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Passos N.170, Junho 2015

APÓS A AUDIÊNCIA

Um fato que continua

por Paola Bergamini e Luca Fiore

No sábado, dia 7 de março, o Papa Francisco recebeu em audiência na Praça de São Pedro o Movimento Comunhão e Libertação. Estiveram presentes cerca de 80 mil representantes provenientes de 47 países. Passados três meses daquele encontro, ainda ressoa forte o convite do Santo Padre para percorrer um caminho. A seguir, alguns testemunhos do início deste trabalho

JOHN KINDER
Perth (Austrália)

Desde que voltou para Perth, John não cessa de contar o que lhe aconteceu. Até os colegas da laicíssima University of Western Australia o abordam nos corredores do departamento de Línguas para lhe perguntar sobre o cara a cara com o Papa. “Depois da Audiência, entrei na fila para o beija-mão. Eu procurava também organizar os pensamentos e as palavras, mas depois chegou o olhar dele: aqueles dez segundos foram a coisa mais simples da minha vida. Ser olhado daquele jeito e só desejar seguir alguém que está seguindo o Cristo”.
Chegou à Praça com o amigo neozelandês padre John O’Connor, mas a todo custo quis ser acompanhado também por amigos históricos, aqueles que em 1977 o encontraram como jovem estudante em Milão. “A minha história, no fundo, foi a história desse olhar, que em todas as circunstâncias me liga de novo a Jesus. Por isso não me espanta o perigo de perder o foco, porque coincide com a certeza de que no centro da vida está Ele”.
E é justamente o ponto de onde partiram as comunidades de Melbourne e de Sydney. “Somos realidades muito pequenas”, conta John, “mas também nós temos a tentação de fazer propaganda do Movimento. O Papa, ao invés, nos libertou da vontade de impressionar e nos fez ver que a única coisa que conta é viver o encontro que nos faz sentir amados”.
É com esse frescor que hoje os amigos de Sydney estão preparando a Mostra sobre Giussani. “Senti que o Papa me tratou como adulto e pela primeira vez não tive medo de voltar às coisas habituais. Cristo me primerea. Então, já está ali em casa a me esperar”.

YUAN PEI
Berkeley (EUA)

Ela, na Praça, cantou a Ave Maria em chinês. Encontrou o Movimento num escritório de engenharia em Xangai, mas agora é mãe em Berkeley, Califórnia. Não está acostumada a cantar em público e a emoção de se apresentar diante de mais de oitenta mil pessoas deve ter sido imensa. No entanto, se lhe perguntamos o que sentia dentro de si naquela jornada, vai logo às palavras do Papa: “Foi um golpe no coração quando ele disse que o lugar privilegiado do seu encontro com Cristo foi o seu pecado.
Eu sempre senti vergonha das minhas fraquezas. Mas a expressão humilde e honesta do Papa me levou a me sentir livre para aceitar quem eu sou e o que sou chamada a fazer. Essa é a verdadeira liberdade que Cristo nos prometeu. Assim, peço um coração ferido, um coração de mendigo, para poder desejar sempre o Seu olhar”.
Junto a ela estava Adele, a amiga italiana que conheceu na China, que lhe traduzia: “Palavras que para mim não teriam nenhum sentido, tornavam-se familiares. É justamente o modo como cheguei a compreender verdadeiramente o cristianismo. Eu vinha de um contexto protestante e frequentava cursos bíblicos. Analisavam o Evangelho frase por frase. Eu ia embora entendendo tudo, mas nada se fixava em mim. Nas primeiras vezes que li Giussani, ao invés, eu entendia pouco ou nada. A única coisa que eu intuía era que ele reconhecia um desejo que eu tinha medo até de expressar”. Assim, continuou a se encontrar com aqueles amigos. “Eram muito diferentes dos outros. Como me sentia em casa quando estava com eles! Estava muito ligada a eles e, como na Praça, palavras estrangeiras se tornavam plenas de significado. O reconhecer a presença de Cristo na vida real me foi transmitido por pessoas que me consideravam amiga. Como nos disse o Papa: ‘O encontro não é com uma ideia, mas com a pessoa de Cristo’. É exatamente o que aconteceu comigo e que continua a acontecer”.

PIER ALBERTO BERTAZZI
Milão

“À espera do Papa, muito me impressionaram o silêncio, a oração, os cantos, ainda que estivesse acostumado com eles”. Fizeram-no recordar “o clima incomparável de Varigotti”. Aqueles primeiros encontros deles, estudantes secundaristas, com Giussani. Não por uma questão estética. “Aquele clima é uma atitude: quem está ali se envolve totalmente, espera mesmo algo de importante”. Para Pier Alberto Bertazzi, professor da Universidade Estatal de Milão, a tensão da Praça acendeu um ponto da memória: “Aquela tensão me colocou logo naquela mesma posição”.
Ao final da Audiência, a sua primeira impressão foi simples e radical: “O Papa nos considera. Despertou em mim a consciência da preciosidade do carisma”. Ele, que viveu toda a história do Movimento, sentiu de novo a preciosidade para si “e também para o Papa, para a função que tem, para a Igreja”. Impressionou- se com o modo do discurso (“a seriedade e o zelo com que falou”) e com o conteúdo. “É como se nos tivesse dito: vocês precisam compreender bem o que lhes foi ensinado. Fez-nos um apelo, sim: para sermos leais com o encontro feito. E isso, para mim, é uma honra, não uma objeção”. É um apelo até dramático, no sentido próprio do termo, “como o corpo a corpo que Dom Giussani empregava conosco quando dizia: ‘Olhem que o carisma depende de cada um de vocês’. Então, nas palavras do Papa senti ecoarem esses discursos de Giussani, essa sua prece a nós”.
Depois do 7 de março sente “o Movimento potentemente engajado na vida de toda a Igreja: estou mais alegre na sequela e mais certo de que a minha fidelidade ajuda a Igreja. O Movimento é vivo, vai adiante, e eu desejo vivê-lo: a minha liberdade precisa vivê-lo – Sejam livres, nos disse o Papa – como experiência da minha pessoa, como adesão ao que verdadeiramente pode realizar o que quero para mim e para o mundo”.

BRIGHT LUMANYIKA
Kampala (Uganda)

Era a primeira vez que Bright, 25 anos, ia ao encontro do Papa. “Eu o ouvia, enquanto alguém próximo tentava me traduzir o que ele dizia. E o que disse Carrón”. Poucas frases, diz ele sorrindo. “Ou o essencial daquilo que ambos continuam a nos propor”. Trabalha no Meeting Point International, e encontrou o Movimento “há alguns anos, na minha escola”. É um dos jovens de Rose, daqueles que cresceram em torno do grupo de mulheres doentes de Aids e renascidas na amizade com a enfermeira de Kampala. “Foi o encontro com um pai. E sem um pai não pode existir o filho. Eu não sei muita coisa do Papa. Li alguma coisa sobre ele na Internet. E depois ouvi Carrón falar dele, quando nos diz que temos diante de nós um pai que nos regenera todos os dias. Por isso me senti em casa em Roma”.
Retorna para Uganda com um grande desejo de recomeçar a partir do que viu acontecer na Praça de São Pedro. “Ouvir aquelas palavras fez voltar à minha mente uma coisa de Dom Giussani que eu li, na qual falava da responsabilidade do carisma”.
Uma responsabilidade em relação ao mundo, justamente como o convite de Francisco para a gente “sair”: “Olhando o essencial, Cristo. Porque essa é a única estrada para mim, para todos, para viver e ser feliz”.

TIMOTHY FORSE,
Cambridge (Grã Bretanha)

Timothy Forse é um perfeito englishman. Ele é orgulhosamente anglicano, com as perguntas, as dúvidas e as dores que atualmente pode ter um membro da High Church, crescido na escola de Michael Ramsey, inesquecível Arcebispo de Canterbury nas décadas de 1960 e 1970. Foi Carlo quem o convidou para a audiência com o Papa. Anos atrás, ele e outros estudantes italianos de CL moraram na casa de Tim, no centro de Cambridge, onde permaneceram para um período de estudo. “Um deles se levantava cedo todos os dias para ir à missa. Levava muito a sério a sua fé e não tinha problemas em falar sobre isso comigo”. Com o que ficou mais marcado? “É difícil explicar, mas, para usar as palavras de Newman: ‘Cor ad cor loquitur’, o coração fala ao coração. No tempo, Carlo me deu de presente alguns livros de Giussani e me fez conhecer outros amigos do Movimento. Atravessaram a porta da minha casa e entraram na minha vida para permanecer. Carlo, Giussani e Cristo”. E continua: “A minha decisão de ter participado da audiência foi parte de um Sim, com o S maiúsculo, que nasce da nossa profunda amizade. Existe apenas uma palavra que pode descrever aquilo que vi: extraordinário”. A sua reação inicial foi a percepção da humildade de Francisco. Um sentimento de gratidão e comoção por perceber uma resposta à sua “incapacidade de colocar de lado o meu eu, aquilo que o Papa chamou de autorreferencialidade”. Mas, ao mesmo tempo, a consciência daquilo que Tim define como as próprias deficiências, aqueles lugares onde Francisco diz que a Igreja pode derramar o bálsamo da misericórdia de Deus. Ao retornar para casa, sem conseguir expressar em palavras aquilo que se move no seu coração, pegou papel e caneta e escreveu uma reflexão poética dedicada aos seus amigos de CL. Intitula- se Lenten Rose, a rosa de Quaresma. É a primeira flor que desabrocha no seu jardim de Cambridge: You are there / The metaphor tells / The sign of appearing / First you, Our Lord. Você está ali / A metáfora diz / O sinal do manifestar-se / Você primeiro, Nosso Senhor.


O COMUNICADO NO FINAL DA AUDIÊNCIA

“HOJE VIVEMOS DE NOVO A EXPERIÊNCIA DO ENCONTRO COM CRISTO”


Eram mais de 80 mil as pessoas presentes na Praça de São Pedro, provenientes de 47 países do mundo para a audiência concedida pelo Papa Francisco no 10º aniversário da morte de Dom Giussani e no 60º do início do Movimento de CL.

Comentando as palavras do Papa acabadas de ouvir, o padre Julián Carrón, presidente da Fraternidade de CL, declarou:

“Hoje, na Praça de São Pedro, vivemos de novo a experiência do encontro com Cristo. Vimo-Lo primerear diante dos nossos olhos através da pessoa e do olhar do Papa Francisco. O mesmo olhar que dois mil anos atrás conquistou Mateus, mas hoje!

Hoje experimentamos o que é a carícia da misericórdia de Jesus. Levaremos para sempre no nosso olhar o modo com que o Papa nos abraçou. Desta forma, fez-nos compreender que ‘o centro é só um, é Jesus Cristo’, cuja experiência nos consentirá não reduzir o carisma a um ‘museu de recordações’ e ‘manter vivo o fogo e não adorar as cinzas’.

Só esta experiência do olhar de Cristo – que gera ‘surpresa’, ‘maravilhamento’ e nos faz sentir ‘ligados a Ele’ – nos impedirá de sucumbir a qualquer tentativa de autorreferencialidade e nos permitirá descobrir em cada homem que encontrarmos o bem que ele traz consigo, como Dom Giussani sempre nos ensinou.

Esta experiência vai deixar-nos na posição de viver o cristianismo como ‘princípio de redenção, que assume o novo, salvando-o’”.



 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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