Os turistas, a serenata, e o coração de Dom Giussani aterrissa na ilha
“Para este ano não mudar, a mesma praia o mesmo mar...”. Há 25 anos, Bruno e seus amigos da Fraternidade não mudam o destino das férias: praias paradisíacas, aluguéis mais baratos que os da costa italiana, companhia garantida. São as férias em Minorca do “Grupo Martinengo”, de Milão.
“Na primeira vez, viemos em vinte pessoas. Gostamos de Minorca imediatamente. Não deixamos mais de vir. E a cada ano, mais amigos se juntam a nós, de Turim, Genova, Roma, Pádua, amigos e amigos de amigos”. Mesmo em um número tão grande de pessoas, a regra é a máxima liberdade, junto com – para quem quer – uma série de encontros fixos durante o dia: missa matinal, Laudes no jardim da casa de Bruno, Escola de Comunidade na praia no final da tarde, e as Vésperas. Lembra um pouco aqueles primeiros colegiais, que faziam encontros nos locais de veraneio mais frequentados e, juntos, rezavam, cantavam, faziam as reuniões, que chamavam de “Raio”, e encontravam pessoas que ficavam curiosas com aquele “estanho” modo de passar as férias. “Percorremos algumas igrejas da ilha em busca de uma missa em espanhol”, diz Bruno. “Quando parecia que a tínhamos encontrado, o padre fazia a homilia em catalão. Não entendíamos nada”.
“Junte-se a nós”. Até que, cinco anos atrás, entraram em uma igreja de Mahon, o maior porto natural do Mediterrâneo. É a Paróquia da Imaculada Conceição: “A missa ainda não tinha começado e fomos nos apresentar ao padre. Ele abriu um sorriso: ‘Ah, vocês são filhos de Dom Giussani’. A missa começa e, do altar, padre Joan Miquel anuncia que ‘estão entre nós, filhos de Dom Giussani’”. Bruno e seus companheiros ainda não sabem de onde vem esse entusiasmo, mas, pelo menos, “a língua é compreensível”.
É tradição do “Grupo Martinengo” organizar, no dia da Assunção de Maria, uma vigília com cantos, leituras e a reza do Terço: uma “serenata” para Nossa Senhora. Todos os amigos se reúnem, cerca de quarenta, no jardim daquele que tem a casa maior. Naquele ano, padre Joan Miquel também é convidado. “Depois da festa, quando cheguei em casa, à meia noite, peguei o telefone”, conta o sacerdote: “Liguei para os amigos da Paróquia e disse: ‘Fiz uma experiência excepcional’. Conheci os textos de Dom Giussani no seminário, em Madri, e seu carisma me impressionou. Quando estava em Roma estudando, conheci alguns padres de CL e lia a revista 30 Dias”. Nada mais do que isso. Mas, quando voltou à ilha, já como padre, permaneceu a curiosidade e o interesse pelo pensamento daquele homem. O encontro com os turistas italianos abre para ele um mundo. A partir daquele dia 14 de agosto, padre Joan Miquel começa a ir visitar os novos amigos: pede-lhes que repitam na missa da manhã os cantos da Assunção. Quando pode, se junta a eles para rezar as Laudes, as Vésperas e, por que não, conversar à beira mar. Depois de celebrar a missa das 20h30, ainda vai à casa dos turistas italianos: “Padre Miquel, o senhor já jantou? Venha, junte-se a nós”, convida Bruno. A conversa vai até tarde da noite: “Nas primeiras vezes, nos bombardeava com perguntas sobre o Movimento e sobre Dom Giussani”.
A amizade com Bruno e os outros consegue chegar, em pouco tempo, às questões mais profundas: pelo modo como estão juntos, as palavras antes apenas lidas, agora se tornam carne, relacionamentos. Estes são apenas os primeiros passos de uma amizade que ultrapassará os meses de verão, as praias brancas e o mar Mediterrâneo: “Há alguns anos, vou com eles ao Meeting de Rimini”, conta padre Joan Miquel: “Em fevereiro, quando consigo, passo alguns dias em Milão para encontrar todos eles”. “Na última vez em que esteve aqui, o levamos à Escola de Comunidade de padre Carrón, no Sacro Cuore”, diz Bruno, “e às irmãs do Martinengo”. Em fevereiro, padre Joan Miquel esteve em Madri, nos Exercícios dos padres espanhóis de CL. “O carisma de Dom Giussani é uma grande ajuda para viver o meu sacerdócio”, diz.
“Há uma seita!”. Alguns moradores de Minorca também ficaram curiosos em relação àqueles turistas um pouco fora do comum: uma senhora que faz a faxina nas casas de temporada, vai à sacristia: “Padre, há uma seita naquela casa. O senhor também vai?!”. “Expliquei a ela que eram pessoas ‘normais’ que rezavam, como deveriam fazer todos os cristãos”. No ano seguinte, na “serenata” para Nossa Senhora, havia também famílias do local, alguns seminaristas amigos de Joan e até o Bispo de Minorca, Dom Salvador Giménez Valls. “Está virando uma tradição”, diz Bruno: “As pessoas levam alguma coisa para comer e, no final, jantamos todos juntos. No ano passado, também esteve presente um coronel aposentado que tinha lido os textos de Dom Giussani porque “procurava alguma coisa interessante para ler”. Ele me trouxe os textos: estavam todos grifados. Depois que fomos embora, escreveu uma carta a Joan: “E nós, que ficamos aqui, como podemos continuar aquilo que vivemos com os amigos italianos?”.
“Durante o ano, lemos os livros de Dom Giussani junto com alguns paroquianos”, diz o sacerdote. “É uma forma simples, caminhamos devagar e só Deus sabe o que se tornará”.
Paola Ronconi
O físico e o “ciúme de Deus
Têm em comum apenas poucas letras, Virginia e Valtellina: o futuro e o início da história do italiano Michel Benetti, de Sondrio, trinta e um anos. Ou melhor, de “padre” Michel, ordenado há poucos meses. Dia 21 de junho, o Cardeal Stanislaw Rilke impunha as mãos sobre sua cabeça, dizendo-lhe que um Outro o tinha tomado por inteiro: “Foi o próprio Cristo que escolheu vocês”, disse o responsável do Pontifício Conselho pelos Leigos a ele, único padre, e aos seis novos diáconos, durante a celebração de ordenação da Fraternidade São Carlos, na Igreja Santa Maria Maior, em Roma. E padre Michel lembra-se muito bem desse chamado que ouviu aos 12 anos de idade e que ecoou durante toda a sua adolescência, até se formar em Física. Nesse período, aconteceu o encontro com CL na universidade (“A carne de Cristo que veio me tomar”) e o relacionamento com uma moça: “Era tudo perfeito, éramos felizes”.
No entanto, percebia que Deus tinha “ciúmes” dele, e isso se tornou algo recorrente. Ele tinha tomado a sua vida: “O Senhor sempre me deu muitas coisas bonitas, mas no fim, a um certo ponto, me perguntou: ‘Você me ama?’. E exatamente através do amor por uma amiga, descobri o amor de Deus”. Entra para o Seminário em 2007. E no final da cerimônia de ordenação, muitos vêm cumprimentá-lo por aquilo que, mais do que um objetivo, tem o sabor de um novo início: padre Michel atravessará o oceano para ensinar Física e Teologia em uma escola de ensino médio de Arlington, Virginia, às margens do rio Potomac, na fronteira com Washington DC. “Fui enviado aos Estados Unidos, para testemunhar Cristo no centro da mentalidade moderna”.
Paolo Perego
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón