No último mês de outubro, dentro da programação do Rio Encontros, o evento que comemorou os 30 anos da presença do Movimento Comunhão e Libertação no Rio de Janeiro, quatro jovens foram premiados no concurso “A poesia desse encontro”: Gabriel e Amílcar, em 1º lugar; e Ana Carolina e Leonardo, em 2º lugar. Eles expressam a consciência de algo que se assemelha a uma irrupção, ao emergir explosivo de uma vida que, de outro modo, seria impensável. É uma emergência que subtende o chamado de um Outro.
Canção do Desapego
Chorei a tarde toda,
Achava que sem motivo.
Ajoelhei ao lado da cama,
E juntei as mãos em um pedido.
Por favor Deus, se você existe,
Não sou muito de rezar...
Mas cansei de ficar triste,
Mande alguém pra me salvar.
Certa vez minha mãe me disse,
Que os anjos já foram crianças,
Que tiveram a vida interrompida,
Mas já não estou mais na infância.
Essa noite quero sonhar,
Com o vazio e o silêncio.
No fundo do Pacífico,
É o fim do meu tormento.
Joguei fora meus livros,
Minhas fotos, meus vinis.
Para onde estou indo,
Eles não podem ir.
Por favor Deus se você existe,
Não sou muito de rezar...
Essa é a ultima vez que te peço,
Pois não quero incomodar.
Ana Carolina M. Torres da Silva (16 anos)
O rosto
Escuro, um constante escuro e ninguém
para me salvar além de mim
Uma escolha, uma escolha
que não exige nada além
de uma palavra: Sim
Afogo-me, Afogo-me em
um mundo supérfluo
de que não consigo sair
Grito, mas ninguém é
capaz de ouvir.
Nada mais faz sentido.
De que adianta isso tudo,
se me sinto vazio?
Onde está o que devia me preencher
Onde está? Me pergunto, onde está?
Mas espere! O que é isso que vejo
a minha frente? Um homem.
Um homem que estende a mão
tento pegá-la mas não consigo,
pois estou preso ao vazio.
Mas ele insiste e sussurra:
Acredite em mim.
Então vejo seu rosto e grito em pranto:
Acredito, Acredito sim!
E o choro parou, o sofrimento acabou.
a angústia, o lamento, tudo se calou.
Preenchi o vazio que em mim existia, porque,
acreditando, vi aquilo que antes não via: o Seu rosto.
Gabriel Augusto Pereira (14 anos)
Eco
Corra!
A hora é boa,
o relógio é amigo.
O grito abafado explode...
O oceano tá calmo e o som que o toca
É fácil acompanhar.
Então dance, com calma
Sem medo de viver.
O tempo...
é companheiro.
Errar é preciso.
Sem esquecer o grito,
que passa por tudo,
procura em tudo, e
ecoa sempre...
Eco infinito dentro de mim.
Leonardo Gomes B. Lima Filho (13 anos)
Ogrito do homem
Um grito lançado ao infinito,
que ecoa na eternidade,
vaga no vazio.
Procura seu rumo.
O grito que não sabe para onde ir.
À sua volta só há escuridão.
O obscuro o cerca,
e o tonteia dolorosamente.
O grito tem personalidade.
É forte!
É potente!
Provém de jovens e vigorosos pulmões.
Porém sozinho,
é incapaz de lutar contra o desconhecido.
Sozinha, sua força não basta.
Sozinho, sua potência se esvai.
O berro então,
procura outro.
Outro som perdido,
outro grito lançado ao infinito.
O grito imagina uma união.
Se alegra.
Que poder teria!
Que distâncias poderia alcançar!
A esperança fortalece,
aquele pobre grito sofredor.
Tão perdido,
tão sonhador.
Ele segue seu caminho.
Emana suas ondas sonoras
o mais distante que é capaz,
procurando a saída.
A agonia,
o vazio confuso,
porém,
infindáveis permanecem.
A esperança,
lenta e dolorosamente,
morre.
O segundo grito jamais chegou.
Aos poucos,
a garganta cansa.
Os pulmões perdem o fôlego.
O som diminui de volume.
A busca perpétua era impossível.
O vagar eterno,
demandava energia demais,
energia que o grito já não mais possuía.
Enfim, ele cansou.
Subitamente, parou.
Cessou por completo.
Só o silêncio restou.
Perdido nasceu,
perdido permaneceu.
Solitário, sofreu.
Filho do infinito, morreu.
Amilcar Vianna (17 anos)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón