A história de uma jovem que, na amizade com o fundador de CL, descobrirou o significado da missão. Até chegar a abraçá-la
Gudo Gambaredo, Bassa milanesa, 1985. Carmen está na lavanderia da casa dos Memores Domini (pessoas de Comunhão e Libertação que seguem uma vocação de dedicação total a Deus vivendo no mundo cfr). Dom Giussani entra. “Estava lhe procurando. Você acompanharia um grupo de estudantes da Católica na peregrinação a Santiago? Também irão alguns espanhóis”. Carmen termina de dobrar a camisa que tem nas mãos e responde: “Sim, tudo bem”. Tem 25 anos, vive na casa do Grupo há três anos e antes... “Antes foram os anos fundamentais, diria extraordinários, do CLU quando, estudante de educação física, compartilhava o meu dia com Luigi, Giorgio, Antonio... em suma, os amigos da Católica e com Giussani. Naqueles encontros, naquela vida tão densa, cheia, toda a minha vida foi decidida, amadureceu a vocação. Tinha 20 anos quando falei com Dom Giussani sobre a minha escolha. Ele começou a rir e me disse: “Que imaginação o Senhor tem!”, conta Carmen. Depois da peregrinação, Carmen volta outras vezes à Espanha, os relacionamentos com aqueles amigos aumentam. Até que, em 1987, um responsável do Grupo Adulto pergunta se ela quer mudar-se para Madri, onde estavam aparecendo as primeiras vocações, para abrir a primeira casa dos Memores Domini. Ela pensa um pouco a respeito e responde não. E fala com Giussani: “Acho que para sair em missão é preciso ter uma experiência de plenitude humana, porque a fé é uma plenitude humana. Para poder partir é preciso ter um amor pelas pessoas que Deus lhe dá, pelo qual estaria com eles a vida toda. Este é o sinal que pode deixar para eles. Em mim, ainda é preciso amadurecer algo”. Giussani concorda. Mas, um ano depois refaz a proposta. Ela aceita. “Podia partir porque não me faltava nada no relacionamento com ele e com as pessoas da casa. Havia uma plenitude de afeição – explica -. Não havia diferença entre o amor a Cristo, a ele e às pessoas da casa. Não estava me mudando porque era jovem e pronta para a aventura. Não! É possível sair em missão porque não lhe falta nada, porque poderia estar com as pessoas da casa por toda a vida, quer dizer, porque nasceu uma afeição que sustenta a vida”.
O ANIVERSÁRIO DE LOLA. No dia 14 de setembro de 1988, Carmen coloca a mala e algumas outras coisas necessárias no carro e, com uma amiga, que a acompanha, parte. “Queria chegar no dia 15, para o aniversário de Lola, uma das primeiras Memores Domini espanholas. Durante aquela viagem tive a percepção física de deixar um mundo para entrar em outro”. Giussani liga frequentemente para ela, muito frequentemente. Faz-lhe perguntas muito concretas: “O que você precisa? Já aprendeu espanhol? O que você fez ontem à noite?”. “Era muito atento, porque entendia que a afeição a Cristo de uma jovem de 30 anos era ligada aos sinais”. Antes de partir tinha lhe dito: “Para nós, que nos queremos bem por causa de Cristo, o único significado do sacrifício de um afastamento é para que Cristo seja conhecido, isto é, para que outros sintam-se amados como nós nos sentimos amados. Senão, não lhe deixaria partir. E uma outra coisa: os missionários, sabendo que provavelmente não voltariam, normalmente mandavam fotografias onde apareciam vestidos a caráter, por exemplo, de chineses se estavam na China. Saíam em missão para ser uma coisa só com aquelas pessoas: para ser mais chineses que os chineses. Para você é a mesma coisa. Você vai para a Espanha para se tornar mais espanhola que os espanhóis. Cristo é mais homem que eu, mais italiano que eu”. E, rindo: “Nas escrituras está escrito que Deus serviu-se até da burrinha de Balam. Isto significa que Deus é soberano, a Graça é inconcebível, usa as pessoas para construir o seu desígnio misterioso. Você foi naquela peregrinação, agora você volta à Espanha na condição de trabalhadora. Vê? A imaginação de Deus é maior do que todos os nossos raciocínios”.
FULL IMMERSION NO ESPANHOL. Durante o primeiro mês, Carmen faz oito horas de aula de espanhol por dia. Mais espanhola que os espanhóis. “Nunca me senti uma italiana no exterior. Giussani continuou a me telefonar, a perguntar para entender. Ele, que era tão inteligente, perguntava a mim, que era nada. Essa é uma coisa que trago dentro de mim. Não se preocupava com os meus limites, com os meus erros. Estava certo de que Cristo constrói a sua misteriosíssima obra através das pessoas que têm um nome e um sobrenome, uma história, um temperamento, e que essas pessoas são acompanhadas, cuidadas. Foi este o critério que usou comigo”.
Carmen nunca deixou Madri, ao telefone quase tem mais dificuldade de falar italiano que espanhol. Hoje, porém, Giussani não vive mais. “Eu nunca tive saudade, nem nunca disse “me faz falta”. Giussani vive. É uma presença. Está nos seus textos. Existe como carisma nos meus amigos. Eu o vejo quando, por exemplo, um amigo tem uma acuidade intelectual, ou no traço de humanidade de um outro. O relacionamento é para sempre, não se confunde, mas se identifica com Cristo presente. Jesus se comunica através de uma plenitude de afeição. Não é preciso ter medo de ligar-se a quem tem este reflexo de humanidade inconfundível. Enfim, aprendi com Giussani que é preciso não criticar ninguém porque, como escreve Péguy, é mais fácil destruir que construir, é mais fácil fazer morrer que fazer viver”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón