O violeiro Chico Lobo completa trinta anos de carreira. Para marcar esta importante data, faz lançamento de novo CD e também um livro, que nos aproximam da tradição dos violeiros, grande riqueza do nosso país
Dezenove anos depois do lançamento de seu primeiro CD, o músico Chico Lobo lança novo trabalho: Cantigas de Violeiro. Este novo CD oferece canções já conhecidas desde aquela época –como, por exemplo, Beira de Mato, Morena, Couro de Boi (que sempre me dá vontade de cantar e sair dançando), Criação (escolhida e cantada por Maria Bethânia em seu show comemorativo de 50 anos de carreira) e a contemplativa Moda Caipira. Tem também Cálix Bento, de domínio popular, num arranjo muito primoroso. Tem também vozes já bem conhecidas acompanhando o Chico Lobo, como Pena Branca, Xangai e Rolando Boldrin (fazendo algo que ele sabe muito fazer, que é contar um causo).
E oferece novidades também, dentre as quais destaco a minha preferida: Breu. Nela, Tavinho Moura e Chico Lobo cantam a história de um violeiro que, sem talento, faz uns “atalhos” para se dar bem na vida. Esse tema é bastante explorado em mais de um capítulo do seu livro também recém-lançado, Conversa de Violeiro, inclusive com muitos exemplos de como essa negociação com o tinhoso é feita. Mas nessa canção – como é característico em uma obra artística – o assunto saiu da esfera do particular e ganhou um caráter universal. “É fácil ser seduzido pelo poder da ambição”, como diz a letra (que, aliás, foi escrita em co-autoria com seu filho, Mateus). Essa é uma verdade tanto para um violeiro no sertão como para uma filha da cidade, como eu e muitos outros com quem convivo. Ou seja, senti que esse “ breu” é meu também. E que paz me deu a última estrofe da canção, quando roga aos santos pra livrar-nos dessa sina!
Novamente me emociono ao ouvir um CD de Chico Lobo. Mas agora a emoção é diferente. Muita gente entrou para fazer parte da minha história, e também na história de trinta anos da carreira do Chico Lobo. Muita experiência se ganhou nesses anos todos. Ela está mais madura. Como o CD.
Causos e tradições. Outra novidade que merece registro é o citado livro Conversa de Violeiro - Viola Caipira: Tradição, Mistérios e Crenças de um Instrumento com a Alma do Brasil, escrito por Chico Lobo e Fabio Sombra. É a intercalação de várias histórias de violeiros, recolhidas pelos autores ao longo dos anos, e as explicações que estes dão sobre os mistérios e segredos que envolvem a viola brasileira. Viola essa que foi a causadora do encontro e posterior amizade entre o Chico mineiro (!) e o Fábio carioca, já há dez anos.
Feliz junção das bagagens desses dois artistas e pesquisadores, cujo fruto é um livro de leitura gostosa, que não dá vontade de parar de ler. Parece até uma daquelas tardes – que terminam altas horas da noite – de grande contação de causos, um emendando no outro, quase como que saltando das folias de Reis ao guiso da cascavel, das missões jesuíticas às fitas coloridas, ou da função sagrada do violeiro às suas “esquisitices”.
O registro é escrito, mas o resultado é sonoro: ao ler a primeira vez, pareceu-me ouvir as contações, até cheguei a rir alto em alguns momentos, ante as histórias envolvendo o violeiro sedutor, ou as simpatias para se tornar um bom violeiro. Ou mesmo as peculiaridades e quadrinhas referentes ao São Gonçalo “brasileiro” (uma vez que foi um santo português de muito antes de o Brasil ter sido descoberto, mas que se abrasileirou e até ganhou uma violinha debaixo de seu braço).
Se está interessado, compre e leia. Se não estiver, compre e leia do mesmo jeito. Vai gostar, tenho certeza.
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