Vai para os conteúdos

Passos N.101, Fevereiro 2009

DESTAQUE - NÁPOLES

O sol no meio do beco

por Davide Perillo

Um bar que se transformou em “linha de frente do trabalho missionário”. Mulheres que, a partir de um gesto de caridade, descobrem “um mundo mais real”. Homens que queriam fugir e hoje fazem festa no bairro. Cenas de um bairro de Nápoles onde a “crise” é permanente. Mas onde está acontecendo algo capaz de derrotá-la

Becos, barracos, pontos azuis sobre a fileira de pães. A gente vira a esquina, desviando da última scooter, sobe mais um pouco e chega ao portão de ferro, encaixado num muro maciço. Visto de fora, nada de mais. No entanto, o coração de Nápoles pulsa ali dentro, Vico Castrucci, número 4, num casarão de cinco andares que se abre de repente em torno de um espaço cheio de palmeiras e pés de limão. Era a casa onde estudavam os padres vicentinos, que estavam se preparando para o trabalho nas missões. Agora, são poucos os seminaristas. Mas salas e corredores estão cheios de vida: pensionato para os universitários, quartos para acolher os turistas, salas para as atividades pós-escolares e novos espaços recém-construídos. E gente que entra e sai daquele edifício com cozinha, varanda e salas dotadas de computadores. É a sede de um Centro de solidariedade que tem o mesmo nome do bairro: Rione Sanità. São cem mil habitantes, duas paróquias e um labirinto de ruas e de histórias.
Viemos até aqui com uma hipótese na cabeça. Logo compreendemos que não era sem fundamento. Por entre esses becos desenrola-se algo que interessa a todos nós. Por toda a parte ouve-se falar de crise, de falta de dinheiro e de certezas colocadas em xeque, que afetam até mesmo o modo como vemos a nós próprios, não? Bem: aqui, a crise é permanente. A única coisa estável, num ambiente em que as palavras que a gente mais ouve, como se fossem um refrão, são “desemprego”, “precariedade”, e até “solidão”, o que soa como blasfêmia num lugar tão cheio de gente; no entanto, é um dado real, assim como as famílias desfeitas e os laços rompidos. Junte a isso os problemas de sempre, que a imprensa não se cansa de colar à imagem da cidade (máfia, drogas, inquéritos policiais...), e o resultado é uma condição de vida em que se teriam todas as razões para a gente sentir, aqui, falta de ar nos pulmões e de terra sob os pés. Para a gente se sentir em crise.

INFERNO E PARAÍSO. Mas não é o que acontece. Trata-se de um lugar onde se respira cada vez mais vida. Onde, frente a tempos bicudos, “tudo está reflorescendo”, como diz Tonino Romano, responsável do Movimento em Campânia, antes de detalhar nomes, histórias “e fatos que você mesmo poderá constatar”. Essa é a nossa missão: ver uma humanidade que, com ou sem crise, pode crescer em qualquer lugar. E entender o que torna isso possível, o que mudou as vidas de Tonino, de Felice, de Mario e dos outros diplomados que, vinte anos atrás, em vez de seguirem carreira, decidiram lançar raízes neste lugar. E o que convenceu tantos outros, nascidos e crescidos aqui, a não ir embora, porque em meio aos becos vem acontecendo algo que está mudando tudo. Aqui, entrou o sol, “as paredes ficaram coloridas”, como canta em dialeto local Alfredo Minucci , a voz do bairro, citando uma música que fala propriamente de sua casa, mas que relata a vida de muitos daqui.
Vejam Nando, o dono do bar que dá para a Rua Vergini. Mario sustenta que esse bar é, hoje, uma “linha de frente” no trabalho missionário: Nando está ali para dizer a todos “a realidade que encontrou”. E isso é anunciado pelas mesinhas e bancas de produtos à venda na calçada e por uma vitrine contendo uma nota histórica (“Antiga Sorveteria da Rua Vergini, de 1928”) e que guarda outros sinais em seu interior, como o furo de uma bala acima da tranca de ferro, dando razão a Nando quando define, numa frase, este bairro: “Um encontro entre inferno e paraíso”. Parecerá estranho, mas um aperitivo do paraíso está ali, nos rostos alegres que a gente vê atrás do balcão, onde Pasquale serve café e sorri. Sua história já bastaria para fazer entender que aqui está acontecendo algo diferente. Há alguns anos, trabalhava como azulejista. Um trabalho que fracassou, abrindo um buraco no orçamento da família e que, junto com outros problemas, acabou por derrubá-lo. Aí, se deu o encontro. E aquela frase de Tonino que ele carrega dentro de si: “Não se preocupe, Pasquale, alguma coisa vai acontecer”. “Eu fiquei me perguntando por alguns dias: mas o que é que vai acontecer?”. A verdade é que já tinha acontecido. Era o início de uma amizade, concretíssima, que trouxe junto também o emprego, justamente no bar do Nando. Nesse meio tempo, outra história se desenrola, como ele conta sentado no depósito, diante de fotos e recordações do time do Nápoles. “Eu já os conhecia, mas apenas de vista; o Tonino mora aqui em cima, ‘bom dia’, ‘boa tarde’, só isso. Certo dia, entra aqui sua mulher e me entrega um folheto convidando para um encontro na Mostra d´Oltremare. Eu disse à minha mulher: acho que é gente boa. Vamos ver o que é.”

“VAMOS TOMAR UM CAFÉ.” Foram mesmo. E o que viram e ouviram, sobre o palco ao lado de Tonino, foi padre Julián Carrón, guia de CL, e a posposta cristã. Essa reunião de dois anos atrás foi um momento de virada, dizem todos do bairro. E Nando está entre os mais impressionados. Ele o conta em todos os lugares. Foi ele quem convidou Alfredo, amigo de uma vida e cantor que carrega dentro de si uma grande fome de beleza e de verdade, que desponta poderosa em todos os versos de suas músicas. Amizade à primeira vista. E sem nada de sentimentalismo. Na primeira vez em que cantou perante aquela gente, Alfredo ficou impressionado: “Eles escutavam os textos com uma atenção que eu nunca tinha visto antes”. Uma outra coisa toca Nando, na medida em que vai se aprofundando o relacionamento com “aquela turma”. “São todos formados, profissionais... Entender por que resolveram viver aqui, e não nos altos escalões de Nápoles, foi algo que nos estimulou muito. Descobrimos uma nova perspectiva. Os problemas não desaparecem, mas agora nós os enfrentamos de uma forma diferente.”
Diferente. Como o início da jornada diária, que, para Nando, é quase um ritual: levanta a tranca às 6 horas e dá de cara com um jovem da região, sempre o mesmo, um dos muitos problemáticos que vivem por aqui. “Antes, era fácil dizer a ele: ‘por favor, saia daí que preciso trabalhar’. Agora é diferente. Eu lhe digo: ‘entre, vamos tomar um café.’”
Saímos do bar e passamos por becos plenos de história, onde os nomes remetem a uma caridade que nunca se perdeu (Santa Maria Succure Miseris, Monte dei Poveri Vergognosi, ‘a Misericordiella…) e até os tijolos dos muros falam de povo e nobreza. “Aquele ali, com aquelas escadas que se cruzam, é o Palazzo Sanfelice: vem gente de todo o mundo para estudá-lo”, conta Massimo Rippa, arquiteto e responsável por um guia do bairro que acabou de ser publicado (veja o Box). “Lá atrás está a casa onde nasceu Totò (Antonio De Curtis, comediante italiano; nde). Em cima, a ponte desenhada pelos franceses, que foi construída para tirar o bairro do caminho da família real, e que deu início à sua decadência.” Um pouco mais à frente, está a casa aonde veio morar padre Alex Zanotelli, ex-diretor de revista Nigrizia: transportou para cá as lutas contra a pobreza que fazia na África. Nápoles é igual a Nairóbi: terra de fronteira. A Basílica é dedicada a Santa Maria. A gente entra na sacristia e, no recinto-museu, entre relicários, objetos sacros e o busto de San Gennaro, está também uma bola do time do Nápoles. Um retrato daquele povo, sem dúvida.

NA CASA DO SANTO. Aquele outro edifício, quase de frente aos vicentinos, tem uma rica história: é a casa de Afonso Maria de Ligório, o santo do século XVIII. Sua herdeira, dona Paola de Ligório, vive ainda nessa casa. Retornou para cá há pouco tempo, depois de uma vida vivida em Roma; veio justamente para combater a decadência do edifício.
“Quando pequeno – conta Rippa –, para mim, essa casa representava Nápoles. Se conseguir arrumá-la, de certo modo estarei ajudando a arrumar a cidade.” Pergunto-lhe qual a base da sua esperança. Resposta: “Não sei. Eu, por natureza, sou otimista, mas para esperar é preciso trabalho e cultura. E, aqui, essas são palavras difíceis”. Trabalho e cultura, isto é, educação. Falamos a mesma língua.
Acontece um outro encontro. Dona Paola é convidada por Ubaldo para uma festa no bairro, naquela mesma noite: “Venha ver”. Ela irá, com certeza.

“É A MINHA FAMÍLIA.” O passeio prossegue. Encontros, saudações. Uma senhora conversa ao pé do ouvido com Mario. Ele sorri: “Não se preocupe, senhora”. Pouco adiante, explica: “Ela queria saber quando vai chegar o pacote”. O “pacote” é oferecido pelos Bancos de Solidariedade: alimento para as famílias mais necessitadas, trazido por voluntários, que estabelecem com as pessoas uma relação de amizade. No bairro, há quase duzentos assistidos. A necessidade tem aumentado tanto e tão depressa que foi necessário fazer uma interrupção por algumas semanas, para que o pessoal se reorganizasse. Nesses dias, do lado de fora do Vico Castrucci era possível ver gente que batia na porta, enfurecida: “Por que não trazem mais os pacotes? É uma enganação, vocês ficam com os pacotes pra vocês”. “Sabe o que aconteceu?”, conta Felice Siciliano, responsável pela CdO local: “Anna, uma das mulheres que encontramos e que mora logo ali adiante, saiu à frente do seu barraco e começou a brigar para nos defender: ‘Não façam isso, essa gente é a minha família’”.
Deve ser por isso que aumenta cada vez mais o número dos voluntários e dos amigos do Movimento. Mulheres que antes só recebiam o pacote e que agora se desdobram para levá-lo a outros assistidos. “Dias atrás, fizemos uma assembléia”, diz Tonino. “Para provocá-los, a certa altura eu disse: como parece que está havendo problemas, talvez seja melhor a gente parar.” Levantou-se uma outra Anna, uma mãe do bairro, encontrada há pouco tempo, e respondeu: “Mas você está louco? Para mim, essa caridade é muito importante. Me fez descobrir uma vida nova. Salvou a mim e ao meu marido. Por que parar?”.
Anna usa essas mesmas palavras (“caridade” e “vida nova”) quando a encontro depois, no Centro. E acrescenta outras, que fazem a gente arrepiar, porque são muito profundas. “Não existe pessoa que não tenha um valor, bem dentro de si. Vocês me ajudaram a conhecer um mundo mais real. Hoje eu não vivo sem isso. Preciso estar aqui. É uma coisa minha.” É impressionante perceber que as frases de Dom Giussani despontam tais e quais, da carne deste povo.
“Olhe, a Escola de Comunidade, aqui, é de fato uma vida”, explica Tonino. “A gente não pode fazer discurso; se fizer, depois de um minuto eles se dispersam. É muito bonito. Caem por terra os esquemas, e nós vamos aprendendo com o que eles dizem”. Aprender com a outra Anna, aquela que nos defendeu diante das vizinhas, que um dia foi ao médico e ao ouvir certas conversas negativas na sala de espera disse mais ou menos o seguinte: “Minha gente, eu também vivo uma vida difícil e tenho um monte de problemas. Mas encontrei uma coisa muito bonita que me ajuda a vivê-la”. “E o que é? Quem é você?” “Eu sou a Ana-de-Comunhão-e-Libertação.” Assim, no ato, porque isso já faz parte da sua vida e, portanto, também do seu nome. Basta observar seu rosto para perceber que é assim mesmo. Ouvi-la falar da dor, dos filhos, do encontro imprevisto que a levou a se casar com o marido na igreja, depois de vinte anos vivendo juntos (o celebrante? Pe. Eugenio Nembrini, bergamasco fanático e reitor do Colégio Sagrado Coração de Milão, que é tão popular por aqui como no Casaquistão, onde trabalhou como missionário), e que hoje pediu que ela o trouxesse aqui ao Centro de solidariedade sempre que possível, “porque sempre pode acontecer alguma coisa. Minha avó dizia: ‘em uma hora, Deus trabalha’”.

PONTO FIRME. E como trabalha! Mas é preciso olhar em profundidade aquilo que Ele faz, para evitar o risco de cair nos costumeiros lugares-comuns sobre a Nápoles “da pizza, do bandolim e do coração na mão”. Os problemas continuam, e muito sérios. A droga ainda circula. A exploração cresce. Até o jogo faz a sua parte, com mães de família que passam noites inteiras jogando – e perdendo – dinheiro na tombulella. “Mas quem encontrou o positivo se apega a ele e não larga mais, porque entendeu que existe um porto seguro”, diz Ubaldo, um dos primeiros a chegar aqui, ainda quando era estudante universitário.
Eram os anos 80. Os jovens bagunceiros do bairro viam aqueles moços entrando e saindo do portão de Vico Castrucci e começaram a se perguntar: “Mas o que acontece lá dentro?”. As atividades pós-escolares começaram assim, quase que por acaso. E lançou raízes, numa frase que Tonino ouviu de Dom Giussani: “Em Nápoles muda tudo, sempre. Precisamos de um ponto firme em meio ao caos”. O ponto firme, graças também à paternidade dos vicentinos, acabou sendo aquela sede. “Terminados os anos de estudo, Tonino e os outros decidimos continuar no bairro”, conta Mario. “Talvez havia em nós um pouco de inconsciência. Agora, não, a consciência é plena. E não mudaremos de opção por nada deste mundo.”

POVO A SER EDUCADO. Ele tem razão. É só a gente se colocar na pele desse pessoal, gente acostumada desde o nascimento a ouvir a ladainha: “não tem jeito, não há nada a fazer”. E que, ao contrário, um passo depois do outro, na própria experiência vê florescer uma possibilidade real de salvação. Algo que funciona também ali. Que é vitoriosa também ali. Pensem como deve ser ligar-se cada vez mais àquele Algo, àquele Fato encontrado anos antes e que quanto mais a gente avança, mais humanidade vai gerando! Em nós mesmos e ao nosso redor.
Como é possível largar tudo isso? Tonino lembra com frequência uma outra frase de dom Giussani: “Estávamos de carro percorrendo o anel viário. Ele me fez encostar num ponto de onde se via tudo; olhou a cidade do alto e me disse: Tonino, aqui ainda existe um povo. Porém, ele precisa ser educado. Estamos compreendendo agora o que ele quis dizer”.
Educação. Outra palavra-chave. A educação, aqui, não se dá só através da obra do Centro, ou nas duas escolas (1.300 alunos) que assumimos, no poliesportivo do qual Mario é diretor e que mistura os jovens da periferia com aqueles da classe média (algo difícil por estas bandas), ou na ajuda levada por Pippo Angelico, o empreendedor milanês que está dando uma mão notável aqui. Acontece também em momentos como o encontro público de um ano atrás sobre o “caso monnezza” (greve de protesto que deixou acumular toneladas de lixo, durante meses, nas ruas de Nápoles; nde), em meio àquela emergência que, vista a partir do resto do mundo, era um escândalo, mas vivida aqui era muito pior. “A gente voltava de noite e não podia nem entrar em casa”, conta Felice. “E parecia que não havia nada a fazer.” Daí a pergunta insistente, quase um grito: “O que isso tem que ver com a experiência cristã? Se não tem nada que ver, significa que estamos fazendo tudo errado”. Naquela noite, no Teatro Mediterrâneo, em meio a testemunhos, cantos e relatos de quem estava nas barricadas, muitos descobriram que tinha que ver, sim. “Encontramos muitas pessoas ali”, conta Tonino. “Depois, todos diziam: Estávamos deprimidos, procurávamos uma distração. Ao invés disso, nos vimos diante de uma proposta de vida. Muitos deles não se desligaram mais.” Foram necessários ainda alguns meses até que chegassem os caminhões para limpar as vielas, mas foram meses vividos de maneira diferente. “Havia um ponto a partir do qual se podia construir algo, e não era só uma reação passageira”, explica Felice. Enfim, depende de onde a gente apoia os pés. E de não estar sozinho. Como é o caso da crise atual.

PROJETOS E REALIDADES. A gente vai refletindo, enquanto retorna à sede. É ali a festa. Música e comida variada. Pesca beneficente e macarrão. Um bingo e o testemunho de padre Paolo, que trabalha no Paraguai, junto com padre Aldo Trento. E famílias, crianças, alunos, mães de família..., o povo do bairro, que festeja a si mesmo e a aproximação do Natal, sob um cartaz feito justamente para narrar os últimos meses: “Um encontro que corresponde além de toda expectativa”. “Foram eles que fizeram, não fomos nós”, diz Mario. “Eles” são Anna e Pina, Ciro e Antonietta, e muitos outros. Mães e pais de alunos do pós-escola, que são uns oitenta, sem falar de outro tanto que aguarda na lista de espera. “Nós os ajudamos a estudar, o que, na situação deles, é fundamental. Mas eles fazem também esporte ou trabalham nos laboratórios”, explica Annarita, uma das responsáveis. “O critério é seguir cada pessoa: se alguém leva jeito e gostaria de tocar guitarra, por exemplo, nós procuramos ajudá-la a estudar.” É assim que vão se tornando homens aquelas caras de crianças que nos olham do álbum de fotos, enquanto Maria Assunta folheia páginas e histórias. “Este é Carmine, um dos primeiros. Quando chegou aqui, tinha sempre a cara fechada. Agora conseguiu tirar o diploma. Ali está Pietro: semiautista, não só tímido, como haviam nos dito no começo. Está aprendendo o ofício de artesão de cerâmica. E com o tutor que o acompanha, agora se mete também a cantar.” E mais: a senhora que, depois da morte do marido, vem aqui todos os dias para ajudar na cozinha; e as outras que vêm para ajudar na limpeza, todas voluntárias; a mãe de três filhos que já havia decidido abortar o quarto. “Falamos com ela e compreendemos que era uma questão de pobreza”, relata Maria Assunta. “Nós a ajudamos e a criança nasceu. Mas a coisa mais bonita é a sua mudança. Veja, aqui não se trata de fazer projetos, mas de enfrentar aquilo que a realidade põe diante da gente. As necessidades são tão grandes que se tivéssemos a pretensão de resolvê-las todas, nos perderíamos.” E aí? “Muitas vezes o problema do álcool permanece; o da falta de dinheiro também”, diz Annarita. “Porém, a gente os vê sempre contentes. E nos perguntamos: como isso é possível? E então descobrimos que nós é que estamos recebendo a caridade.”

A VOZ DE DEUS. São também as palavras de Patrizia, que acabou de se desligar do trabalho para ficar em tempo integral no Centro: “O que fazemos com os jovens nos ajuda a descobrir a nós mesmos. Aqui, há uma riqueza sem tamanho”. A impressão nítida é de uma ressurreição, de um tecido humano já rico em si mesmo e que, ao se encontrar com o cristianismo, floresce plenamente. “Mas não é só um reflorescimento”, esclarece Mario. “Trata-se de descobrir a sua origem. Nos perguntamos várias vezes se valia a pena continuar aqui. Agora, não fazemos mais esse questionamento. Estamos livres: podemos mudar tudo amanhã mesmo, se houver necessidade. E talvez o cristianismo seja justamente isso: poder recomeçar a qualquer momento, seguindo o que a realidade nos sugere.”
Fim da festa. O portão se fecha; o coração de Nápoles, não. Continua a bater no meio do bairro de Rione Sanità.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página