Passos N.171, Julho 2015

SÃO PAULO - Assembleia

Sinais de uma Presença viva

pela redação

No dia 31 de maio de 2015 foi realizada a assembleia mensal do movimento Comunhão e Libertação reunindo toda a comunidade local. Na ocasião o tema de trabalho era a introdução dos Exercícios da Fraternidade de CL e o capítulo 3 de Por que a Igreja. Marco Montrasi, Bracco, o responsável nacional do Movimento, foi quem guiou a assembleia. A seguir, algumas notas do encontro

Colocação: Começar esse novo capítulo do livro, para mim, foi uma bela descoberta. Muitas vezes, no cotidiano, eu não percebo essa ligação de Deus com todos os detalhes, e fico brava comigo. Mas, como? Eu vivo coisas tão grandes e depois no cotidiano eu me esqueço disso. O que eu queria entender é como que isso está tão dentro da gente? Tão dentro da gente, a ponto de não conseguir que o nosso pecado também seja salvo por Ele. A gente sempre quer resolver. Coisa de ser boa mãe, ser boa profissional, ser boa nas coisas que a gente faz. E aí parece que a gente conta só com as nossas forças.

Bracco: Como fala a introdução, temos que desejar conhecer essa misericórdia, conhecer até nos comover. Porque não basta saber isso, não basta saber que existe uma misericórdia. Estamos cheios de coisas que sabemos, mas precisamos fazer a experiência de alguém que me espera. Você tenta, mas não chega lá. Tem que acontecer uma faísca que pesca o mistério. E até quando eu não me comover por alguém que continuamente faz assim comigo, que continuamente me espera, mesmo na frente das piores coisas, eu não vou experimentar o que é a misericórdia. Como eu posso ter essa espera com o outro? Com os filhos, com o marido, com os amigos? Na Fraternidade eu fiquei marcado com quantas vezes Dom Giussani naquele vídeo [Reconhecer Cisto] fala: “Faça um esforço, imagine”. Sem fazer esse exercício a gente não chega a entender. Quando conheço Jesus, isso gera um olhar que não é meu. É uma possibilidade que eu dou, que não é minha. É um espaço que eu dou ao outro que não é meu. Quantas vezes eu não consigo dar espaço. Quem conhece mais a Jesus? “Aquele a quem muito perdoou, muito ama”. Como podia aquela mulher pecadora que lavou os pés de Jesus amar tão intensamente? Apenas pela consciência que tinha de já ter sido toda perdoada. Porque havia conhecido Aquele homem. E nós, muitas vezes, ficamos com medo, um medo que nos paralisa. Outro dia um amigo me disse que não tinha saído para jantar fora porque ficou com medo da violência. Mas tem alguma coisa que me liberta desse medo? Não que me tira o medo. Como a criança que entra no quarto escuro, e tem medo. De repente, com a mão da mãe ela consegue entrar. Não é mais dominada pelo medo. Cada um tem o tribunal da própria experiência para verificar isso, como dizia Dom Giussani. Cada um de vocês sabe se está com medo ou não. Se é dominado pelo medo ou não. Se tem uma mão que te deixa entrar nesses quartos escuros ou não tem. Porque no período em que vivemos, onde todo mundo pode ser dominado pelo medo, nós também, com aquilo que encontramos, podemos não fazer nenhuma diferença. E quando você faz a experiência de que existe essa Presença, se torna um ponto de novidade e de esperança para todo mundo.

Colocação: Eu queria compartilhar com vocês as coisas bonitas que eu puder viver, a partir do trabalho da Escola de Comunidade, que eu poderia resumir assim: De fato, Deus tem a ver com tudo na vida da gente. E eu me dei conta que Ele se relaciona com a gente através dos acontecimentos da vida. Aconteceu um fato que eu não desejava, que eu não esperava. No dia 25 de janeiro eu voltei para casa com uma dor de cabeça terrível. Eu nunca tive dor de cabeça. Dia 26 a dor piorou e resolvi ir ao hospital. E eu fiquei três meses no hospital. Sem entrar em muitos detalhes, desde lá até hoje, todo dia eu Lhe pergunto: Mas por quê? Por que aconteceu isso? A primeira constatação que eu fiz é que enquanto você não dá um significado exaustivo para aquilo que acontece você não sossega, e eu só sosseguei quando me veio à mente que isso que me aconteceu foi o Senhor que permitiu para que eu aprofundasse minha experiência de fé. Para que eu tivesse uma amizade mais verdadeira com Ele. E como é importante o apoio, a presença dos amigos, porque efetivamente Cristo chega até a gente através dos outros, dos amigos. Eu me dei conta também que, no que aconteceu comigo, a minha família foi impactada, e foram chamados a reconhecer que a vida não depende da gente. E eu cheguei a pensar assim: o que eu poderia desejar para vocês? Viver essa mesma purificação de experiência como eu tenho vivido. Mas foi um desejo bom, não para vocês ficarem doentes, mas poder viver essa grande confirmação da experiência que a gente faz.

Bracco: Obrigado. Sobre o “porquê”, me lembrei de uma coisa que o Papa Francisco falou nesses dias. Foi um encontro com crianças doentes: “Tantas vezes vocês me perguntam, outros me perguntam, por que sofrem as crianças? Por quê? Por que tem que acontecer tantas coisas? E não tem explicação isso. Também aquilo é o mistério. (...) Quando as crianças crescem e chegam a uma certa idade e não entendem bem como é o mundo, começam a fazer perguntas: ‘Papai, por quê? Mamãe, por que isso?’. E quando o pai e a mãe começam a explicar eles não ouvem. Mas, por que eles não ouvem? Com esse por que eles atraem sobre eles o olhar do pai e da mãe. Nós podemos pedir ao Senhor. Mas Senhor por quê? E o Senhor não vai dizer tantas palavras, mas vamos sentir o Seu olhar sobre nós e isso que nos dará força”. O fato de estarmos aqui reunidos em 150 pessoas que se moveram de suas casas, cada uma com uma história diferente, cada uma com um problema diferente, são tantos sinais, tantas setas que indicam um ponto que não se vê, mas que existe. Mas, esses sinais da Ressurreição de Cristo, nós muitas vezes consideramos óbvio. A vida está cheia de sinais que indicam uma Presença. Eu preciso de um milagre, mas só os milagres não bastam, porque eu preciso de uma Presença e desse olhar para vencer o medo, para me fazer entrar no cotidiano das coisas, para responder a esse por que.

Colocação: Dou um exemplo: em casa, se eu estou no meu quarto e ouço passos, eu sei se é minha mãe ou se é o meu pai, só de ouvir o passo. Então, o homem da Idade Média, com poucos sinais rapidamente conseguia reconhecer a benção e eu imagino que Dom Giussani, com poucos sinais, ele conseguia reconhecer a presença de Cristo. Aí eu me pergunto: “Mas como ter a familiaridade sem perder a maravilha?”. Quer dizer, meus pais são familiares, então se eu ouço os passos deles, não é que eu fique encantado com isso. E aí eu penso: eu, que cresci aqui no Movimento, às vezes a forma como estamos juntos, a forma como a gente canta, a forma como a gente faz um monte de coisas, que quem está de fora diz: “Nossa que bonito, que diferente!”, para mim é familiar. É aquilo que eu sempre vi. Então, como manter a familiaridade e manter a maravilha?

Bracco: Para mim, uma assembleia como essa é um sinal da Ressurreição de Cristo. Cada um com sua própria experiência, mas caminhando junto. Mais do que responder a ele, eu quero ficar com a sua pergunta. Nós temos que verificar se aquele que estamos seguindo, aquele que não vemos, mas nós dizemos que está presente, aquele que me falou: “Eu faço novas todas as coisas”, é verdadeiro. Para ver, para fazer a experiência de alguém que te fala: eu faço nova todas as coisas, eu preciso de simplicidade. Preciso pedir essa simplicidade, essa inteligência simples. Se eu olho com essa disponibilidade, me ajuda a me tornar simples. Vinho, pão, água. Para eu começar a enxergar de novo, me comover de novo com essa presença.