PARIS, A RAIVA E A ORAÇÃO DE MINHA FILHA
Poucos dias após os trágicos acontecimentos de Paris, me encontrei com as famílias de dois amigos para comer uma pizza. Perguntamos a um deles como estava sua mãe, que vive na capital francesa, e se algum amigo tinha sido atingido. Voltando para casa, as crianças me perguntaram o que tinha acontecido em Paris. Procurei as palavras mais adequadas e pedi ao Senhor que me ajudasse a não transmitir o ódio, o medo e a raiva que realmente eu estava sentindo. Expliquei que alguns homens muito maus tinham entrado em alguns bares e em um concerto e tinham matado muitas pessoas. Eu não lhes disse quem eles eram, só que eles tinham deixado o diabo entrar em seus corações. Elas ficaram impressionadas e me perguntaram por que. Eu disse que não é possível compreender o Mal e que a coisa mais justa e útil que podemos fazer é rezar. Pelas pessoas que morreram, por suas famílias, pelos feridos, por nós e também pelos bandidos, para que Jesus mude os seus corações. Elas me perguntaram se há uma maneira de parar a guerra, eu disse: a oração feita com o coração. Contei que graças ao fato que São João Paulo II consagrou o mundo a Maria, e com as orações de todos, não estourou outra guerra mundial. Eu disse que Maria nos protege se lhe pedirmos a cada dia. E que São Miguel luta com a sua espada contra o demônio. Depois eu propus para recitarmos uma Ave Maria. Hoje, enquanto eu preparava o jantar, recebi uma foto de Delphine, uma menina da idade da minha filha mais velha, que foi assassinada pelos terroristas. Pensei que poderia ter sido ela, fiquei em crise, não conseguia parar de chorar pensando nesta menina, pela impotência, ódio e raiva que eu ainda tinha dentro de mim. As crianças estavam assistindo a um desenho animado sobre a Criação, e de repente aquela de cinco anos entra na cozinha, e me diz: “Mãe, se todos nós somos filhos de Deus e irmãos de Jesus, nós também somos irmãs dos homens muito maus, Deus é Pai deles, por isso devemos orar por eles”. Sou grata ao Senhor porque nunca nos abandona, não nos deixa sozinhos na difícil e apaixonante tarefa de educar nossos filhos, sobretudo quando experimentamos o nosso mal e a nossa pequenez, se lhe pedimos.
Sara, Madri (Espanha)
COMPARTILHAR O SENTIDO DA VIDA
Durante a Coleta de Alimentos eu estava distribuindo os panfletos na porta do supermercado quando um homem se aproximou. Comecei a falar da proposta para ele, e em um instante já havia entendido tudo. No entanto ele se virou para mim e falou: “Eu gostaria muito de te ajudar, mas não posso. Eu estou desempregado, passo o dia com meu currículo procurando algo, eu vim aqui porque soube de uma promoção de bolo e tenho que aproveitar essas oportunidades” e depois completou “eu estou cansado sabe, cansado de passar por esse sofrimento todo, eu não aguento tanta maldade nesse mundo”. Então eu perguntei “por que o senhor está aqui? Por que o senhor está aqui, de pé, continuando a lutar? Por que o senhor se levanta da cama ainda?”. Depois de alguns momentos em silêncio ele respondeu: “Eu não posso desistir. Eu tenho algo dentro de mim... uma esperança”. “Ótimo, então é isso que o senhor tem que prestar atenção de verdade. Que o mundo seja cheio de sofrimento e maldade é terrível, mas não é problema nosso. Nosso problema é olhar para esse algo que eu e o senhor temos dentro de nós, esse algo que nos mantém de pé. E pode ter certeza que o senhor não está sozinho nisso, todos nós temos isso, inclusive as pessoas que o deixaram assim”. Ele rebateu que não, mas eu insisti que sim, que está apenas bem enterrado, mas está lá. E nós estamos aqui exatamente para desenterrar isso em nós. “Preste atenção que quando Cristo veio, ele não convocava as pessoas para combater o mal, ele as chamava para seguirem Ele, então o que nós temos que nos preocupar é com isso, acima de tudo. O resto está nas mãos de Deus”. Ele entrou então no supermercado, depois de um tempo ele saiu apenas com um pacote, que me entregou como doação dizendo: “Olhe, muito obrigado. Deus realmente nos fez para sermos felizes”, virou-se e foi embora. Nunca havia se tornando tão concreto e patente para mim o significado da Coleta de partilhar o sentido da vida, e somente essa conversa preencheu todo aquele dia de beleza. Pelo resto do gesto e mesmo depois não consegui fazer mais nada de modo raso e mecânico, pois tudo aquilo havia ganhado um significado.
João Victor, Aracaju (SE)
POR QUE PRECISO DA CERTEZA DE PADRE IBRAHIM
Domingo, 4 de outubro, em Lima, fizemos um encontro público sobre os cristãos perseguidos no mundo. Desde que vi o vídeo do testemunho de padre Ibrahim Alsabagh no Meeting de Rímini desejei que todo o mundo pudesse ouvi-lo. O que me impressionava mais é que não se tratava só de escutar a sua história, mas de poder participar da vida da Igreja e daquilo que Deus está nos pedindo. Assim que os convites ficaram prontos, enviei a todos os meus amigos e às pessoas que conheci nos últimos anos, no trabalho e em outras ocasiões. Todos responderam agradecendo-me, alguns dizendo que não poderiam ir e outros, dizendo que participariam. Porém, no dia do encontro, nenhum deles pôde vir. Isso, evidentemente, deixou-me triste, mas, enquanto assistia ao vídeo, percebi que eu estava ali por mim. Precisava ver mais uma vez a certeza daquele frade e dos outros testemunhos. O que me tocou do encontro foi o modo como os dados sobre os cristãos perseguidos foram apresentados e como fomos convidados a olhar para eles não como “pobres coitados”, mas como pessoas que respondem às circunstâncias. Fico impressionada como aquelas pessoas têm clara e viva a razão da própria vida e a razão pela qual estão presentes naquele lugar. Essa, para mim, é a beleza do cristianismo. Eu desejo isso.
Daniela, Lima (Peru)
VENCIDOS PELO IMPREVISTO, O MÉTODO DE DEUS
Caríssimos amigos, não poderia deixar de partilhar minha experiência diante das circunstâncias difíceis que tenho vivido. Meu esposo ainda está desempregado, tem sido uma luta para mim trabalhar e acreditar que “tudo, tudo se torna amigo”. Eu estava vivendo uma tristeza, um desânimo que parecia que ia me engolir. O texto de Abraão e o texto de Início de Ano têm sido o meio do qual Cristo fala comigo. Quando Davide Prosperi fala sobre as segundas-feiras, onde se pode recomeçar sempre me dá forças para continuar. Eu teria mil motivos para não ir ajudar na Coleta de Alimentos, mas o imprevisto aconteceu: meu marido não participa do Movimento, mas foi convidado a ajudar e ficar responsável por um supermercado. Conversamos e decidimos ir, esquecer de nós mesmos e ir ao encontro de algo maior que respondesse de alguma forma ao que temos vivido. À princípio iríamos ficar no mesmo supermercado, mas de última hora foi pedido para eu ficar em outro, e minhas filhas Gabriela e Lyvia em outro ainda. Vivemos momentos intensos que não tenho palavras para explicar. Eu me sentia unida aos participantes do gesto no Brasil a cada vez que abordava uma pessoa. A tristeza foi dando lugar a uma satisfação misturada com uma alegria. Participei das 7h30 às 18h30 e me senti muito bem. Ao olhar para minha fraterna Bianca me dei conta de como foi perfeito e belo nosso dia. Diante de quase 1 tonelada de alimentos doados neste supermercado tive a certeza de que Cristo não vai deixar me faltar nada. “De novo
Abraão. De novo o método de Deus: o imprevisto”. Quando encontrei meu esposo ao final do gesto, nos beijamos com uma sensação de missão cumprida, uma beleza como as “segundas- -feiras”, e o vi de um modo que pensei que só o veria quando conseguisse um novo emprego. Volto ao texto de Início de Ano: “Alguém realmente pode pensar que o método imaginado por nós possa ser mais incidente que aquele escolhido por Deus?”. Com todo o contexto que vivo, prevaleceu o imprevisto que me encheu de alegria e esperança. Sinto-me agradecida a Dom Giussani por essa companhia.
Maria Auxiliadora, São Lourenço (MG)
O GOSTO DA VIDA GRUDADO NA PELE
Voltei a frequentar a caritativa depois de vinte e dois anos, exatamente desde que me aventurei a me casar. Cheguei à Caritas num sábado à tarde com a minha amiga Franca e me encontrei com pessoas totalmente desconhecidas; as poucas pessoas do Movimento que estavam presentes nunca tinham sido minhas amigas. Porém, a acolhida foi espetacular. Naquele dia eu estava realmente triste e me sentia vazia e infeliz. No entanto, quando fui embora percebia grudado em minha pele o gosto da vida. Assim, vencida por uma atração humana, maior do que a minha tristeza, continuei indo à caritativa, e estou cada vez mais feliz. Eu deveria servir às mesas. Eles oferecem refeições aos pobres e eu enquanto fazia isso pensei muitas vezes que aquela era uma ocasião única para servir a Deus e pedia que Ele se lembrasse de mim. Em seguida, começaram as missas e reuniões com padre Ciccio: poucas palavras, mas densas. Basta olhar para ver que a regra de vida, também nos dramas, é a caridade e que as pessoas vêm para encontrar um sentido para a existência. Começa a Escola de Comunidade e cresce a amizade e não sinto estranho o homem ao meu lado cujo pedido de significado sinto pulsar entre o corte de uma alface e um pão. Eu sinto a alegria prevalecer sobre a dor e a esperança que se afirma gradualmente em cada rosto. Tenho facilidade de falar sobre isso e começo a convidar outros amigos. A tarefa da vida é conhecer e amar a Deus e ali, aqueles quatro que tornaram- se cento e quarenta, testemunham a fé com muita simplicidade. Eu vou lá e aprendo a bondade e o coração agora está menos triste e solitário. Ao fritar a centésima fatia de abobrinha conto para a senhora na minha frente que o Paraíso deve ser exatamente assim: cheio de pessoas pobres na primeira fila. Chego em casa toda moída, mas estou mais feliz: Deus, como se diz nos Evangelhos, se fez carne.
Giovanna, Catania (Itália)
“POR QUE VOCÊS SE CHAMAM COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO?”
Fui à Filadélfia para o Encontro mundial das Famílias. Quando me pediram para trabalhar no estande de CL, como primeira reação eu não gostei, pois não gosto de multidões. Também não entendia porque eu deveria ir à Filadélfia se o Papa Francisco já iria visitar Nova York... No fim decidi aceitar porque, se tinha sido pedido a mim, talvez fosse acontecer algo bom. Cheguei ao encontro na quarta-feira e o primeiro impacto foi ver pessoas de todas as partes do mundo circulando por ali. Se uma pessoa decide vir do Chile, do México, da Ucrânia, da Nigéria, do Canadá até a Filadélfia, é porque tem alguma coisa importante acontecendo. Quando cheguei ao pavilhão onde estariam os estandes voltei a ficar tensa e ansiosa. Eram muitos, uns grudados nos outros, e o nosso de CL era bem pequeno e não tínhamos brindes nem doces para oferecer, apenas alguns livrinhos, cartazes e nós mesmos. Elisabetta veio trabalhar comigo como voluntária para que eu não ficasse sozinha. Mesmo sendo um estande pequeno, muitas pessoas paravam para conversar conosco. Um casal mexicano viu nosso nome e perguntou: “Por que vocês se chamam Comunhão e Libertação? Como chegam a esta libertação?”. Fiquei surpresa e tentei responder dizendo que CL está centrado em Cristo e que permanecendo unidos a Cristo podemos ser livres naquilo que fazemos. Mas não era suficiente para eles e precisei aprofundar. Conversamos um pouco. Eu disse o quanto é importante para mim encontrar-me com os meus amigos do Movimento, porque é através deste diálogo que podemos caminhar juntos rumo a Cristo. Entendi que para me tornar eu mesma preciso estar perto de pessoas que me lembrem de quem eu sou. A senhora me respondeu: “Sim, o ‘eu’ é muito importante”. Exclamei: “Sim! É como para João e André; eles seguiram Cristo não porque era um rei ou tinha dinheiro, mas pela sua humanidade, e eu quero viver buscando aquela mesma presença em cada coisa que faço, no meu trabalho, com a minha família, porque somente assim posso reconhecer o seu amor por mim e ser eu mesma”. A mulher me olhou e disse: “Pode repetir o que disse? Eu quero gravar e levar ao México para mostrar às mães solteiras que trabalham, porque acho que é algo que deveriam saber”. Não me sinto muito à vontade falando diante de uma câmera, mas fiz isso porque queria compartilhar com aquelas pessoas no México, com o meu horrível espanhol, o fato de que elas também podem viver assim. Também entendi que este era o motivo pelo qual eu estava ali: falar com aquela mulher. No sábado eu participei do Encontro com as famílias. Enquanto eu estava ali esperando o Papa passar, vi um rosto familiar. Era a mulher mexicana com a qual eu tinha falado na quinta-feira. Ela simplesmente me sorriu. Rezo para que a cada dia eu possa ser comovida do mesmo modo com o qual eu estava diante daquela mulher.
Winnie, Nova York (EUA)
REPETINDO PARA ENTENDER AS VERDADES DE SEMPRE
Escrevo para contar duas experiências simples, mas muito marcantes para mim nas últimas semanas. A primeira coisa é sobre João e André, que foram atrás de Jesus, apontados por João Batista. Já li muitas vezes Dom Giussani e Carrón falando disso até à exaustão, mas, no fundo, nunca tinha entendido bem. Precisou acontecer um fato para eu entender isso. Desde que eu cheguei em Brasília existe uma figura que é quase “onipresente” na boca das pessoas aqui, que é o padre Giorgio, missionário que voltou à Itália devido a problemas de saúde. Sempre ouvi falar desse homem, e sempre me perguntava: “mas quem é esse Giorgio, que esse povo fala tanto?”. Aconteceu que o padre Giorgio veio à Brasília há alguns dias, para visitar os amigos, e a comunidade resolveu realizar um encontro com ele para que ele pudesse encontrar todo mundo. O encontro foi aberto e eu fui me perguntando porque eu iria lá atrás de uma pessoa que eu nem sequer conheço. Eu me perguntava e me respondia: “Mas isso não é verdade, eu o conheço por fé, conheço pelo testemunho dos meus amigos aqui, e agora quero ver quem é esse cara”. E me surpreendi me vendo diante de uma pessoa para o qual o viver é Cristo, que está totalmente diante de Cristo. Eu me vi diante de uma vida cumprida e entendi o que sempre me impressionou na comunidade de Brasília. “Agora eu entendi porque essa comunidade existe”, eu me dizia. Ao mesmo tempo, enquanto acontecia o encontro com o padre Giorgio, outro fato acontecia. Ao meu lado estava uma amiga, com várias cópias do texto Dia de Início de Ano dos Colegiais. Li rapidamente alguma coisa, e aquelas palavras me impactaram a tal ponto que eu fui ao site da Revista Passos, imprimi os textos, e comecei a ler. Li no texto do José Medina as mesmas palavras que Carrón tanto repete de Dom Giussani e me impressionou perceber uma coisa: os meus amigos mais velhos sempre dizem que Carrón nos dá Giussani, e eu nunca tinha entendido. Entendi dessa vez porque na verdade o José Medina me deu o Carrón. Há algum tempo eu andava meio incomodado lendo Carrón pensando que ele sempre repete as mesmas coisas, e lendo José Medina, entendi que eu preciso que alguém me diga sempre as verdades de sempre. Hoje me surpreendi acordando, e, antes de fazer qualquer outra coisa, ir ler a Escola de Comunidade de outubro do Carrón. Me surpreendi lendo as palavras do Carrón às sete horas da manhã, em silêncio, e vibrando diante daquelas palavras, porque são as palavras “que correspondem, que dão sentido à vida”. Relendo o Carrón desse jeito entendi porque ele sempre repete as mesmas coisas, sempre de um modo novo: porque eu preciso ouvir, de modo sempre novo, as verdades de sempre.
Dimitri, Brasília (DF)
O ANGELUS ANTES DA AULA
No início do semestre, junto com outros professores, convidamos os colegas do instituto técnico onde trabalho para a celebração de uma missa pelo início das atividades escolares. Éramos cerca de quarenta pessoas entre funcionários e alunos. No fim da celebração, convidamos a todos para recitarmos o Angelus lendo o seguinte trecho: “Em 1977, Dom Luigi Giussani falando a um congresso de educadores, afirmava que a pergunta exata a fim de que uma presença cristã no ambiente seja centrada não é ‘O que devo fazer lá onde estou?’. Mas: ‘Eu, o que sou?’. A coisa mais importante para uma presença é a oração, é fazer memória daquilo que aconteceu, retomar continuamente a consciência daquilo que se é. É preciso recordar para estar presentes. Atravessar os portões da escola com esta consciência torna a nossa pessoa presente, mesmo sem ter dito uma palavra ou movido um dedo, e viver esta memória impede de estar parados ou calados, e ausentes. Tomando para nós este chamado, convidamos a cada um para recitarmos o Angelus diariamente às 7h55”. Muitas pessoas nos agradeceram por este convite, tão simples e tão essencial, e começaram a vir.
Antonia, Desio (Itália)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón