Dia 19 de outubro, em Lisieux, foram beatificados Zelia e Luigi Martin, pais de Santa Terezinha. Graças a eles, seis anos atrás Pietro Schilirò conseguiu a cura. Hoje contamos o que aconteceu depois disso
"Aconteceu-nos algo que nos supera em todos os aspectos". Valter e Adele Schilirò, casados desde 1986, têm cinco filhos e moram em Monza, Itália. Duas pessoas simples ("somos uma família normalíssima") que há seis anos se depararam com uma série de fatos extraordinários. A partir da cura de um filho que, para os médicos, deveria viver apenas alguns dias senão poucas horas. No entanto, continua aqui, acabou de jogar a mochila no chão (estuda na primeira série, e ela já é muito pesada) para ir brincar com os irmãos. Está vivo por um milagre, no verdadeiro sentido da palavra. Tanto que aqueles que intercederam por ele acabam de ser beatificados: uma mãe e um pai que viveram há um século e meio, um casal normal como seus pais. Mas vamos por ordem.
Na manhã do dia 25 de maio de 2002, nasce Pietro. Pesa quatro quilos, mas algo não está bem ("sentimos uma agonia terrível"): alguns segundos, e o recém-nascido pára de respirar. É transferido para a UTI e entubado. As condições são graves. A biopsia confirmará, preto no branco: má formação congênita dos pulmões. Adele continua a pensar nas palavras com as quais, três semanas antes, Dom Giussani terminou os Exercícios da Fraternidade, descrevendo a comoção de Jesus diante daquela viúva que Ele nunca vira antes: "Mulher, não chore!". "Isso nos lembrou que temos um pai bom. Podíamos ousar, pedir que Pietro fosse curado. Sem pretender que o Senhor fizesse aquilo que desejávamos, mas certos de que se quisesse, poderia", conta Adele. Padre Antonio, um sacerdote muito próximo da família, dá a eles uma pequena imagem e uma sugestão: "São Zelia e Luigi Martin, os pais de Santa Teresa de Lisieux. Peçam a eles, perderam quatro filhos e podem ajudar vocês nesta dificuldade". Chamados pelo responsável por causa dos resultados dos exames ("Esperança, para a ciência, não existe"), Adele e Valter respondem sem exitar: "Então, colocamos nossa esperança no Senhor. Pela intercessão do casal Martin, pedimos que Pietro seja curado".
Gritam a todos
Começa, assim, uma corrente que envolve amigos, colegas, médicos, vizinhos e simples conhecidos: "Pedíamos a todos para rezarem para os Martin". Um casal que, há 150 anos, "por tantas coisas, lembram este: as mesmas dificuldades no trabalho, as mesmas preocupações em relação aos filhos...". Alguns não dão ouvidos, outros dão a imagem à mãe ou à avó (explicando: "melhor ela, que vai à igreja"). Outros, ficam desconcertados, como uma vizinha dos Schilirò que pergunta: "Mas o Senhor me escutará?". "Respondemos que não cabia a ela definir isso. Então, mudou de posição, espantada, antes de mais nada, pelo fato de termos tocado seu interfone: 'No lugar de vocês, teria me fechado em casa – disse-nos depois –, sem querer ver ninguém. No entanto, vocês vieram pedir (a mim!) para rezar' ". Um mês se passa, Pietro não melhora. "Com a certeza de que não havia esperança, alguns médicos viam apenas o prolongamento de um sofrimento inútil – conta Adele –. O que faltava a eles era a abertura à possibilidade da intervenção do Mistério". Coisa que, no entanto, acontece.
Na manhã de 29 de junho a enfermeira corre ao encontro dos Schilirò: "Aconteceu um milagre". Pela primeira vez, foi possível reduzir a quantidade de oxigênio do respirador de 100% para 70%. No dia 2 de julho, Pietro respira sozinho. No dia 27, vai para casa.
Heróico e cotidiano
Um milagre, exatamente. Que entra nos processos, comissões, atos e informes. Graças ao qual a Igreja, no próximo dia 19 de outubro beatificará o casal Martin. Adele continua sublinhando aquilo que a fascinou neste casal da metade do século XIX que, à primeira vista, não têm nada de extraordinário: "O testemunho de que o cotidiano se torna heróico. E que somos chamados à santidade como casados, não apenas como solteiros". Um exemplo para toda a Igreja. Como lhes disse Dom Guy Gaucher, Bispo emérito de Bayeux-Lisieux: "Vocês não sabem o que quer dizer para as famílias francesas recuperar toda a dimensão da família cristã!". Assim, explica Valter, "muitos foram convertidos por causa daquilo que aconteceu ao nosso filho e, agora, acreditam em Cristo e na sua Igreja: são coisas maiores que nós, que vão além da nossa compreensão".
É quase impossível acompanhar tudo aquilo que nasceu, a partir daquele dia. Da estima ou simples curiosidade pelo Movimento por parte de alguns prelados envolvidos no processo (os livretos daqueles Exercícios da Fraternidade de 2002 ficaram esgotados), a muitos episódios de conversão pessoal. “Para todos, significou descobrir que o Senhor nos acompanha na vida. E isso acontece também sem a necessidade de um milagre tão extraordinário", conta Adele. É o caso de Flor, que traduziu vários escritos de Santa Teresa para o espanhol. Em Lisieux, encontrou-se com os Schilirò, de quem conheceu a história: "Para ela, não parecia verdade ter podido nos encontrar. Perguntou-nos: "Vocês são de CL? Ouvi falar de vocês no rádio: também quero participar do seu Movimento". Então, a colocamos em contato com os amigos de Madri". Ou Thomas Nevin, professor universitário em Cleveland e autor de um livro sobre Thérèse of Lisieux que – embora já conhecendo a vida, a morte e os milagres da família Martin – "encontrando-nos, ficou muito comovido porque viu, fisicamente, a obra do Senhor". Ou, última em ordem cronológica, a amizade que nasceu com Federico, jovem bailarino do Friuli que, viajando a Lourdes em peregrinação, hospedou-se no "Hotel de Lisieux" ("sabe-se lá porque!"), onde descobriu a história de Teresa e de sua família, levando-o a Adele e Valter: "Veio jantar conosco, contou que voltou a ir à missa. Disse-nos: "Agora devo assumir esta coisa fascinante que me tomou". Seu ambiente de trabalho não é fácil, tanto que um dia nos escreveu: 'Não é possível viver assim!' ". Adele, então, tem uma intuição: "Sugeri que ele lesse um certo livro de Dom Giussani... Um momento de silêncio, e prometi que trabalharíamos o livro juntos".
O CÉU EM CASA Uma vida normal (na aparência). Esses eram os pais de Teresa Luigi e Zelia. Ele, relojoeiro; ela, rendeira. São os pais da “petite Thérèse” ou – como disse são Pio X – “a maior santa dos tempos modernos”. Dia 19 de outubro, na Basílica de Lisieux, o Cardeal José Saraiva-Martins os declarou beatos: é a segunda vez, na história da Igreja, que um casal é beatificado junto (depois do casal Beltrame Quattrocchi, em 2001). Luigi Martin nasceu em Bordeaux, em 1823. Aos 22 anos, pede para juntar-se aos monges do eremitério do Gran San Bernardo, mas é recusado “porque não conhece o latim”. Mudou-se para Alençon, onde abre uma relojoaria. Também Zelia, que nasceu oito anos depois, em Gandelain, foi atraída para a vida monástica, mas teve de renunciá-la por motivos de saúde. Decidiu, então, dedicar-se ao “point d´Alençon”, um tipo de renda muito famoso na época. Em 1858, houve o encontro com Luigi. Uma voz lhe diz claramente: “É esse homem que eu preparei para você”. Depois de breve namoro, os dois se casam. Nascem nove filhos; quatro morrem precocemente; os outros cinco (entre os quais Teresa) são mulheres. O dia dos Martin começava às 5h30, com a Missa; a casa estava sempre aberta aos pobres, que podiam contar com uma roupa limpa e um prato de comida quente. Com esses gestos diários, os Martin transmitem a fé às filhas; como depois escreverá Teresa, são “pais mais dignos do céu do que da Terra”. De dentro do convento ela lhe diz: “Quando penso em você, penso no bom Deus”. Em 1877, Zelia morre de câncer. A família muda-se para Lisieux; aí, as cinco filhas ingressam no Carmelo. Em seus últimos anos de vida, Luigi perde lentamente as faculdades mentais, sendo internado no sanatório de Caen. Nos momentos de lucidez, oferece a Deus também a humilhação dessa doença. Morre dia 29 de maio de 1894. |
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón