Há um versículo do Evangelho que talvez devêssemos reler com mais frequência. É conveniente para nós, porque a realidade, às vezes, nos oprime de tal forma que parece a ponto de nos esmagar, enquanto nessas palavras encontramos sempre um ponto firme de retomada. E porque a proposta cristã, a contribuição que a fé pode dar à história, no fundo, passa em grande parte por aí, por essas palavras de Jesus: “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se, depois, perde a própria alma? E o que um homem poderia dar em troca da própria alma?”.
É uma pergunta decisiva. Nada é mais importante do que a “própria alma”, isto é, do que a pessoa: poder, dinheiro, ideias, projetos... nada. Para Cristo, o indivíduo – você, eu – vale mais do que qualquer outro bem. E vale quer dizer duas coisas. Nada tem mais valor, é mais precioso do que o tesouro infinito que o homem é. E nada é mais válido – ou seja, forte, potente – do que um homem livre que diz “eu”, que tem verdadeiramente uma consciência adequada de si e da realidade. Porque a consciência do eu é o ponto no qual – como escreveu Henri Daniel-Rops, citado frequentemente por Dom Giussani – “se elabora o destino do mundo”.
Não por acaso, Deus aposta nisso. Desde sempre, de Abraão em diante. Ele poderia ter mudado o curso dos acontecimentos como quisesse, fazer e desfazer da história a cada instante impondo-se sobre tudo e a todos e, no entanto, se propõe à minha e à sua liberdade. Investe apenas no eu, porque sabe que todo fruto pode vir daí. Basta um homem disposto a dizer “sim” e, através desse sopro, Ele pode chegar a todos. Pode oferecer à liberdade de todos o fascínio e a beleza que nascem d’Ele.
Neste número de Passos colocamos no centro a pessoa quando falamos novamente do contexto dramático das perseguições aos cristãos no Oriente Médio. É na pessoa que acontecem milagres de testemunhos como podemos perceber ao ler a entrevista com o padre Douglas Bazi.
Ou, ainda, em uma figura como Óscar Romero, assassinado no altar enquanto rezava a missa e, agora, proclamado beato. E em tantos outros fatos, que vocês encontrarão nessas páginas. São, todas, histórias de pessoas que, dizendo “sim” a Cristo em seu pequeno círculo, mudam o pedaço de mundo que têm em torno de si. Tornam-no mais humano. E fazem-no grande.
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