Entrevista com ULISSES BARRES DE ALMEIDA, um dos curadores da mostra “Explores”, outro exemplo da busca do homem por si mesmo.
Qual foi a ideia central da Mostra “Explores”? Como ela foi desenvolvida?
Explorers foi uma mostra que nasceu de dois eventos que marcaram para nós o ano passado. Provocados pelo título do Meeting di Rímini deste ano, Nicola Sabatini e eu, junto com outros amigos da Associação Euresis, começamos a nos questionar sobre a relevância de um dos principais acontecimentos científicos da era espacial: o anúncio, no dia 25 de agosto de 2013, de que a sonda Voyager I tinha cruzado o confim da heliosfera e chegado, finalmente, depois de 37 anos de viagem e 18 bilhões de quilômetros percorridos, ao espaço interestelar. Este feito, único na história humana da exploração espacial, não só fazia da Voyager I o objeto mais distante criado pelo homem, como também marcava de maneira dramática a mais extrema periferia da presença humana no Cosmo. Paralelamente a isso, ambos fomos muito provocados por uma frase do Papa, de um discurso no dia 29 de novembro, onde afirmava: “Estou convencido de uma coisa: as grandes revoluções da história aconteceram quando a realidade foi vista da periferia, e não do centro. É uma questão hermenêutica: se compreende a realidade somente se nós a guardamos da periferia, e não se o nosso olhar é colocado em um centro equidistante de tudo”. Refletindo sobre ela, pensamos no percurso desta mostra como um modo de aprofundar o seu significado, adotando como guia a sonda Voyager I na sua viagem à periferia geográfica mais distante já alcançada. Assim, a preparação desta mostra foi para nós curadores uma verdadeira viagem, onde partimos com uma pergunta precisa, mas não tínhamos claro aonde esta pergunta nos levaria. Seguimos com grande curiosidade e atenção toda a trajetória de exploração espacial dos últimos 50 anos, olhando para a experiência humana dos astronautas e cientistas que foram protagonistas neste fascinante empreendimento, sempre carregando o desejo de aprofundar de maneira concreta o sentido da frase do Papa Francisco,
até o limite ao qual a Voyager nos conduzia.
O que buscavam passar aos visitantes?
Foram mais de 20 mil visitantes e queríamos que eles pudessem fazer em primeira pessoa a experiência de exploração espacial, seguindo o testemunho e identificando- se com os seus protagonistas, de modo a poder descobrir por si mesmos o que significa que a periferia é um ponto de vista privilegiado com o qual olhar a realidade, a partir do qual se pode compreender melhor o centro de onde partimos. Assim sendo, a mostra seguiu um itinerário de viagem preciso, que se iniciava com um olhar sobre as motivações humanas da exploração, seguia com a história da corrida espacial, a conquista da Lua e o desejo atual de se conquistar também Marte, para depois unir-se à Voyager no seu “Grande Tour” dos planetas externos – Júpiter, Saturno, Urano e Netuno – até a sua entrada no espaço interestelar. Mais do que focar nos aspectos técnicos, nos interessava comunicar a experiência humana dos envolvidos na exploração, e fazer com que os visitantes participassem da experiência de descobrir mundos novos e fascinantes e de observar a realidade a partir destes lugares distantes. Toda a mostra se apoiou, portanto, na possibilidade de fazer uma experiência de exploração, de modo a poder-se chegar a um juízo pessoal sobre o contínuo convite do Papa a andar às periferias humanas e geográficas.
Como o Meeting o ajudou a definir seu modo de viver sua relação com a ciência e a cultura? Que contribuições você acha que ele pode dar para um cientista de hoje?
O Meeting di Rímini é um evento singular no mundo de hoje. Não só pela sua extensão, amplidão de temática, universalidade e potencialidade de impacto cultural, mas principalmente porque é um lugar onde podemos fazer experiência da realidade. E acredito que podemos fazê-la de dois modos: encontrando protagonistas do nosso mundo contemporâneo e ouvindo seus testemunhos, conhecendo aquilo que os motiva, e sendo protagonistas nós mesmos, através dos voluntários que, todos os anos, constroem esta feira que não é outro que um lugar de encontros humanos e amizade.
Talvez uma das grandes tentações que o cientista pode sofrer hoje é aquela de olhar para o seu trabalho como algo impessoal, desacoplado da sua experiência humana. O Meeting torna evidente a qualquer um que o visite com atenção que, ao contrário, são exatamente estas questões humanas aquelas que motivam e alimentam a experiência científica no seu âmago. Assim, mesmo que a ciência obedeça a um seu método objetivo e específico, necessário para que possamos conhecer os mecanismos do Cosmo – que outro não é que o método lógico com o qual a razão pode se submeter de maneira adequada a uma realidade diferente de si mesma, isto é, possa conhecer o mundo – mesmo assim o itinerário de conhecimento só pode se tornar realmente amplo e interessante se não nos esquecemos desta motivação fundamental, porque o específico no mundo tem valor enquanto tem o potencial de abrir a razão para o todo.
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