Notas da assembleia de novembro de 2015 da comunidade de CL do Rio de Janeiro, guiada por Marco Montrasi (Bracco), responsável nacional do Movimento, e padre Paulo Romão, responsável da cidade. Exemplos de como a fé incide na vida diante das provocações do dia a dia
Colocação: Eu estou vivendo uma situação familiar na qual a minha filha, mãe de duas netinhas, vai para Paris na semana que vem, a trabalho. E ela disse que tem mesmo que ir, e serão dez dias. Para mim, foi o seguinte: ou eu vivo 100% na presença do Senhor, aqui ou em Paris, ou eu não vivo! Mas isso tem sido uma ocasião para mim, principalmente nesses últimos dias, rezando mais por ela. O Senhor é o dono da vida dela, da minha vida, da vida das minhas netinhas, e eu quero me lembrar disso em todos os momentos. E como o Carrón falou na Jornada, as circunstâncias são essenciais para a nossa vocação, então essa circunstância agora é para a minha vocação, é para eu ser Dele cada vez mais.
Colocação: Tem uma parte no texto da Jornada de Início que fala: “Por que é fácil seguir? Porque é ceder à atração que me tomou. O problema é que muitas vezes, para nós, seguir não é ceder ao evento que nos tomou, com toda a consciência daquilo que nos acontece, para nós, seguir torna-se uma espécie de voluntarismo, um adequar-se a certas normas, a uma doutrina, a um conjunto de valores que defender”. Não sei se faço isso muitas vezes. Por exemplo, teve a Coleta de Alimentos, e eu fiz, hoje a assembleia, eu vim. Às vezes, parece que nos gestos estou seguindo, mas no dia-a-dia, com tantas coisas, com tantas dificuldades, com tantas coisas boas também, diante das pessoas que eu encontro, não tem muito como seguir. Parece que diante da realidade você não tem muito para quem olhar.
Bracco: Quem quer responder? Todo mundo tem que responder para si mesmo essa questão. Como estou vivendo esses dias? Estou vivendo com medo ou não? O que me tira esse medo? Ou estou dominado pelo medo? Precisamos ser sinceros para viver.
Colocação: Sobre o que ocorreu em Paris, quando acontece uma coisa assim, a primeira coisa que vem é o medo. E é fácil viver isso também no relacionamento, porque várias pessoas chegam para mim e dizem que é uma loucura eu me casar, porque parece absurdo, porque pra eles o casamento é a morte. E no dia-a-dia com o convívio, cada um faz o que quer, porque é livre. E padre Paulo, na Fraternidade, falava da força do olhar de Cristo para os apóstolos, que O seguiam, e dizia da importância desse olhar dentro da nossa própria casa, de amar assim. E, há alguns dias do casamento, eu desejo amar meu noivo assim, a ponto de querer vê-lo e aceitá-lo no mundo. E pensando nessas coisas que aconteceram em Paris, na minha realidade, me parece isso: um medo do mundo!
Colocação: Há 7 meses, quando a minha mulher descobriu que estava grávida, tudo estava maravilhoso, e já comecei a imaginar todo o futuro! Só que, três semanas depois, eu descobri que tinha uma doença grave e tinha que fazer uma cirurgia de urgência. E, esse momento foi muito tenso. Eu levei uns dois ou três dias para falar na Fraternidade. Não era que mudava a minha vida, porque o que eu tinha que fazer era esperar a cirurgia, mas, quando eu compartillhei minha experiência com eles, começou a surgir também coisas do dia-a-dia de cada um e como cada um estava vivendo a realidade. A partir daquele momento, falando também com os amigos, veio para mim um desejo muito grande de seguir. Não era só uma questão de participar da Escola de Comunidade, mas de ver o que essas pessoas estão falando, porque eles me ajudaram a olhar para isso de outra forma.
Colocação: Sobre o seguir, acho que seria impossível a gente viver sem comunidade. E a minha experiência do seguimento no Movimento é que, participando dos gestos propostos, isso me ajuda a viver mais todas as coisas: a minha relação com a minha familia, o meu dia-a-dia. Por exemplo, depois de 25 anos de uma carreira de sucesso, hoje, me vejo desempregada e o mais engraçado é que estou muito mais inteira, eu me sinto seguindo muito mais, com muito mais tempo para as coisas do que a vida é feita, me sinto vivendo mais! Eu que passei a vida inteira na Igreja, agora, parece que eu sigo mais a Cristo.
Padre Paulo: Como diz o texto: “Seguir assim, como decidir, é fácil. Eu seguiria aquele brilho nos olhos até o fim do mundo”. Então, para mim, tudo aquilo que vocês falaram me ajudam a lembrar do método de Deus. O método de Deus é assim, ele nos atrai, nos fascina. Então, a pessoa encontra o Movimento e começa a fazer uma experiência de fé que é pertinente para a vida, e vai atrás, porque fascina, não quer perder nada. Graças a Deus, nós temos pessoas novas, chegando agora, maravilhadas, fascinadas, que não querem perder nada, aderindo com simplicidade a tudo aquilo que é proposto. Isso é uma graça para mim! Nós temos que sempre voltar a origem e ao verdadeiro, ao que nos fascinou. Cristo renova de verdade a esperança! Porque aconteceu comigo, aconteceu conosco, e acontece de novo essa atração. Eu vejo nos olhos das pessoas essa atração. Cristo acontece hoje como aconteceu mais de 2000 anos atrás.
Colocação: Com tudo o que me aconteceu nessa semana, eu estava decidida a não vir hoje na Assembleia de Escola de Comunidade, por várias coisas, mas lendo esse texto eu me deparei com essa frase: “E se amanhã de repente eu Te perdesse, eu perderia o mundo inteiro, não somente a Ti”. Foi o suficiente para decidir, porque eu pensei que se eu não tivesse encontrado esses amigos, se eu não tivesse encontrado essa companhia, eu perderia tudo! E eu me lembrei também: “De que adianta ganhar ao mundo inteiro e depois perder a si mesmo”, e pensei que existem os problemas, mas se eu perder esse olhar, se eu perder essa companhia, no lugar que me foi dado, não poderei enfrentá-los.
Bracco: Esse é um exemplo do que significa seguir. Seguir é algo que eu preciso para viver. “Se amanhã eu te perdesse, eu perderia ao mundo inteiro, não somente a Ti”. Então, é bonito descobrir isso, porque o seguir é ver quem eu olho e me faz viver. Porque quando eu não tenho isso, vivo menos, se eu perco, não sou mais o mesmo. Então o seguir se torna, no fundo, aquela Presença no olhar. E não temos que ter medo das perguntas, podemos ter muitíssimas perguntas, não temos que responder logo, não! Por exemplo, nossa amiga que fala que tem medo do mundo, deixe aberto isso! Deixe essa ferida aberta! Não coloque lá as frases ou as coisas que sabemos, temos que ir até o fundo, para ver, redescobrir, reencontrar, se tem alguém de quem eu posso falar “se eu perco a ti, perco ao mundo inteiro”. Mas quando eu ganho a Ti, eu ganho ao mundo inteiro. Quando eu tenho uma Presença, desperta tanto o meu “eu” que não tenho medo, não tento criar muros, não tenho medo nem fico fechado. Devemos nos perguntar qual é o vínculo que eu tenho: quem é você, Senhor, para mim? Como é que Ele me ajuda a enfrentar tudo isso que está acontecendo? Quando eu redescubro esse vínculo com essa Presença, que me olha e me faz viver, eu posso olhar também, sem ter medo, para as outras pessoas, e ter o mesmo olhar de Cristo. Ele nos chamou a ter tanta certeza desse vínculo, e poder encontrar a todos.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón