O monsenhor, escritor e colunista americano morreu aos 73 anos. Foi uma das figuras mais influentes no mundo católico dos EUA das últimas décadas. Amigo dos Papas, explicou Jesus a Fidel Castro
Em meados dos anos Setenta, a um jovem padre porto-riquenho que trabalhava pela arquidiocese de Washington foi confiada uma tarefa aparentemente secundária. “Está aqui na cidade por alguns dias um bispo polonês, leve-o por aí”. “E o que faço ele fazer?”, perguntou. “Veja você, ele não tem compromissos oficiais”. O jovem padre, meio a contragosto, começou a ser motorista do bispo polonês. Em breve tempo descobriram uma multiplicidade de interesses comuns, entre outros, a dramaturgia. Nasceu daí uma grande amizade, que prosseguiu também quando – alguns anos depois – o amigo polonês se tornou Papa João Paulo II. O jovem padre, Lorenzo Albacete, nos anos seguintes se tornou monsenhor e, sobretudo, uma das figuras mais influentes e incomuns do catolicismo americano. E nas suas viagens romanas foi recebido como amigo por dois papas, João Paulo II e Bento XVI.
Monsenhor Albacete morreu na madrugada do dia 24 de outubro em Nova York aos 73 anos, deixando uma ampla coleção de testemunhos, discursos, intervenções como colunista no “New York Times Magazine”, dezenas de presenças nas redes televisivas americanas e um livro para explicar Deus de maneira incomum (“God at the Ritz”). A amizade com Karol Wojtyla foi uma das três que marcaram a sua vida. As outras amizades foram a com Sean Patrick O’Malley, atual Cardeal de Boston, a quem era muito ligado, e a com Dom Luigi Giussani, o fundador de Comunhão e Libertação, o movimento do qual Albacete acabou por se tornar a referência e o teólogo nos Estados Unidos.
O modo simples e claro de Albacete de “explicar” Jesus Cristo atraía seja as pessoas comuns (sobretudo as indecisas ou agnósticas), seja os grandes personagens que encontrou. Em 1998, por exemplo, estava em Havana por ocasião da histórica viagem de João Paulo II e, tão logo o Papa deixou Cuba, Albacete se encontrou falando daquilo que havia acontecido diretamente com Fidel Castro. Ao líder máximo que lhe fazia perguntas sobre a evangelização no mundo, Albacete se pôs a explicar as raízes do “senso religioso” (extraindo a matéria do homônimo livro de Dom Giussani), a importância da figura humana de Jesus e o fato de que era por isso que o Papa “repetiu em Cuba que o compromisso e a defesa do humano é essencial para a evangelização”. Castro ficou tocado por isso, perguntando-se por que os religiosos que havia conhecido quando menino não lhe tivessem nunca apresentado a questão nestes termos.
Albacete tinha uma formação de cientista e descobriu a fé interrogando- -se sobre o mistério da vida enquanto trabalhava em um laboratório. Em seu livro, “God at the Ritz” e nas suas aparições televisivas no “Charlie Rose Show” e nas grandes redes de TV, era essa abordagem científica do “problema” da fé que o caracterizava. Não foi por acaso que o grande ateu Christopher Hitchens escolheu exatamente Albacete em 2008 para um duelo televisivo muito assistido sobre a fé, promovido pela fundação Templeton.
Uma das últimas iniciativas que traz a marca de Albacete foi o nascimento de uma rede de centros culturais católicos, Crossroads, da qual ele era o presidente do comitê científico e que agora segue levando pra frente a sua obra e a abordagem em numerosas cidades dos EUA.
(Texto originalmente publicado no site Vatican Insider)
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