As forças que movem a história
A notícia de que, numa delação premiada o PT foi acusado de receber ilegalmente 200 milhões de dólares da Petrobras, a derrota do governo na eleição para a presidência da Câmara Federal, vencida pelo deputado Eduardo Cunha, indicações questionáveis para cargos importantes e a convocatória para atos públicos pró- -impeachment de Dilma Roussef deram o clima para a política brasileira neste mês de fevereiro. Num momento de crise, no qual a confiança na ação eficiente do governo é fundamental, a presidente, seus auxiliares diretos e seu partido são incapazes de gerar boas notícias. A população sabe que terá tempos de sacrifícios pela frente, e está disposta a fazê-los, desde que se mostrem necessários e úteis, que não se tenha a aviltante impressão de que o povo se sacrifica para pagar pelas mazelas dos corruptos.
O momento atual implica em sacrifícios materiais que, mal administrados, pesarão mais sobre aqueles que já são mais pobres e fragilizados na sociedade e sobre a classe média. Em suas declarações, os representantes do governo dizem que estão tentando evitar que isso aconteça, ou explicam que se tratam apenas de sacrifícios passageiros com vistas a um bem futuro. No entanto, sua retórica parece convencer cada vez menos a população – vide as quedas de aprovação da presidente em pesquisas de opinião recentemente divulgadas.
Além disso, existe um fator intangível, mas real e decisivo. “As forças que movem a história são as mesmas que movem o coração dos homens”, lembra-nos Dom Giussani em O eu, o poder e as obras (Ed. Cidade Nova, 2001). E o coração de cada um de nós anseia por respeito e possibilidade de realização de uma vida digna, de uma sociedade justa e de um futuro sempre melhor. A grande maioria dos brasileiros está disposta a sacrifícios e esforços para a construção do bem comum e de um futuro promissor para nós e nossos filhos. Porém os governantes e toda a sociedade devem dialogar com estas exigências de nosso coração, elas devem ser respeitadas e atendidas: as condições materiais podem nem sempre ser favoráveis, mas sempre existem condições para respeitar o desejo de dignidade que está no coração de cada um de nós.
Quando este desejo de dignidade não é respeitado, os movimentos sociais tendem à violência, o desejo de construção é perdido, a esperança dá lugar à raiva. Contudo o poder, por si só, não tem a capacidade de dialogar de forma construtiva com o desejo do nosso coração. Por isso, este é um tempo em que somos particularmente convidados a recuperar o desejo mais profundo de nosso coração e transformá-lo em capacidade de encontro e construção. Este grande país que é o Brasil precisa urgentemente de que seus governantes mostrem a eficiência e a probidade necessárias para superar o momento atual, aquela pequena parte do Brasil que é a vida de cada um de nós precisa urgentemente de que testemunhemos quais forças movem nosso coração.
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