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Passos N.102, Março 2009

RUBRICA

Cartas

A DESCOBERTA DE SI
NA OBEDIÊNCIA

Caro padre Carrón, quando o senhor diz que a obediência é o acontecer a descoberta de si operada por um Outro, me faz pensar na minha história. Estou aqui nesta ilha há mais de 15 anos. No decorrer dos anos, sempre mantive contato com o Movimento, e o meu padre me dizia: “Você pertence ao Movimento no lugar onde se encontra”. Aceitei mudar-me para cá porque existe a Igreja Católica, já que, para mim, é essencial ter a possibilidade de receber a Eucaristia. A abertura de Leckman, meu marido, nos meus confrontos diante da minha experiência de fé, o fato de ele aceitar educar Davide, Valeria e Luca na fé cristã é um outro sinal de que o Espírito sempre opera: é preciso invocá-Lo. Até hoje, ainda não temos um lugar específico para fazer Escola de Comunidade, mas é bem vivo em mim o desejo de que o Acontecimento re-aconteça continuamente no cotidiano que sou chamada a viver. Agradeço ao Senhor por todas as pessoas que me fez encontrar; com algumas há um verdadeiro relacionamento fundado em Cristo, nascido de uma experiência de catequese na escola. Há pouco tempo, aproximei-me de algumas mulheres que desejavam ajudar as jovens mães da localidade, com o objetivo de promover o valor da vida. Uma caritativa que é a possibilidade, para mim, de tornar visível o carisma que Dom Gius recebeu e o senhor continua, com a ajuda do Senhor, a fazer frutificar. Rezo, com minha filha Valeria e o pequeno Luca, de dois anos e meio, enquanto Davide, de 18 anos, está em Paris estudando. Ele aceitou encontrar a comunidade de CL na França.
Laura, Ilhas Maurício

NADA ACONTECE POR ACASO,
NEM MESMO UM ACIDENTE

No final de novembro do ano passado caí, fraturando meu pulso. Os médicos decidiram me operar. Enquanto me levava para a sala de operações, o anestesista me disse: “Você tem sorte porque será operada pelo maior cirurgião de mãos da Colômbia atualmente”. Na primeira visita depois da cirurgia, o médico estava muito contente, não só pelos resultados mas sobretudo por ver a mim e Patrizia, tanto que nos convidou para ir à sua casa para a Novena do Menino Jesus, um gesto muito bonito da tradição colombiana. Fomos, e aquela família e aqueles amigos nos acolheram com uma familiaridade e uma simplicidade surpreendentes. O cirurgião disse: “Comecemos este momento rezando àquele Menino que mudou o mundo, nenhum presidente até hoje conseguiu isso”. Enquanto nos despedíamos, agradecendo ao médico e à sua mulher, percebemos da parte deles uma certa curiosidade e um desejo, manifestados pelo fato de que disseram muitas vezes que estavam contentes por nos terem conhecido. Assim, fomos embora, dizendo que os convidaríamos para ir à nossa casa. No domingo, dia 4 de janeiro, vieram almoçar conosco. Foi muito bonito: nos contaram sobre seu casamento, seus filhos, sobre as amizades e os laços que tinham graças à escola dos filhos, mas sobretudo nos comunicaram a beleza de ser católicos. O médico estava feliz por ter nos conhecido e também comovido, tanto que a um certo ponto disse, sem saber nada de nós: “Vocês vieram para esta pequena parte do mundo deixando tudo. Amar esta pequena parte do mundo, desconhecida, diante de Deus, isto é o cristianismo. Obrigado por terem vindo do primeiro ao segundo mundo”. Antes de terminar o almoço, falamos sobre o nosso carisma e os presenteamos com um exemplar de Passos de dezembro e com o livrinho sobre Comunhão e Libertação. Ficamos muito tocados pela humanidade e simplicidade dessas pessoas e, quando foram embora, dissemos: “É mesmo uma misericórdia o que aconteceu hoje, é uma bondade de Deus que permitiu isso porque somos amados”. Nada acontece por acaso, nem um acidente: tudo tem um propósito porque tudo é Seu.
Cristina, Bogotá (Colômbia)

UM ENCONTRO
QUE MUDA A VIDA

Provocado por um imenso desejo de fazer universidade, e sem condições financeiras para cursar, em meados de junho de 2004, recebi em casa três amigos, todos ansiosos e eufóricos para me contarem sobre a Associação de Cleuza e Marcos Zerbini. Diziam que iríamos receber desconto de 50% na mensalidade durante os quatro anos da faculdade. Fiquei interessado e os procurei. Foi tudo muito rápido e, quando percebi o que estava acontecendo, já estava ocupando uma carteira na sala de aula da faculdade de enfermagem e participando das reuniões da Associação. Um ano se passou e os amigos que haviam me convidado desistiram da universidade e se distanciaram da Associação. Eu continuei porque ali havia encontrado uma razão para viver: somente o estudo já não me bastava. Em julho de 2005, após o término de uma reunião da Associação, fui cumprimentado por duas pessoas que se apresentaram (Alexandre e Ana Lúcia) e me perguntaram se eu havia gostado do encontro e queriam a minha opinião sobre o texto trabalhado. Conversamos por uns dez minutos e, a partir desse dia, ao término de todas as reuniões conversávamos um pouco e, então, combinamos de uma vez por semana nos encontrarmos próximo à minha faculdade e relermos o texto da última reunião. Nesses encontros, além da leitura, falávamos sobre os fatos ocorridos conosco durante aqueles dias, em nossa família, no trabalho, com os amigos etc. Convidamos outros universitários e formamos um grupo de Escola de Comunidade. Aos poucos, as angústias que eu vivia foram desaparecendo e a vida foi ganhando cada vez mais sabor, pois eu encontrei Aquele a quem meu coração sempre buscou. Em 2006, participando das férias com os universitários da Associação em São Bento do Sapucaí, e estando conosco Marcos, Cleuza, Alexandre, padre Cássio, padre Marco, Marília, os coordenadores e nós estudantes, pude conhecer mais de perto quem eram aquelas pessoas que eu seguia, e sentir o amor que tiveram por mim, reconhecendo que meu coração estava fazendo uma experiência de correspondência. Em junho de 2008, participei dos Exercícios da Fraternidade em Atibaia e pude entender, através das palavras de padre Carrón, que eu havia encontrado algo muito maior que um desconto de faculdade, estava conquistando muito mais do que um diploma. Logo em seguida, eu me formei e esses novos amigos me surpreenderam com um convite para viajar para a Itália, representando os alunos da Associação em um encontro de universitários (Equipe do CLU), e para também conhecer o Meeting de Rímini. Foram 26 dias fantásticos de aprendizado, conhecimento e amizade. Em janeiro deste ano, participei das férias de CL com a comunidade de São Paulo. Quando voltei, estava cheio de gratidão e fiquei pensando em todas as amizades com que o Senhor me presenteou e que somente Ele pode me amar deste jeito e ter piedade pelo meu nada.
Deivis, São Paulo – SP

RECONHECER CRISTO
NA AUSTRÁLIA

Caríssimo padre Carrón, escrevo da Austrália, onde moro há quatro anos e para onde acabei de voltar depois de passar férias na Itália com meu marido e minha filha. Nessas férias, vivi momentos de grande intensidade com as nossas famílias e nossos amigos. Assim, quando voltei, perguntei-me novamente (como aconteceu quando me mudei para cá): o que estou fazendo aqui? Vi-me naquela rotina de sempre, a casa para arrumar, cuidar de Alessia etc... Esta manhã, tendo acordado cedo por causa do fuso horário, abri Passos e, lendo os belíssimos testemunhos do Meeting de Rímini, meus olhos abriram-se novamente: é Cristo que me pede para reconhecê-Lo na minha nova casa na Austrália, foi Ele quem me confiou a tarefa de compartilhar com os amigos australianos a alegria encontrada na Itália, foi Ele quem me deu a companhia do meu marido e de minha filha e me conduziu até aqui para vivê-la plenamente através dos rostos dos novos amigos. Então, com este olhar, a educação de Alessia e do bebê que carrego no ventre deixa de ser uma luta cotidiana para estabelecer limites e regras, passando a ser uma verdadeira companhia da qual aprender um olhar de simplicidade e maravilha diante do mundo, acompanhando-os em seu caminho para o Destino. As tarefas da casa, o trabalho, os rostos das pessoas que encontramos são a realidade concreta através da qual Jesus me ama e me pede para amá-Lo, aqui e agora. E cada acontecimento, como a Jornada Mundial da Juventude, a Escola de Comunidade, são fatos densos de um Amor maior do que nós, não apenas “eventos para serem organizados”, já fechados e encerrados. A Austrália é a circunstância através da qual caminho em direção ao Destino. Com esse novo olhar sobre a vida, quero lhe agradecer pela paternidade com a qual abraça a cada um de nós, através dos meios mais absurdos e apesar dos quilômetros que nos separam.
Raffaela, Melbourne (Austrália)

UMA EXPERIÊNCIA
DE LIBERDADE

Em meados do ano passado, eu estava numa fase muito difícil porque, como havia me decepcionado com algumas pessoas e por ter deixado que isso determinasse a minha vida, não conseguia mais reconhecer Cristo através dos rostos dos meus amigos. Apesar disso, não deixei de frequentar as reuniões do grupo de Fraternidade e nem de Escola de Comunidade porque sabia, pela experiência que já havia feito antes, que não havia outro lugar em que eu pudesse encontrar a resposta para minhas perguntas e ser ajudada a encontrar Cristo novamente. Nessa mesma época, descobri que estava com câncer de mama e foi incrível como este acontecimento mudou a minha vida para melhor, porque, para mim, foi como se a realidade gritasse a presença de Cristo, como se o próprio Cristo me dissesse: “Ei, Flávia, estou aqui, sou Eu que te faço, te sustento, te dou a vida...”  e me senti amada e abraçada, novamente. Isso se demonstra pelos fatos que aconteceram e que acontecem na minha vida, desde que comecei o tratamento: por exemplo, meu amado Jorge, que é marido, pai, mãe, dono de casa, enfermeiro e ainda arruma tempo para trabalhar e faz isso tudo sem reclamar de nada; meus lindos e adorados filhos, Lucas e Letícia, que não deixam que se passe um dia sem que me abracem e digam que me amam; minhas queridas mãe, sogra e fraterna Adélia, que na época da quimioterapia deixavam suas casas e se revezavam para ficar comigo até eu melhorar; a atenção e o carinho dos amigos que não deixam de ligar ou de estar presentes; as orações dos familiares, dos amigos, dos conhecidos e até de pessoas que não me conhecem... Olhando para esses fatos, não posso deixar de agradecer a graça de ter a certeza de que Cristo me ama e que, graças a Sua infinita misericórdia, Ele nunca me abandonou e, seja qual for a vontade d’Ele, sou livre, sou feliz e estou em paz.
Flávia, Rio de Janeiro – RJ

O SENTIDO PROFUNDO
DA MATERNIDADE

Caro padre Carrón, no dia 13 de setembro celebramos nosso 25º aniversário de casamento, na comunidade de Montetauro (uma comunidade cristã de leigos consagrados que vivem sua vocação na oração e no serviço a pessoas doentes), onde há oito anos vive nosso filho Carlo, com 23 anos, que tem uma forma muito severa de autismo. Foi um dia belíssimo porque ficou claro para mim, desde o primeiro instante, que tudo aquilo era possível apenas por causa da presença de Cristo, por Graça. A missa começou com a música O desígnio, de Claudio Chieffo, o canto que nos acompanhou nos momentos importantes da nossa família, do casamento ao Batismo dos nossos três filhos. Quando ouvi a primeira nota me veio com clareza que o Senhor nunca nos deixou sozinhos em todos esses anos, muitos dos quais marcados pela doença de Carlo, que foi e é ainda uma grande prova. Uma prova de fé, que nos pede para decidir a cada instante pelo Senhor, esperando contra toda esperança, levando-nos a confiar-nos continuamente a Ele, procurando o positivo naquilo que nos acontecia, mesmo quando o sofrimento de nosso filho e nossa impotência nos tirava o ar e tendíamos a cair na desilusão e no desespero. Naquele dia, tudo ficou ainda mais claro: Ele estava ali, como em cada momento passado e para sempre. Aquilo que aconteceu, cada dia que passa, volta a viver no meu coração dando um respiro maior aos meus dias, fazendo crescer o desejo de que o meu olhar torne-se cada vez mais capaz de reconhecer a imponência da presença de Cristo. Continuo a pedir pela cura de Carlo e a esperar, e a minha esperança não é um sentimento, mas a sua presença viva no meio de nós, que se manifesta de maneira potente embora discreta, porque respeita sempre a nossa liberdade. Assim, não posso deixar de agradecê-Lo todos os dias por aquilo que Ele fez na minha vida, apesar de tudo, mas em tudo. Fomos objetos de um grande amor dentro deste sofrimento. Em um primeiro momento, vivi a entrega de meu filho a este lugar quase como uma renúncia à minha maternidade, como se fosse um fracasso. Nestes anos, pedi ao Senhor para mudar o meu coração, queria que deste sofrimento nascesse uma coisa bonita para toda a minha família, queria um destino de felicidade e, assim, dia após dia o Senhor revelou-me o sentido pleno e verdadeiro da minha maternidade. Primeiro, ajudou-me a aceitar a minha impotência e, depois, fez-me experimentar aquilo que Giussani chama virgindade, isto é, o amor ao outro, ao meu filho, sem posse. Ele, diante das minhas necessidades, enviou os anjos, fez acontecer fatos, respondeu a elas de maneira inesperada. O fruto disto é que eu e meu marido aprendemos a nos amar muito mais do que quando nos casamos. E isto não é absolutamente óbvio.
Valeria

ADOÇÃO: O MILAGRE
DA ACOLHIDA

Caro padre Carrón, na festa do Batismo do Senhor tivemos a graça de batizar Viviana, de sete anos, adotada em agosto, no Peru. Esta adoção nos ensinou a liberdade das circunstâncias e a afeição ao significado do qual elas estão carregadas. Só assim tudo é salvo: a vocação, o temperamento, o pecado. Nessa experiência de adoção, isso ficou claro para mim, minha mulher e meus filhos. Desde o início, pensei que este gesto ou tinha um sentido para o mundo inteiro, quer dizer, para a glória de Deus, ou não era nada. Adotar uma menina é uma escolha que nos aproxima do destino através da vocação da paternidade e da acolhida. Aderir à forma que o Mistério toma significa aceitar esta criança sem condições, sem pretensões, com sua história de maus-tratos, com seus problemas de saúde. Tal postura de liberdade teve como primeira consequência inesperada a sua completa confiança em nós. A nossa permanência em Lima poderia ter sido um período pesado à espera de que a vida, na Itália, chegasse. Porém, nos 45 dias que ficamos no Peru, foi mais fácil nos confiar ao Mistério através da oração. Os dias tornaram-se, então, cheios de significado mesmo com poucas coisas para fazer. Por fim: o milagre dos meus filhos. Em particular o maior, de 15 anos, que se sentiu profundamente comovido neste período de férias. Ele, que não queria sequer viajar, acolheu essa menininha de maneira indescritível. A companhia da comunidade de Lima foi de grande ajuda. Desde a concretude de alguém que procurou um médico para Viviana, àqueles que simplesmente responderam ao nosso pedido de companhia e amizade. Um pensamento vai para Andrea Aziani (cf. Passos, outubro 2008): de fato, me parece que nossa estada foi marcada por sua presença (morreu alguns dias antes da nossa chegada). Talvez porque, pelo pouco que o conhecemos – pessoalmente há nove anos e, depois, através das notícias dos amigos da Fraternidade de Lima –, percebi nele a encarnação daquela liberdade perfeita da qual Dom Giussani fala no livro da Escola de Comunidade.
Enrico, Catania (Itália)

A Escola de Comunidade é o motor do trabalho
Caríssimo padre Carrón, sou operário em uma indústria de cerâmica e estou vivendo na pele a situação dramática da crise econômica. Há mais de um mês reduziram o horário de trabalho e, para mim, essa diminuição de salário pesa no final do mês. Depois de um sentimento inicial de raiva e de desconforto, nasceu em mim a decisão de querer viver este momento de maneira ativa: decidi executar ainda melhor o trabalho que eu era chamado a realizar, de maneira mais precisa e mais criativa. A Escola de Comunidade e os amigos me ajudam nesta ocasião. Não é uma aplicação teórica das palavras que lemos, mas é como um “motor” que faz mover os meus passos, dando sentido ao meu cotidiano. Para mim, isto é viver a obediência dramaticamente ligada ao real para não deixar-me reduzir pelas circunstâncias que, senão, seriam maiores que eu. Sendo fiel à Escola de Comunidade, reencontrei em mim uma densidade humana desconhecida por mim até agora. Unidos na aventura.
Massimo, Rímini (Itália)

Adesão total
Caríssimo padre Carrón, anexo esta carta ao meu pedido de admissão na Fraternidade para agradecer, desse modo, a cada pessoa que, na história do Movimento, dizendo sim a Cristo, tornou possível que eu o encontrasse. Conheci o Movimento há um ano, através de um colega de curso. A um ano da formatura em Medicina, não havia pensado ainda que pudesse encontrar a resposta a tudo aquilo que desejava. Procurava uma maneira mais bonita de viver as amizades, um modo verdadeiro de amar, algo que enchesse a vida a cada instante e desse um sentido completo a cada ação minha. Em um ano, minha vida foi totalmente mudada, aconteceram muitas coisas bonitas, mas também enfrentei muitas dores com a certeza de não estar só. Agora que me lanço no mundo do trabalho, sei que desejo “viver assim” e a companhia que me foi dada me chama a isto a cada instante. Peço para ser admitida na Fraternidade porque sei que não posso deixar de dar minha adesão total.
Margherita, Pisa (Itália)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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