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Passos N.99, Novembro 2008

SOCIEDADE - PÁDUA

Homens livres na prisão

por Paola Bergamini

Nós nos despedimos deles no final do Meeting de 2008; um deles disse: "Não vejo a hora de voltar para a prisão, para contar o que vi aqui". Voltamos a encontrá-los, agora "dentro". O que mudou na vida (e no mundo) dos prisioneiros que foram protagonistas da exposição de Rímini? Fomos conferir

Para Franco, "era uma coisa grande, uma explosão, aquilo", e seus olhos brilham enquanto olha a foto que ele tirou ao lado de Vicky. Aos 44 anos, com duas penas para cumprir, Franco era um dos dez detentos presentes ao Meeting de Rímini, na Mostra sobre as penitenciárias. Passaram-se algumas semanas deste evento. Na prisão de segurança máxima de Pádua, a vida recomeçou, para ele e para os outros nove: acordar, tomar café, trabalho no departamento de montagem, almoço... Tudo como antes? "Eu nem queria ir ao Meeting. Pareciam-me dias perdidos, que poderia passar com minha mãe, que há anos não me vê. No entanto... aquela semana mudou a minha vida. No início achei que todos apenas repetiam um padrão: muito gentis, acolhedores; e, no entanto, conforme os dias passavam, entendi que as pessoas nos queriam bem de verdade. Senti-me acolhido, compreendido, nunca julgado. Não via a hora de voltar para a prisão para contar a todos aquilo que eu havia vivido, as emoções que tive a possibilidade de experimentar depois de tantos anos", conta Franco. "Nós o conhecemos bem. Não fica quieto um minuto!", comenta Michele, que tinha se aproximado. "Nós zombamos um pouco dele, mas é verdade que está diferente. Eu ainda tenho muitos anos para cumprir, mas ouvir falar dessa experiência fez nascer também em mim um pouco de esperança de que lá fora existe um pouco de bem. O mal que fizemos nos mantém aqui dentro. Quem sabe, no próximo ano, eu também possa ir".
Franco continua trabalhando, mas não fica calado: "Quando contava o motivo da minha detenção, sentia-me incomodado, me envergonhava, mas ao mesmo tempo estava me libertando de um peso enorme. Os muros da prisão escondem-nos, não nos sentimos observados, não precisamos nos confrontar com ninguém. A verdadeira condenação começa exatamente quando se está fora e existem verdades que fazem mal serem contadas, mas que não podem continuar a ser evitadas. Não sou mais aquele de antes".
Isso foi percebido por uma senhora que esteve em Rímini e, no final da visita à Mostra, aproximou-se de Franco e lhe disse: "Espero que a pessoa que matou meu filho possa tornar-se como você e que, como você, possa entender o mal que fez". Ele ficou comovido e afastou-se pensando seriamente em voltar à prisão antes do previsto. "Naquele momento entendi que a vida é um desafio", lembra. Depois, enquanto nos afastamos, ele olha para a foto, sorri e diz ao seu companheiro: "Vamos, que o trabalho vai até o meio-dia". E a mim: "Nos vemos depois".
Antes de entrar na sala para o almoço passo pelos outros setores de trabalho e faço a mesma pergunta a quem encontro: "O que disseram a vocês sobre o Meeting?". A resposta é sempre a mesma: "Deve ter sido uma bela experiência. Eles mudaram. Não param de falar sobre isso. Eu também quero ir no próximo ano...".

A camiseta do Meeting
O almoço, em uma pequena sala da prisão, é com alguns detentos e operadores da cooperativa Giotto (ver Passos n. 69, fevereiro 2006). Recoloco a pergunta sobre o Meeting. Alberto, sentado na minha frente, levantando a voz, diz: "Franco, então, foi uma coisa grande, aquilo!". Todos riem. Alberto continua: "À parte as brincadeiras, ele realmente parece uma outra pessoa. Ter encontrado essa compreensão é a coisa mais importante, dá uma esperança positiva, porque se torna palpável que existe uma possibilidade, mesmo para aqueles que, como eu, cumprem 'prisão perpétua'. Depois, é necessário encontrar alguém que acredita em você, e isso não é sempre fácil". Franco intervém: "Sei que estou mudado. Minha mãe também percebeu. Antes, quando falava com ela por telefone perguntava... como estava o tempo. Não sabia o que dizer. Agora, os dez minutos passam voando". "Meu companheiro de cela, uma pessoa muito calada, quando voltou de Rímini me manteve acordado até à uma e meia da manhã para contar o que tinha acontecido. Os encontros mudam você. Uma das guias da Mostra, enviou-me uma camiseta do Meeting com um bilhete: Você é uma pessoa, eu lhe ajudo", conta Marino. Wellington, junto com Dario, preso em Como, contou sua história no encontro com o Ministro da Justiça, Angelino Alfano, diante de 9.000 pessoas. "Sabe o que me tocou? Poder olhar os outros nos olhos e ver olhares caridosos. Eu saí de lá com uma esperança. Na Mostra, eu era intérprete para os grupos espanhóis. Outro dia, telefonei a um jovem universitário que me acompanhava durante as visitas guiadas. Ele não esperava, mas ficou contente. Eu também". "Quando você voltou parecia mesmo um homem livre", comenta Dinja. Wellington sorri. "Os olhos do meu companheiro de cela brilhavam", diz Umberto, enquanto come a sobremesa. Ao lado dele, Ye Wu, diz em voz baixa: "Encontrei uma coisa maior que a China! Quando sair daqui e for um homem livre, quero me tornar voluntário".
Davide intervém: "Eu nem sabia da existência deste Meeting. Fiquei marcado pela Rose, que cuida de doentes de Aids em Uganda. Ela visitou nossa Mostra e disse: 'Quando eu mudo, mudo também o mundo'. Entendi que sou mais do que minha condenação. Foi importante ouvir isso. Também havia todas aquelas pessoas que vinham ver a Mostra e mudavam depois de visitá-la. Lembro-me de uma senhora que, no início, estava com muita raiva e na saída... tinha lágrimas nos olhos. Ela foi mudada assim como eu". Qual foi o encontro que mais tocou vocês? A resposta é unânime: as crianças. "Com suas perguntas nos deixavam desconcertados", explica Franco. Uma menina lhe perguntou: "Por que antes de disparar você não pensou?". Suas pernas tremeram, ele sentou-se e respondeu: "Você tem razão, devia ter pensado, mas antes eu não era o Franco de hoje; antes nunca pensava naquilo que fazia e é por isso que estou na prisão. Mas, se desde criança não escolhesse esse caminho terrível, hoje não estaria aqui com você, não teria lhe conhecido".
"Os jovens que estavam conosco na Mostra também nos tocaram. Eu me sentia em família. Apresentavam-me seus amigos. Hoje, troco correspondência com alguns deles", diz Sputin. A mudança ocorre dentro de um relacionamento. E a Mostra? "A 'nossa' Mostra é belíssima. Embora não a tenha lido toda". Aquele "nossa" já diz tudo.

Um único coração
E os operadores? Luca é o primeiro a falar: "Eu os acompanho na recuperação. Depois de alguns dias, liguei para minha mulher e pedi que viesse com minha filha. Elas não podiam perder um acontecimento desse porte. E, voltando às crianças, minha filha me disse: 'Entendi duas coisas: todos podemos errar, todos temos o mesmo coração'. O Meeting não terminou. O que aconteceu é para sempre. Eu peço para que seja sempre assim".
"O que salta aos olhos é que seus corações mudaram. Eu desejo que meu coração mude", diz Gianluca, administrador da cooperativa Giotto. Um instante de silêncio e, depois, os detentos aplaudem. "A experiência do Meeting foi uma solicitação potente sobre a verdade da própria vida e diz respeito a todos, indistintamente. Que faz dizer: "Não vejo a hora de voltar! Existe algo real que nos une", continua Nicola Boscoletto, presidente da Giotto. É algo maior que permanece no tempo, dentro do coração. E muda o olhar. É aquela possibilidade de esperança, dentro do mal feito. É a possibilidade de ser livres, mesmo para aqueles que cumprem "prisão perpétua".
Fora, olho os apontamentos no bloco de anotações: mudança, esperança, coração e comoção são as palavras que mais aparecem. Mas são os olhares que tenho impressos na mente. Eles refletem um Olhar maior, um abraço que abarca tudo, sobre o qual não se tem domínio, mas deseja-se comunicá-lo ao mundo. O cristianismo é um acontecimento que se comunica de pessoa a pessoa, como foi para Zaqueu e para a Samaritana.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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