“QUERIA SER ÚTIL E ENCONTREI A MINHA FAMÍLIA”
Naquele dia, quando Joseline soube que sou do Haiti e me convidou para os Exercícios para colaborar como tradutora, aceitei somente porque achava que era um modo de ser útil e que poderia aproveitar deste retiro para entrar em comunhão com Deus, dado que naquele momento nutria muitas dúvidas sobre a Sua presença na minha vida. Decidi não fazer prognósticos, ou melhor, não criar grandes expectativas, mas simplesmente deixar-me conduzir e viver ao máximo essa experiência do modo como se apresentava. Depois da sexta-feira, comecei a perceber que não estava naquele retiro somente para traduzir, mas também para compreender que Deus tem um plano para mim e o melhor que posso fazer é deixar-me conduzir por Ele. Como explicava Carrón na palestra de sábado: “O centro da vida não é ser bem-sucedido, mas o reconhecimento de uma Presença”. Para que serve o reconhecimento pessoal por causa de algum sucesso obtido, se dentro de nós há o vazio? Outra coisa que me tocou muito foi quando Carrón explicou que as dificuldades, os obstáculos também fazem parte do caminho e estão ali para nos ajudar a amadurecer. Ao invés de dizer, como sempre, quando nos encontramos em uma situação difícil: “Deus, por que me abandonaste?”, precisamos aprender a agradecê-Lo porque nos dá a oportunidade de aprender e fazer a nossa fé crescer. Este retiro me ensinou que a fé, embora sendo um dom, precisa ser educada, cultivada, porque se não faço aquilo que é necessário, se não procuro a palavra de Deus e se não busco viver cada dia com Ele, sentirei em mim este vazio que somente a Sua presença pode preencher por muito mais tempo, e dificulto a vida, como um “cego” que não quer aceitar que alguém está estendendo a mão para ajudá-lo a caminhar. Tocou-me profundamente ver a familiaridade entre todos os participantes das duas comunidades presentes, Haiti e República Dominicana. Eram como uma única família, unida pela fé e pela busca da presença de Deus na vida. Aquilo que, inicialmente, para mim, era um simples serviço, transformou-se no primeiro passo para ir de encontro à “minha família”. A minha intenção era oferecer um bom serviço, mas o plano de Deus era levar-me até Ele e, sinceramente, creio ter encontrado aquilo que estava procurando.
Fredcarme, Santo Domingo (Rep. Dominicana)
UMA PRESENÇA ORIGINAL NA UNIVERSIDADE
Escrevo para contar a grande provocação que acabamos de viver aqui em nossa Universidade. A professora Marina, eu e Caio, um amigo da Escola de Comunidade dos Universitários, começamos a participar dos encontros com o Bispo, padres e outros Movimentos da Igreja para pensarmos juntos a Pastoral Universitária de nossa Arquidiocese. Nesse encontro surgiu a ideia de prepararmos uma Missa para os estudantes dentro do nosso ambiente. Eu e Caio, como únicos universitários presentes, ficamos responsáveis por organizá-la, fazer o convite e divulgá- lo. O que, por vários motivos, acabou ficando pronto três dias antes da data marcada! Lançamos nas redes sociais o convite e criamos o evento na página do Facebook! Foi da Passos que retirei a seguinte colocação do Papa Francisco para o nosso cartaz: “Para mim, a evangelização exige sair de si mesmo; exige a dimensão do transcendente, o transcendente na adoração de Deus, na contemplação, e o transcendente em relação aos irmãos, em relação ao povo. Sair de, sair de! E sair significa chegar a, isto é, a proximidade. Se você não sai de si mesmo, jamais terá proximidade. Estar próximo do povo, estar próximo de todos, de todos aqueles de quem devemos estar perto. Todo o povo! Sair!”. Em dois dias haviam mais de 60 pessoas confirmadas! Apesar disso, confesso que esperava ver cerca de 20 ou 30 estudantes, sendo que acabamos totalizando ao menos 100 alunos de vários cursos e carismas! Um verdadeiro milagre que estava estampado em nossos olhares alegres e agradecidos, também do padre e Bispo que celebraram. Estudantes vieram no final nos dizer: “Precisamos fazer todas as semanas!”, “Precisamos fazer em um lugar muito maior!, “Sempre quis fazer algo assim, obrigado por terem começado!”. Primeirear nos convida o Papa! E eu me repetia outra vez a pergunta de Carrón: O que pode nos tornar uma presença original diante dos desafios diários que vivemos na Universidade? Em um ambiente tão hostil à fé, era Cristo que nos “primeireava”! Assim também fazíamos memória da nossa esperança para a crise e greve que temos vivido nesses tempos. A necessidade que temos de sair, de nos olhar, de nos encontrar, era evidente. Por esse desejo agora estamos convidando a todos para um Ângelus semanal durante o horário de almoço no espaço central do nosso campus universitário. E eu fico inquieta pensando: como será que Ele nos primereia nesse instante? Como será que Ele irá se mostrar dessa vez? Meu coração arde de curiosidade.
Giovanna, Ribeirão Preto (SP)
AGORA SOMOS MAIS IRMÃOS DO QUE OS IRMÃOS
Faz três anos que encontrei o Movimento e, a cada ano, fico nais surpreendida. Dessa vez, descobri o “grupo de Fraternidade”. Um dia, Barbara me disse: “Você vem sábado na Vivian? Ela quer formar um grupo de Fraternidade e perguntou se você quer participar. Nyemeca e Steve também vão”. “Claro que eu vou!”, respondi, mesmo não conseguindo entender bem de que tipo de grupo ela está falando. Chegamos à casa da Vivian pontualmente às três horas que se trata de uma coisa muito séria. Barbara pega o livro da Fraternidade e começa a ler. Vivian explica o que a levou a pedir-nos para formar este grupo. Todos nós tínhamos expressado, em diversas ocasiões, o desejo de nos empenharmos mais com o Movimento. Falamos sobre o prior, a regra, sobre quando nos encontrarmos. Não esperava uma coisa tão importante e, por um instante, pensei que, talvez, devesse ter escolhido com calma as pessoas com quem formar este grupo, mas Jesus tinha me colocado ali. Nunca viraria as costas, nem por todo o ouro do mundo! Nem mesmo pensar na reação do meu marido, a quem deveria falar sobre mais esse compromisso, teria me impedido. Vivian é nomeada priora por unanimidade, decidimos que rezaríamos o Angelus juntos três vezes ao dia, e quando faríamos o silêncio. Moramos longe uns dos outros. Faremos as orações juntos, cada um na própria casa, mas em que horário? De manhã, entre às cinco e meia e seis, antes de sair para o trabalho. Enquanto voltava para casa, sorria comigo mesma, pensando: “Certo, Jesus, você realmente quer tomar tudo”. A união que se criou entre nós quatro é realmente uma coisa do outro mundo. Somos tão diferentes, temos vidas e origens diferentes e, além disso, eu já sou avó, Vivian é mãe, Nyemeca e Steve poderiam ser meus filhos. E, no entanto, nada disso tem importância. Agora somos mais irmãos do que os irmãos. Ajudamo-nos a reconhecer Cristo na vida caótica de Lagos, e os exemplos contados por um tornam-se sustento para os outros; as dificuldades, uma vez compartilhadas, tornam-se ocasião de crescimento; as alegrias, mais alegria. De manhã, quando acordo às cinco e meia, me surpreendo. Se eu não sentisse que Cristo está conosco, quem me faria levantar nesse horário? Disse o meu sim naquele sábado, e Jesus me deu uma companhia que é cem vezes mais do que eu poderia imaginar.
Paola, Lagos (Nigéria)
“Uma Graça de Deus!”
O pequeno Miguel, o Mig, é para cada pessoa que se envolve com a sua vida e sua história uma grande Graça. Fernanda, sua mãe, era a catequista do meu filho. Ela estava grávida, as crianças a adoravam e cada aula era uma grande festa. Eu e a Suely éramos as mães que cuidavam do lanche das crianças. Aos poucos começou a nascer uma bonita amizade entre nós. Um dia Fernanda nos conta das suspeitas dos médicos de que o bebê teria Síndrome de Down. Todos nós rezamos muito para que fosse feita a vontade de Deus e para que o coração da Fernanda e do Leandro, seu marido, ficasse em paz. Quando a suspeita se confirmou, vimos uma jovem marcada por uma profunda dor e por uma profunda certeza: “Ele não veio para mim à toa”. Aos poucos, eu e a Suely começamos a assumir a turma. Um dia tentamos convencer Fernanda a ficar em casa e descansar um pouco e ela respondeu: “Não, de jeito nenhum! Eu preciso olhar para os filhos de vocês para acolher cada vez mais o meu filho”. Miguel nasceu prematuro e a Fernanda tornou-se uma das mães de UTI. Deus começou então a escrever uma nova história no grupo da catequese da Capela da PUC. As crianças acompanham tudo o que está acontecendo. Rezamos juntos pela evolução do Miguel e para que Deus dê forças a seus pais. Os ensinamentos da catequese viram carne e as crianças amadurecem. Fotos, cartinhas, desenhos, orações, tudo é companhia. No dia da Primeira Comunhão ela está lá, cansada, feliz e cheia de histórias para contar. Um novo ano começa na catequese e agora somos três professoras, três amigas, compartilhando a vida dos nossos filhos, a nossa fé e continuamos seguindo os passos de Deus através do Miguel. Na verdade é um Outro quem nos convida a ir cada vez mais alto até tocá-Lo. Cirurgias, internações, pequenas evoluções, a entrada na escolinha, nada na vida do Miguel é banal. Tudo é imenso! E Deus nos ama tanto que nos permite viver tudo isso com ele. O ano de 2013 começa movimentado. Temos uma turma de 37 crianças. Os pais se aproximam, a sala está sempre cheia, propomos várias atividades, as crianças estão evoluindo e o Miguel também. De repente o imprevisível novamente mostra o seu rosto: Miguel é internado novamente. O plano de aula muda. Falamos sobre o pedido e no meio de tantas perguntas, havia uma única certeza: Deus estava nos convidando novamente para algo muito grande. Aquela era a grande ocasião para que, através do Miguel e de sua família, todos nós pudéssemos ser mais de Cristo. Chega o diagnóstico. Miguel, de apenas três anos, havia sofrido um AVC. Ele perdeu os movimentos do lado esquerdo, toda a sua evolução havia ficado para trás. Os médicos descobriram que ele tinha uma síndrome rara chamada Moya Moya. Uma doença que tem uma incidência anual estimada em 0,35 a 0,94 por 100.000 pessoas e que provoca AVCs em série. Fomos invadidos por um monte de perguntas para as quais havia poucas respostas: Ele vai voltar a andar? Quando pode ter outro AVC? Como se trata? Tem cura? A vida da Fernanda e do Leandro torna-se uma completa vigília. Mas a surpresa de Deus é sempre maior. No lugar da prostração, o Miguel era só sorriso e fazia festa com as enfermeiras, médicos e outros pacientes. Mesmo diante do risco do desconhecido, os pais do Mig resolvem submetê-lo a uma cirurgia em um dos lados do cérebro. O procedimento era muito caro e a mobilização para levantar o dinheiro foi surpreendente, envolvendo jogadores de futebol, artistas e anônimos. A catequese abraçou e foi abraçada por esse Acontecimento. Os pais se envolveram, doaram dinheiro, promoveram concerto de música e principalmente rezaram com os seus filhos. Os testemunhos revelavam a mudança das relações em casa a partir da oração com os filhos pela recuperação do Miguel. Nas nossas famílias, nos nossos locais de trabalho, falar do Miguel era a grande oportunidade de falar de Cristo e as pessoas se comoviam, percebiam a verdade de algo grande que acontecia. A cirurgia do Mig foi um sucesso e ele voltou a andar. Começamos um novo ano, uma nova turma, novas famílias e o Miguel sempre lá. Olhando para a Fernanda eu pensei que essa sua entrega devia ser a minha postura todos os dias. Nunca sei o que virá, estou sempre diante de uma porta fechada, um mistério ao qual devo confiar a minha vida e a vida da minha família. Essa impotência é a posição mais realista da nossa humanidade, mas só pode ser vivida com o mínimo de paz se existe uma entrega a alguém que nos ama. Recentemente nos reunimos para comemorar os 4 anos de vida do Mig. A igreja estava lotada. As crianças da catequese formaram um coral para cantar “Viva La Compani”. As palavras da música têm um sentido especial para elas e para nós. Muitos amigos do Miguel estavam lá, crianças fora do “padrão normal” do mundo. Padre Vando disse a todos: “Essas crianças são a graça de Deus, através delas Deus nos ajuda a ver a vida de um modo diferente, do modo correto”. E continuou: “Nos seus quatro anos de vida, o Miguel tem mudado a vida da nossa catequese, a vida das catequistas, a vidas de todos que o conhecem”. Uma Presença que muda tudo. Ele está aqui.
Patrícia Molina, São Paulo (SP)
MAMÃES A BORDO
Sou mãe de cinco filhas pequenas e há algum tempo não consigo participar da Escola de Comunidade (EdC) em grupos por causa da rotina com as crianças. Mas o desejo de ir aos encontros nunca morreu, ao contrário, a necessidade de viver minha missão de mãe à luz da EdC só aumentava. Nas férias nacionais desse ano, em Angra dos Reis, aconteceu algo imprevisto: não fui ao passeio de barco naquele dia por causa da minha filha caçula que passou mal na véspera e então fiquei à beira da piscina. Foi onde conheci a Anelise, que mora no Rio de Janeiro, também com filhos pequenos. Ela me falou de uma grupo de whatsapp chamado “mamães a bordo” em que se ajudam com questões relativas aos filhos e eu logo aderi. Como dizia o cartaz das férias desse ano, “o que buscais?”, com a imagem belíssima do céu de estrelas de Van Gogh, veio à tona através da amizade que nasceu com ela, todo o desejo de viver com uma companhia de amigos vivos a urgência da EdC em um ambiente que levasse em conta a tarefa de ser mãe, sem deixar que distâncias ou horários impedissem a realização desses encontros. Foi assim que surgiu dentro do nosso grupo a proposta da EdC via Skype que contém cerca de vinte mães participando. Diante da exigente rotina com as crianças, não podia deixar prevalecer o desânimo ou esperar até que minhas cinco filhas atingissem a maioridade para só então me relacionar com Ele através do gesto de EdC, e percebi que desejava isso agora e não depois. Notei que outras mães, assim como eu, também desejavam isso, um lugar que ajudasse a reconhecer mais a presença d’Ele dentro de cada circunstância que a vida de uma mãe com uma ou com cinco crianças pequenas exige de nós! Sou grata a essa companhia de amigos vivos que embarcaram comigo nessa aventura virtual, que é tão real como aquele passeio de barco pelas ilhas de Angra!
Claudiana, São Paulo (SP)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón