As palavras cristãs vão sumindo dos dicionários de Oxford. Uma jogada publicitária? É provável que sim, mas revela algo mais
Utimamente, há um medo generalizado, por causa da dita marginalização do cristianismo na cultura ocidental. O último exemplo é a polêmica gerada a partir do fato de que algumas palavras associadas ao cristianismo foram eliminadas de um dicionário inglês para jovens, editado pela Oxford University Press. Entre as palavras canceladas estão: abadia, altar, bispo, capela, batizar, discípulo, ministro (do culto), mosteiro, monge, convento, paróquia, banco (de igreja), salmo, púlpito, santo, pecado e diabo.
A reação dos cristãos foi de indignação por essa enésima ofensa a Cristo. Mas, do dicionário, não foram retirados apenas termos religiosos; foi eliminada também uma série de palavras que descrevem o mundo da natureza, inclusive “almíscar” e “samambaia”. Quem sabe, Cristo não tenha se ofendido mais com isso do que com a eliminação do conceito de “convento”...
Vineeta Gupta, responsável pelos dicionários para jovens da Oxford University Press procurou justificar essas mudanças, em entrevista ao jornal Daily Telegraph: “Se olharmos as versões anteriores dos dicionários, encontraremos, ali, muitos tipos de flores. Isso se devia ao fato de que muitas crianças viviam em ambientes semirrurais e observavam o rodízio das estações. Hoje, o ambiente mudou. Nós nos tornamos muito mais multiculturais. As pessoas não vão mais à igreja, como antes. E o nosso conhecimento da religião ocorre dentro de um horizonte multicultural. Eis porque palavras como ‘Pentecostes’ podiam ser atuais vinte anos atrás, mas hoje não”.
Em geral, tais polêmicas são premeditadas, suscitadas apenas para alcançar efeito publicitário. Todavia, esses absurdos representam uma grave provocação a muitos seguidores de Cristo, cuja reação imediata costuma ser de medo de que seus filhos venham a ser privados, aos poucos, do conhecimento de Cristo, bem como de noções do mundo da natureza.
Não há dúvida de que os responsáveis por essa orientação nutrem uma certa hostilidade em relação ao cristianismo. Mas, talvez, essas polêmicas intermitentes indiquem algo diferente do que pensam os cristãos.
Antes de qualquer coisa, digamos que o nome de Cristo tem influência sobre nossa cultura desde muito antes da fundação da Oxford University Press. E o mesmo podemos dizer do mundo da natureza, que, aliás, é muito mais antigo...
Quem defende essas mudanças propõe uma interpretação própria da razão, a fim de justificar os seus atos. Mas, o carisma de Dom Giussani nos ensina que a razão vai muito além da definição dada a ela pelos dicionários modernos.
E, então, pode ser que essas provocações expressem algo diferente: o medo de uma geração adulta, que, tendo crescido com um falso conceito de razão, agora – quase no final da sua trajetória –, vê-se obrigada a justificar, de alguma maneira, a antirreligiosidade que professou durante toda a vida frente ao mistério infinito que a aguarda.
Em nossa cultura, estamos assistindo a algo parecido com a brincadeira do cabo-de-guerra. O verdadeiro sentido dessas polêmicas é a disputa por mais corda. Mas os cristãos precisam, mesmo, entrar na briga contra esses absurdos? O mundo da natureza desaparecerá porque não é mais mencionado num determinado dicionário?
É provável que o próprio Cristo sorria com essas coisas, e que caia numa gargalhada ao pensar que, talvez, as crianças inglesas cresçam desconhecendo o significado da palavra “bispo”!
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