Uma amizade simples e verdadeira que nasce do compartilhar um pouco de tempo e alguma comida todos os meses. O desejo de oferecer um banquete para as famílias assistidas, e a correspondência desta doação de si
Todos os meses, há mais ou menos quatro anos, um grupo de amigos sobe o Morro dos Cabritos, em Copacabana, para fazer a Caritativa. Este o gesto de caridade desejado por Dom Giussani, fundador de Comunhão e Libertação, para educar os homens, através da fidelidade a um gesto exemplar, que a lei última da existência é a caridade, a gratuidade. São muito numerosas as atividades propostas como caritativa, desde aulas de catecismo até fazer companhia aos idosos, passando pelo reforço escolar. No caso destes amigos do Rio de Janeiro, eles entregam mensalmente uma cesta básica de alimentos para algumas famílias da comunidade, sempre indo visitá-las em duplas ou trios. Há três anos, pela experiência de amizade que nasceu com essas famílias, resolveram organizar um momento de convivência, sempre no final do ano, para se conhecerem melhor. Desejavam estar juntos para compartilhar a experiência com as outras famílias e também para que elas pudessem conhecer todos os outros voluntários da caritativa, que de alguma forma trabalham para o gesto, mas que não são aqueles que os visitam em suas casas todos os meses. Para 2014, seguindo um pouco o exemplo dos amigos da Espanha que prepararam o gesto “Te invito a cenar”, resolveram propor um almoço para as famílias assistidas, que hoje são no total de 11, somando 48 pessoas entre crianças e adultos. O desejo era de fazer algo muito bonito, e decidiram preparar o salão da Capela de São Benedito, lá no morro, como se fosse um restaurante, pois alguns deles nunca entraram num. As mesas foram decoradas com toalhas de pano e guardanapos coloridos, com prato e copos de vidro, e arranjos. “Convidamos o Bernardo, um amigo que é chef de cozinha, e ele nos ajudou a preparar uma refeição completa com primeiro prato, segundo prato e sobremesa, além de bebidas. E nós, voluntários, serviríamos a todos. Além disso, pensamos também num momento de músicas e brincadeiras”, conta Luciana, uma das responsáveis pela caritativa.
E eles partiram do zero, enfrentando os desafios para conseguir doações. Tinham na memória o que havia ocorrido no ano anterior, em que, literalmente, “o Senhor havia preparado tudo”.
Luciana comenta: “Eu confesso que me apeguei ao testemunho do meu amigo Walter que nos contava como havia sido a preparação do Rio Encontros, ocorrido em outubro passado. Ele dizia que com os amigos que estavam com ele, ele poderia continuar indo em frente sem medo, seguindo o coração! E assim, fizemos! E Cristo novamente preparou tudo, desde os mínimos detalhes da decoração, das músicas, do almoço que estava uma delícia! Até conseguimos dinheiro para entregar os cartões de presente com vale-compras, que costumamos dar sempre no final do ano para as famílias. Acabou que no final foi tudo perfeito! Não porque fizemos uma comida super chique ou algo assim, mas porque estávamos felizes, cansados, mas felizes. Ninguém se queixava de ‘estar pendendo’ tempo ali. E por mais que pensássemos que iríamos oferecer algo para eles, apesar de tudo, foram eles que novamente nos ofereceram tudo! Tudo! Tudo o que eles tinham!”. Luciana se comove ao se lembrar de Ruth, que faz parte de uma das famílias que encontram. Ela dizia que não poderia ter faltado àquele encontro. Mas não porque ela queria ganhar presentes ou comer uma comida boa – talvez isso nem tenha passado pela cabeça dela –, mas dizia que era a forma que ela tinha de agradecer, de dizer que os respeita, que os ama. “Ela repetia que amava muito a todos nós! Se pudesse, compraria uma rosa para cada um, mas ela não tinha dinheiro. Mal sabe ela que não havia nada neste mundo que pudesse substituir o seu olhar... Quisera eu poder transmitir de forma real aquele olhar”.
Um ponto de partida. Rafaela conta que aderiu ao gesto pelo desejo de seguir seus amigos que fazem uma experiência bonita e verdadeira ao encontrar essas famílias, e desejou o mesmo: “Nós demos a nossa disponibilidade e o Mistério nos surpreendeu. Naquele domingo fui à missa com o coração cheio. E voltando para casa eu olhava para os meus filhos e me sentia mais mãe. Olhava para o meu marido e me sentia mais esposa”. Também para Luciana, este momento de convivência extrapolou aquele gesto: “Alguns dias após o almoço, me dei conta de que havia sido perfeito porque, primeiro, olhamos com muita afeição uns para os outros, desde a maneira como pensamos o gesto até a limpeza da cozinha e do salão após o almoço. Eu me empenhava de forma surpreendente porque queria o bem demais dos amigos que estavam me ajudando neste gesto e foram essenciais para que eu pudesse seguir em frente e não duvidar de que Cristo cuidaria de tudo. E isso agora faz parte de tudo, não duvido um só minuto da promessa de felicidade que me foi feita. Quero acreditar sempre mais nos desejos que o Senhor planta no meu coração. A caritativa tem sido um bem inestimável para minha vida, a ponto de não perder nenhuma oportunidade de ir lá e aprender, e ver o que o Senhor irá me educar. Não consigo pensar mais que nós vamos lá para proporcionar algo àquelas pessoas, porque incrivelmente são sempre eles que me modificam, que me melhoram”.
Outro voluntário, o italiano Andrea, conta como viveu este gesto: “Eu me perguntei: ‘Quem fez esse gesto? Só a gente, ou a gente junto a um Outro?’. Ao preparar o almoço, ao servi-lo naquele dia, e logo após do gesto, ficou claro para mim que tudo estava sendo feito em ‘quatros mãos’: as nossas e o mistério de Cristo. Não tinha explicação o fato de como tudo ficou pronto em tempos curtos e com muita participação de amigos e voluntários. Além disso, as famílias nos testemunharam um grande carinho e um amor fraterno, difícil de ser concebido, já que vivemos em situações sociais diferentes. Por um lado, os dramas e as lutas das comunidades do Rio de Janeiro e, por outro, as nossas vidas que se movem em outro círculo. Aquilo que recebemos em troca foi uma grande graça. Pude reconhecer Cristo no ato de servir, mesmo sendo um pequeno gesto”. Este é um exemplo do que afirma Papa Francisco, na Evangelii Gaudium: “Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles... Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” (198).
E Andrea completa: “Por isso, eu diria que a minha participação no gesto foi muito educativa porque me mostrou que no dia-dia da vida, que às vezes pode parecer árido ou muito difícil, sempre há espaço para uma novidade e um novo início que nos é dado”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón