Quem estava presente (em Roma ou à distância), se confronta com a proposta do Papa, a partir daquilo aconteceu diante de seus olhos. Como Marco Mostrasi, responsável de CL no Brasil, que nos concedeu esta entrevista
Sábado, 7 de março, o Papa Francisco recebeu em audiência cerca de 80 mil representantes do Movimento Comunhão e Libertação (CL), vindos de 47 países. Com seu estilo típico, os membros de CL esperaram e receberam o Papa com a oração das Laudes e com cantos de diversos países que documentam o senso religioso do homem e sua busca pelo Infinito e pelo Amor. Francisco proferiu recentemente (em 22 de dezembro), um importante discurso aos movimentos e às novas comunidades no qual os exalta a (1) viver o frescor do carisma, (2) acolher as pessoas respeitando sua liberdade e seus tempos; (3) viver em comunhão com toda a Igreja. Como os membros de CL viveram este momento de encontro com o Papa? Qual a continuidade entre a mensagem a todos os movimentos e suas palavras dedicadas especificamente a CL? Para responder a essas perguntas, entrevistamos Marco Montrasi, responsável nacional do Movimento no Brasil.
Marco, você estava presente na Praça de São Pedro no dia do encontro. O que mais o impressionou naquela ocasião?
Ainda sinto necessidade de ficar em silêncio diante daquilo que nos aconteceu naquele dia. O Papa citou o quadro de Caravaggio sobre a vocação de São Mateus. O que ele disse nos impactou muito porque correspondia àquilo que estava acontecendo conosco naquele momento. Ele falava de como Mateus, enquanto fazia suas coisas, vivia fechado em sua vida, e de repente se percebeu olhado por Cristo, olhado de uma forma imprevisível, que mobilizou toda a sua vida. Era assim que todos nós nos sentíamos olhados e acolhidos naquele momento e convocados por suas palavras.
Mas por que essa sensação?
O Papa, logo no início de sua fala, lembrou o quanto Dom Giussani foi importante para ele, para sua vida de sacerdote. Na Argentina, ele já havia se referido a esse fato, durante o lançamento de livros de Dom Giussani. Ele sublinhou, com outras palavras, o que já vem dizendo há algum tempo aos movimentos, mas percebíamos uma profunda sintonia com Dom Giussani, percebíamos que ele nos convidava a sermos mais fiéis ao carisma de Dom Giussani. Ele disse, em certo momento, “Giussani nunca vos perdoaria se perdêsseis a liberdade e se vos transformásseis em guias de museu ou em adoradores de cinzas”, com a consciência de que nos falava não só como Papa, mas como alguém que sabia o que Dom Giussani pensava e sentia. Ao mesmo tempo, nos convidava a sairmos de nós mesmos, a nos abrirmos para o mundo, que era, sem dúvida, uma das grandes preocupações de Dom Giussani.
Você está se referindo à questão da autorreferencialidade, sobre a qual ele insistiu?
Esta questão da autorreferencialidade é muito bela, porque é uma tentação que existe em todos nós, não só na vida dos movimentos e da Igreja, mas em todos os grupos sociais e relacionamentos, até no casamento. Mas o testemunho da vida é dado por alguém que está enamorado. Quem olha apenas para si mesmo, se torna triste. Nossa liberdade e nossa alegria nascem de olharmos para Cristo, de termos a Ele no centro. Mas não é só isso, ele também nos convidou a sairmos de nós mesmos, no sentido de irmos ao encontro daqueles que estão na periferia da existência. O Movimento tem uma longa tradição nesse sentido, tanto de trabalho social com os pobres e marginalizados – que é característico de nossa presença na América Latina – quanto de obras de acolhida e apoio a pessoas que se encontram em outras situações de dificuldade. Mas palavras como estas do Papa nos convidam e nos fortalecem a irmos mais longe, a nos dedicarmos mais, a nos convertermos mais a Cristo.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón