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Passos N.171, Julho 2015

RUBRICAS

Cartas

“AGORA, SINTO-ME EM PAZ COMIGO MESMO”
Escrevo para falar sobre um encontro. Meu amigo Alessandro, que está em Newcastle, perto de Durham, para fazer PhD, um dia, falando com um colega de curso sul-africano, este lhe perguntou como era possível ele estar sempre sorrindo. Alessandro, com a simplicidade que o caracteriza, disse que o motivo é que ter encontrado Jesus mudou a sua vida. Niel, este é o nome do rapaz, impressionado e curioso decide, poucos dias depois, ir à missa com ele. Na semana seguinte, Alessandro o convida para ir à Escola de Comunidade em Durham. Na primeira vez, Niel conta o motivo pelo qual se aproximou de Alessandro. Na segunda vez, escuta com grande atenção, sem falar nada. Na terceira, volta tendo já lido todo o livro O senso religioso e tinha anotado um monte de perguntas. Dali em diante, voltou sempre durante os quatro meses em que esteve aqui, antes de voltar para seu país. Uma vez, na Escola de Comunidade, nos disse: “Meninos, há anos vivo uma inquietude para a qual não encontrava resposta: sobre o sentido da minha vida, sobre a utilidade daquilo que faço, etc. Li Nietzsche e muitos outros filósofos sem encontrar respostas adequadas. Conhecer vocês e ler Dom Giussani me reavivou completamente, acho que encontrei o caminho. Mas há um dado que vale mais do que muitas palavras: depois de muitos anos, estou conseguindo dormir à noite. Sinto-me em paz comigo mesmo”. Depois, ele expressou o desejo de ser batizado e de frequentar o Movimento na África do Sul. Demos a ele os contatos dos amigos da África e agora que voltou ao seu país continua participando da Escola de Comunidade. É realmente verdade que seguindo até o fundo a proposta de Dom Giussani, e agora de Carrón, nós recebemos mais do que poderíamos imaginar, e cada aspecto da vida adquire um gosto novo.
Michel, Durham (Grã Bretanha)

AMPARO, DOM GIUSSANI E O MÉTODO DE DEUS
Depois de termos ido juntos à caritativa, convidamos todos para irem à nossa casa para assistir ao vídeo sobre Dom Giussani que foi lançado recentemente. Fiquei com o desejo de convidar muitos outros amigos e pessoas que conhecia, que não estavam ali naquele momento. Entre eles, algumas mães de colegas de escola dos meus filhos. Comecei a pensar em um lugar público para a projeção e para montar a exposição “Da minha vida à vossa”, e lembrei-me do Centro Comercial da cidade, que também tem um espaço para eventos culturais. Assim, marquei uma reunião com a diretora de marketing do Centro. A senhora não podia acreditar que tínhamos interesse em fazer esse gesto num espaço público e laico. Ficou maravilhada. Quando já parecia decidida, parou e me disse que nunca tinha falado sobre fé com seus colegas de trabalho; não sabia sequer de que religião eles eram. Portanto, era necessário tratar a questão em um encontro com toda a equipe, para ver o que eles pensavam. No fim, me disse: “Pensando bem, não vejo problema. Se um budista viesse aqui e falasse do bem que uma pessoa faz aos outros e quisesse que outros o conhecessem, também poderíamos fazer uma mostra. Vamos tentar. Essas pessoas fazem o bem à sociedade”. Deixei uma cópia do livreto da exposição com ela, e isso já me deixou contente. Na semana passada, aconteceu outra coisa: recebi um telefonema da diretora da escola onde estuda Amparo, filha de amigos nossos, uma família que conhecemos há alguns anos e com quem vendemos a revista Huellas na saída da missa. Amparo lhe contou sobre o que vive no Movimento e também falou das reuniões que Dom Giussani fazia com os jovens nos primeiros anos. A diretora ficou muito interessada porque a escola é laica, acolhe alunos de diversas religiões, e ela gostaria de oferecer a eles “algo que tocasse seus corações”, porque está preocupada com o desinteresse geral que os adolescentes demonstram. Despedimo-nos com a tarefa, sugerida por Amparo, de encontrar uma forma de propor alguns encontros aos seus colegas. Não sei o que acontecerá, mas quando Amparo me pediu ajuda “para explicar melhor à diretora”, lembrei-me do “método de Deus” de escolher um para chegar a todos!
Carolina, Buenos Aires (Argentina)

A GRAÇA DE UM NOVO INÍCIO
Há alguns meses sofri um acidente de moto e gostaria de contar a experiência que vivi no período em que fiquei internado. Percebi quão verdade é o fato de querermos controlar tudo e como me identifiquei com uma resposta que vi hoje do Olívio, onde ele dizia que a vida dele estava tomada por compromissos profissionais, coisas por fazer e diante de problemas difíceis como agora vive, tem aprendido que a vida vale por aquilo que amamos e pelos amigos que cultivamos. Embora não conseguisse responder a todas as mensagens e afirmações dos amigos que relatavam estar rezando por mim, tive a nítida sensação de estar sendo totalmente sustentado pelas orações. Todo o processo desde a cirurgia até a recuperação, rápida e tranquila, para mim era um milagre atrás de outro, graças a todas as orações. Como agradeço e com que felicidade recebia as pessoas que foram me visitar, embora não estivesse nada disposto a estar recebendo as visitas. Parecia uma oportunidade concreta de visualizar a pessoa de Cristo encarnada vindo me visitar. Fiz muito essa experiência relatada pelo Olívio, dos compromissos profissionais, coisas por resolver, situações para intervir, etc, etc, e me dava conta que estava em um estado de stress que nem notava. Nessa postura não cabe mais nada. Cristo está sempre presente, mas fechamos a porta para Ele a todo momento e é exatamente a abertura para Cristo que nos faz feliz. Pensava que os médicos sabem toda a lógica por trás dos fatos, ou seja, se baixa o nível de oxigenação e potássio, nosso coração tenta bater mais acelerado para compensar, etc, etc, mas me dava conta de que a cada passo poderia implicar em uma outra consequência e de que no fundo a nossa vida é um grande milagre. Estamos vivos a cada minuto somente porque Ele nos permite. Agradeço a oração de todos e que, por essa nova oportunidade que me foi dada, Deus me permita continuar reconhecendo a cada dia o que é importante na vida.
Maurício, São Paulo (SP)

A PEQUENA IMAGEM NA CARTEIRA DO CHEFE
Caríssimo Julián, trabalho num banco. Pela primeira vez, voltei dos Exercícios da Fraternidade não envolvido na habitual confusão sentimental, mas em uma profunda e imensa gratidão por estar dentro des sa aventura que é o Movimento, essa amizade que nunca me abandona. Escrevo para lhe contar um episódio inacreditável que aconteceu no meu trabalho, onde tudo é afirmação do cinismo, do lucro e da indiferença. Esta semana, meu chefe me chamou em seu escritório para discutir uma questão de trabalho. Depois, de repente, me perguntou: “Sexta-feira passada, você tirou o dia de folga para ir aos Exercícios de CL? Não acontecem neste período aqui?”. Ao ouvir essa pergunta, comecei a suar frio. Olha como a minha fé é pequena: se a experiência que me alcançou é a coisa maior e mais verdadeira que poderia me acontecer, por que não responder um sonoro “sim” ao invés de gaguejar, como me aconteceu? Na verdade, respondi à pergunta dele com outra pergunta: “Por que está me perguntando isso?”. Ele me olhou e, depois de perceber, pela minha cara, que de fato eu tinha ido aos Exercícios, tirou de sua carteira um santinho de Giussani. Inacreditável. Meu chefe, com um casamento anulado, casado pela segunda vez, há pouco tempo pai de duas meninas belíssimas, começa a me contar um pedaço da sua história e o que mais me impressionou foi essa sua afirmação: “Olha, Alberto, eu ouvi Dom Giussani falar ao vivo”; e quando me disse isso, seu rosto se transformou, seus olhos me diziam que ele tinha sido tomado pelo mesmo fascínio que me tomou. Depois, me disse que na sua história aconteceu algo que o afastou do Movimento, no entanto carrega aquele santinho em sua carteira. Então, me veio em mente aquilo que sempre repetimos entre nós: você pode ir embora, pode se afastar dessa historia, mas uma vez que a encontrou, uma vez que lhe tomou não o deixa mais. Se você encontra o Verdadeiro, é para sempre. E é para todos. E é realmente assim, porque o meu chefe, quando começou a falar de Giussani, tinha o olhar radiante apesar de tudo o que possa ter lhe acontecido, e que eu não sei o que é. Que aventura, a vida!
Alberto

“DESCOBRI QUE É TUDO VERDADE”
Como dizer: então é mesmo verdade? Durante toda a vida, busquei, senti, percebi os sinais, as emoções: Medjugorje, o Espírito Santo, os milhares, milhões de perguntas feitas a monges, a freiras, mas sobretudo a teólogos de vida exemplar. O que era CL para mim? Uma associação de professores muito bons, homens e mulheres que, por Jesus, tornaram-se monjas no meio do mundo. Matriculei meu filho no Sagrado Coração, em Milão, onde conheci padre Giorgio Pontiggia, a quem, num período de dificuldade econômica, pedi um desconto na mensalidade, e ele concedeu. Ainda no Sagrado Coração, um dia, enquanto falava com padre Giorgio, entrou Dom Giussani e me estendeu a mão: não consigo esquecer aquele olhar. No decorrer dos anos, continuei trabalhando duro. A correria parou quando percebi que tinha 75 anos. No entanto, meu primogênito, que se tornou arquiteto e vivia viajando pelo mundo, um dia me disse: “Precisamos ter o cêntuplo, e a beleza vence tudo. Papai, o senhor já leu os três livros do PerCurso?”. “Não”. “Então leia logo”. Farei 80 anos em outubro. Li os livros de Giussani e descobri que Ele realmente existe, que ser cristão é o maior dom que pode haver, que a Igreja nasceu a partir daqueles doze, e que o Senhor, em sua grandeza, a entregou a um pobre coitado como Pedro... É verdade, tudo verdade.
Bruno

FORÇA DA RESSURREIÇÃO
A semana passada foi muito especial. Na segunda-feira fui visitar o Santo Sudário em Turim. No trem, li a introdução dos Exercícios da Fraternidade. Não poderia ter tido leitura melhor para me preparar para a ocasião. Ali, Carrón chama insistentemente a atenção para o que significa a Ressurreição e as suas consequências, e eu estava há poucas horas e quilômetros do pano que envolvia o próprio Cristo quando ressuscitou. Depois de horas de fila e calor intenso pude ficar diante do Santo Sudário, e confesso amigos, é comovente. É muito difícil não se dar conta (até o ponto de se maravilhar) do amor imenso com que somos amados e que nossa vida é consequência daquele fato preciso e excepcional. O outro grande acontecimento foi participar da famosa peregrinação Macerata-Loreto. Desde que cheguei à Itália para estudar, ouvi muitas pessoas falarem apaixonadas deste grande evento. Pois bem, disse sim ao convite e esta foi a melhor coisa que poderia ter feito. A beleza da caminhada começa com a companhia do Giacinto, que esteve sempre presente, cuidando com precisão absoluta de mim e da Nayara, chamando atenção para o que importava, alargando e levantando nosso olhar de muitos modos. Antes de partir eu tinha medo do esforço que implicava a peregrinação, afinal 28 km sem parar e em plena noite não são muito convidativos. Mas o gesto é tão bonito e cuidado que antes de terminar eu já estava pensando em fazê-lo outra vez. Este ano a peregrinação foi feita por intenção dos cristãos perseguidos. Além disso eu carregava vários papeizinhos com as intenções de alguns amigos e também as minhas próprias. Num dos momentos da caminhada me virei e pude ver uma multidão que ia além de onde meus olhos podiam enxergar. Imediatemente me veio em mente o dia 7 de março na Praça de São Pedro: aquelas 80.000 pessoas em Roma e estas outras 100.000 caminhando comigo encontraram o mesmo que eu, somos um só povo, juntamente com os cristãos perseguidos e com os amigos que fizeram os pedidos que eu carregava, todos nascidos da noite da Vigília de Páscoa. No fim estava pensando com grande afeto em todos aqueles que estão neste caminho, desde as Memores da China até cada um da comunidade de São Paulo. Outra grande novidade foi não me escandalizar com minhas distrações constantes, podia sempre recomeçar. E por quê? Logo no início do percurso olhei o céu límpido e estrelado e me lembrei da noite em que fui ao planetário de Milão e o astrônomo fez notar que todas as estrelas, planetas e o que mais existe no universo, “se movem” no céu. O único ponto fixo de toda a abóbada celeste é a Estrela Polar (por que sua posição coincide com a do eixo da Terra). Isso me fez pensar na fidelidade do Senhor, a Ressurreição me alcançava naquele momento e agora. Ele me escolheu e continua a me escolher sempre, é o ponto fixo no céu que me permite seguir sempre em frente (e torna a loucura de cem mil pessoas caminharem 28km no meio da noite uma coisa justíssima!). Já próximo de Loreto as primeiras luzes do alvorecer começaram a mostrar a paisagem magnífica da região, pontilhada de vilarejos com suas torres de igrejas sobre as colinas desenhadas pelas plantações. Entramos na praça do Santuário no início da manhã e aquela luz que já permitia ver claramente a beleza da praça e da igreja me fazia pensar naquele Novo Dia em que tudo será claro. Finalmente dentro da basílica, pude ver, tocar e rezar diante das casinha onde Maria nasceu, passou a adolescência e recebeu o Anúncio do anjo Gabriel. No mesmo momento pensei no Santo Sudário e fiquei muito tocado com a concretude da nossa fé. Tão concreta que se pode tocar, a exemplo das pedras da Santa Casa, das fibras do Santo Sudário e da companhia do Giacinto, da Nayara e das milhares de pessoas que estavam lá comigo. Já em Milão eu soube que um professor universitário muçulmano, o Wael Farouq do Egito, havia feito a peregrinação conosco e o Papa Francisco mandou uma mensagem para os peregrinos. Nós, porém, não vimos nada disso. Chegamos atrasados à peregrinação porque o ônibus em que estávamos pegou fogo, queimou inteirinho e tivemos de esperar por outro para continuar a viagem até perto da cidade de Macerata, um pouco depois de onde parte a peregrinação. Contando para vocês destes fatos todos, me impressiona que o incêndio de que escapamos quase não tenha importância. A não ser pelo fato de que a Divina Providência agiu o tempo todo, já que o ônibus parou perto de um centro de apoio na estrada e no fim conseguiram outro ônibus, melhor e mais seguro, para chegarmos até o nosso destino.
Rafael Pitoscia, Milão (Itália)

DESCOBRINDO A SI MESMA
Desde 2007, quando iniciamos a Coleta de Alimentos em Brasília, que participo sempre o dia inteiro, preparando o local, fechando as caixas, preenchendo as planilhas e atenta à finalização das caixas, para que se completem, pois brigo muito para não fechar caixas com produtos diversos. No entanto, somente em 2013, passei a participar da preparação prévia da Coleta. A Ângela assumiu a coordenação em Brasília e me fez um convite pessoal para fazer parte da equipe. Eu nunca havia me colocado disponível devido a minha timidez. Tinha sempre a preocupação de que teria de fazer contatos, falar em público, e isso limitava a minha disponibilidade somente para o dia da Coleta. Ao ser convidada pela Ângela, me coloquei timidamente à disposição e agora entendo que tudo acontece dentro de um respeito às limitações do outro, que tudo é dentro de uma amizade que cresce a cada encontro, a cada decisão que temos de tomar juntos. Além disso, temos algo em comum em nossas vidas: um Outro que está junto de nós, nos construindo para um bem. E nesses dois anos, apesar de dizer para mim mesma que “faço o que posso”, de repente me vi fazendo mais do que aquilo que penso que posso. Cheguei um dia a falar de microfone em punho diante de uma plateia de representantes de instituições e dei uma entrevista a uma jornalista no dia da coleta 2014. Com certeza tem Alguém que conduz, pois eu sozinha, definitivamente, não faria nada disso. Para finalizar, este ano participei do ENCA pela primeira vez. Um encontro nacional de preparação para o gesto. Foi interessante ver como as pessoas colocavam suas experiências boas e não muito boas, mas sem reclamação. Estavam ali para se ajudarem, para construírem diante dos desafios de uma nova Coleta. Foi para mim uma experiência rica, entendi mais sobre como se pensa e se constrói uma Coleta.
Regina, Brasília (DF)




 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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