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Passos N.165, Dezembro 2014

PAPA FRANCISCO

“Mantenham o frescor do carisma, respeitem a liberdade das pessoas e sempre busquem a comunhão”

O Discurso na conclusão do III Congresso mundial dos Movimentos eclesiais e Novas Comunidades, realizado em Roma, de 20 a 22 de novembro de 2014, com o tema “A alegria do Evangelho, uma alegria missionária”.

Acolho-os com prazer, por ocasião do Congresso que estão realizando com o apoio do Pontifício Conselho para os Leigos. Agradeço ao Cardeal Rylko, também por suas palavras, e a Dom Clemens. No centro das suas atenções, nestes dias, estão dois elementos essenciais da vida cristã: a conversão e a missão. Eles estão intimamente ligados. De fato, sem uma verdadeira conversão do coração e da mente não se anuncia o Evangelho, mas se não nos abrirmos para a missão não é possível a conversão e a fé se torna estéril. Os movimentos e novas comunidades que vocês representam são agora levados para a fase da maturidade eclesial, que requer uma atitude vigilante de conversão permanente, a fim de tornar sempre mais vivo e fecundo o impulso de evangelização. Por isso, gostaria de oferecer algumas sugestões para o seu caminho de fé e vida eclesial.

1. Antes de tudo, é necessário o frescor do carisma: que você não deteriore este frescor! Frescor de carisma! Renovando sempre o “primeiro amor” (cf. Ap 2.4). Com o tempo, cresce a tentação de acomodar-se, de enrijecer-se em esquemas tranquilizadoras, mas estéreis. A tentação de engaiolar o Espírito: esta é uma tentação! No entanto, “a realidade é mais importante do que a ideia” (cf. Evangelii gaudium, 231-233 ); se uma certa institucionalização do carisma é necessária para a sua sobrevivência, não devemos nos iludir de que estruturas externas podem garantir a ação do Espírito Santo. A novidade de suas experiências não consiste nos métodos e formas, que também são importantes, mas na disposição de responder com renovado entusiasmo ao chamado do Senhor: é esta coragem evangélica que permitiu o nascimento de seus movimentos e novas comunidades. Se formas e métodos são defendidos por eles mesmos se tornam ideológicos, distantes da realidade que está em constante evolução; fechados à novidade do Espírito, acabarão por sufocar o próprio carisma que os gerou. Devem retornar sempre às fontes dos carismas e encontrarem ali o ímpeto para enfrentar os desafios. Vocês não fizeram uma escola de espiritualidade assim; não fizeram uma instituição da espiritualidade assim; vocês não são um grupeto... Não! Movimento! Sempre na estrada, sempre em movimento, sempre abertos às surpresas de Deus, que estão em sintonia com a primeira chamada do movimento, aquele carisma fundador.

2. Outra questão é a forma de acolher e acompanhar os homens do nosso tempo, especialmente os jovens (cf. Evangelii gaudium, 105-106 ). Nós somos parte de uma humanidade ferida, – temos de dizer isso! – onde todas as instituições educativas, especialmente o mais importante, a família, passam por sérias dificuldades em quase todos os lugares do mundo. O homem de hoje vive sérios problemas de identidade e tem problemas para fazer suas próprias escolhas; portanto, tem uma disposição para deixar -se influenciar, delegar a outros as decisões importantes da vida. Devemos resistir à tentação de substituir a liberdade das pessoas e encaminhá-los, sem esperar que amadureçam realmente. Cada pessoa tem seu tempo, anda por seu próprio caminho e temos que acompanhar este processo. Um progresso moral ou espiritual conseguido a partir da imaturidade das pessoas é um aparente sucesso, destinado ao fracasso. Melhor poucos, mas caminhando sempre sem querer apenas dar um show! A educação cristã, ao invés disso, requer um acompanhamento paciente que sabe esperar o tempo de cada um, como o Senhor faz com cada um de nós: o Senhor tem paciência conosco! A paciência é a única maneira de amar de verdade e levar as pessoas a um relacionamento sincero com o Senhor.

3. Outra indicação é a de nunca esquecer que o bem mais valioso, o selo do Espírito Santo, é a comunhão. Esta é a suprema graça que Jesus, na cruz, conquistou para nós; a graça que ressuscitado pede para nós incessantemente, mostrando suas chagas gloriosas ao Pai: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17: 21). Para que o mundo creia que Jesus é o Senhor é necessário que veja a comunhão entre os cristãos, mas se são vistas divisões, rivalidades e fofocas, o terrorismo da tagarelice, por favor ... se são vistas estas coisas, qualquer que seja a causa, como se pode evangelizar? Lembrem-se deste outro princípio: “A unidade prevalece sobre o conflito” (cf. Evangelii gaudium, 226-230 ), porque o irmão vale muito mais do que nossas posições pessoais: é por ele que Cristo derramou o seu sangue (cf. 1 : Pd 1: 18-19), pelas minhas ideias ele não derramou nada! A verdadeira comunhão, então, não pode existir em um movimento ou em uma nova comunidade se não estiver integrada na comunhão maior que é nossa Santa Mãe Igreja hierárquica. O todo é maior do que a parte (cf. Evangelii gaudium, 234-237) e a parte tem sentido em relação ao todo. Além disso, a comunhão também consiste em enfrentar juntos e unidos as questões mais importantes, tais como a vida, a família, a paz, a luta contra a pobreza em todas as suas formas, a liberdade religiosa e de educação. Em particular, os movimentos e comunidades são chamados a trabalhar em conjunto para ajudar a curar as feridas causadas por uma mentalidade globalizada que coloca o consumo no centro, esquecendo-se de Deus e dos valores essenciais da existência.

Para chegar à maturidade eclesial, portanto, mantenham – repito – o frescor do carisma, respeitem a liberdade das pessoas e sempre busquem a comunhão. Não se esqueçam, porém, que para atingir esse objetivo, a conversão deve ser missionária: a força para vencer as tentações e deficiências vem da profunda alegria de anunciar o Evangelho, que é a base de todos os seus carismas. De fato, “quando a Igreja chama ao compromisso com a evangelização, não faz outra coisa que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal” (cf. Evangelii gaudium, 10), a verdadeira motivação para renovar suas vidas, porque a missão é participação da missão de Cristo, que nos precede sempre e nos acompanha sempre na evangelização.
Queridos irmãos e irmãs, vocês já trouxeram muitos frutos para a Igreja e para o mundo inteiro, mas irão trazer outros ainda maiores com a ajuda do Espírito Santo, que sempre suscita e renova dons e carismas, e com a intercessão de Maria, que não cessa de socorrer e acompanhar seus filhos. Vão em frente: sempre em movimento... Não parem nunca! Sempre em movimento! Garanto-lhes as minhas orações e peço que orem por mim – eu preciso realmente – enquanto vos abençoo de coração.
Agora vos peço para rezaremos todos juntos a Nossa Senhora, que fez esta experiência de conservar sempre o frescor do primeiro encontro com Deus, de ir em frente com humildade, mas sempre no caminho, respeitando o tempo das pessoas. E depois de não cansarem nunca de ter este coração missionário.
© Copyright - Libreria Editrice Vaticana
(Traduzido pela redação)


 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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