”. Hoje, muitas pessoas têm medo de fazer escolhas definitivas. Um jovem dizia ao seu Bispo: “Quero me tornar sacerdote, mas só por dez anos”. Tinha medo de uma escolha definitiva. Mas é um medo geral, próprio da nossa cultura. Fazer escolhas por toda a vida parece impossível. Hoje, tudo está mudando rapidamente, nada dura muito tempo. E essa mentalidade leva muitos, que estão se preparando para o matrimônio, a dizer: “estamos juntos enquanto durar o amor.” Mas o que entendemos por “amor”? Apenas um sentimento, uma condição psicofísica? Certo, se é isso, você não pode construir em algo sólido. Mas se o amor é uma relação, então é uma realidade que cresce, e nós podemos ter como exemplo o modo como é construída uma casa. A casa se constrói juntos, e não sozinhos! Construir aqui significa favorecer e ajudar o crescimento. Caros namorados, vocês estão se preparando para crescer juntos, para construir esta casa, para viver juntos para sempre. Não queiram fundá-la sobre a areia dos sentimentos que vêm e vão, mas sobre a rocha do amor verdadeiro, o amor que vem de Deus. A família nasce desse projeto de amor que quer crescer como se constrói uma casa que seja lugar de afeto, ajuda, esperança e apoio. Como o amor de Deus é estável e para sempre, assim também queremos que o amor que funda a família seja estável e para sempre. Não devemos nos deixar vencer pela “cultura do provisório”, que hoje invade tudo.
Portanto, como se cura esse medo do “para sempre”? Cura-se dia após dia, confiando-se ao Senhor Jesus em uma vida que se torna um caminho espiritual diário, feito de passos – pequenos passos, passos de crescimento comum –, feito de compromisso de se tornarem homens e mulheres maduros na fé. Porque o “para sempre” não é apenas uma questão de tempo! Um matrimônio não é apenas bem sucedido se dura, mas é importante a sua qualidade. Estar juntos e saber amar para sempre é o desafio de esposos cristãos. Vem-me à mente o milagre da multiplicação dos pães: também para vocês, o Senhor pode multiplicar o seu amor e dá-lo fresco e bom todos os dias. Ele tem uma fonte infinita! Ele lhes dá o amor que é o fundamento da união de vocês e cada dia o renova, o fortalece. E o torna ainda maior quando a família cresce com os filhos. Neste caminho, é importante e necessária a oração. Peçam a Jesus para multiplicar o amor de vocês. (...) Quanto mais vocês se confiarem a Ele, mais o amor de vocês será “para sempre”, capaz de se renovar e vencer todas as dificuldades.

Pergunta 2: Viver juntos: o “estilo” da vida matrimonial
Santidade, viver juntos todos os dias é belo, dá alegria, sustenta. Mas é um desafio a ser enfrentado. Acreditamos que devemos aprender a nos amar. Há um “estilo” de vida conjugal, uma espiritualidade do cotidiano que queremos aprender. O Senhor pode nos ajudar nisso, Santo Padre?
Viver junto é uma arte, um caminho paciente, bonito e fascinante. Ele não termina quando vocês conquistam um ao outro… Na verdade, é precisamente aí que se inicia! Esse caminho de cada dia tem regras que podem ser resumidas em três palavras, que eu já disse para as famílias, e que vocês já podem aprender a usar: com licença – ou seja, “posso” –, obrigado e desculpa.
“Posso-Licença?”. É um pedido gentil para poder entrar na vida de outra pessoa com respeito e atenção. É preciso aprender a pedir: Eu posso fazer isso? Agrada a você que façamos isso? Tomamos essa iniciativa para educar nossos filhos? Você quer sair essa noite?… Em suma, significa ser capaz de pedir permissão para entrar na vida dos outros com gentileza. E não é fácil. Às vezes, usa-se modos um pouco “pesados”! O verdadeiro amor não se impõe com dureza e agressividade. Nos escritos de São Francisco, encontra-se essa expressão: “Saibam que a gentileza é uma das propriedades de Deus, é irmã da caridade, que apaga o ódio e conserva o amor” (cap. 37). Sim, a gentileza preserva o amor. E, hoje, em nossas famílias, em nosso mundo, muitas vezes violento e arrogante, nós precisamos muito de gentileza. E isso pode começar em casa.
“Obrigado”. Parece fácil pronunciar esta palavra, mas sabemos que não é assim… Nós a ensinamos às crianças, mas depois a esquecemos! A gratidão é um sentimento importante. (...) Nós sabemos agradecer? No relacionamento de vocês, e amanhã na vida conjugal, é importante para manter viva a consciência de que a outra pessoa é um dom de Deus, e aos dons de Deus se agradece! Nessa atitude interior, agradecer reciprocamente, por tudo. Não é uma palavra amável para usar com estranhos, para ser educado. É necessário saber dizer “obrigado” para caminhar bem juntos na vida matrimonial.
A terceira: “desculpe”. Na vida nós cometemos tantos erros, tantos enganos. Todos nós. Talvez não haja nenhum dia em que nós não façamos algo errado. Eis, então, a necessidade de usar esta simples palavra: “desculpe”. Em geral, cada um de nós está pronto para acusar os outros e nos justificarmos. É um instinto que está na origem de muitos desastres. Aprendamos a reconhecer nossos erros e a pedir desculpas. “Desculpe-me se eu levantei a voz”; “desculpe-me se eu passei sem cumprimentá-lo”; “desculpe-me pelo atraso”; “desculpe-me por estar tão silencioso esta semana”; “se eu falei muito e não te ouvi”; “desculpe-me se eu esqueci”; “desculpe-me se eu estava irritado e descontei em você”... Temos tantos motivos no dia para pedir desculpas. Também assim cresce uma família cristã. Nós todos sabemos que não há família perfeita, e até mesmo o marido perfeito ou a esposa perfeita. Nem falemos da sogra perfeita... Existimos nós, os pecadores. Jesus, que nos conhece bem, nos ensinou um segredo: nunca terminar um dia sem pedir perdão, sem que a paz retorne à nossa casa, à nossa família. É comum que existam brigas entre os casais, talvez tenham ficado com raiva, mas por favor lembrem-se disto: nunca terminem o dia sem fazer as pazes! Se aprendermos a pedir perdão e a nos perdoar, o matrimônio irá durar, irá em frente.

Pergunta 3: O estilo da celebração do Matrimônio
Santidade, nestes meses, estamos nos preparativos para o nosso casamento. O senhor pode nos dar algum conselho para celebrar bem o nosso matrimônio?
Façam com que seja uma verdadeira festa – porque o matrimônio é uma festa –, uma festa cristã, não uma festa social! A razão mais profunda da alegria desse dia nos indica o Evangelho de João: vocês se recordam do milagre nas bodas de Caná? Em um certo momento, o vinho faltou e a festa parecia arruinada. Por sugestão de Maria, naquele momento Jesus se revela pela primeira vez e realiza um sinal: transforma a água em vinho e, assim, salva a festa de núpcias. O que aconteceu em Caná há dois mil anos acontece, na realidade, em cada festa de núpcias: o que fará pleno e profundamente verdadeiro o matrimônio de vocês será a presença do Senhor que se revela e dá a sua graça. É a sua presença que oferece o “vinho bom”, é Ele o segredo da alegria plena, que realmente aquece o coração. Que seja uma bela festa, mas com Jesus! Não com o espírito do mundo. Percebemos quando o Senhor está ali.
No entanto, ao mesmo tempo é bom que o matrimônio de vocês seja sóbrio e faça sobressair o que é realmente importante. Alguns estão mais preocupados com os sinais exteriores, com o banquete, fotografias, roupas e flores… São coisas importantes em uma festa, mas somente se forem capazes de apontar o verdadeiro motivo da alegria de vocês: a bênção do Senhor sobre o amor de vocês. Façam de modo que, como o vinho em Caná, os sinais exteriores da festa revelem a presença do Senhor e recorde a todos os presentes a origem e o motivo da alegria de vocês.
E tem uma coisa que você disse e que eu não quero deixar passar em branco. O matrimônio também é um trabalho de todos os dias, poderia dizer que é um trabalho artesanal, um trabalho de ourives, porque o marido tem a tarefa de tornar a mulher mais mulher e a mulher tem a tarefa de tornar o marido mais homem. Crescer também em humanidade, como homem e como mulher. E isso se dá entre vocês. Isto se chama crescer juntos. E não chega com o vento! O Senhor o abençoa, mas vem das mãos de vocês, das suas posturas, do modo de viver, do modo de se amar. Sempre façam com que o outro cresça. Trabalhem para isso. (...) E os filhos receberão esta herança de terem tido um pai e uma mãe que cresceram juntos, tornando-se – um e o outro – mais homem e mais mulher!

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Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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