Passos N.181, Junho 2016

EM FOCO | SÍRIA

O epicentro da paz

Em Aleppo, na Síria, os palácios construídos ao longo dos séculos por arte nobre e antiga são agora a base de atiradores que controlam cada palmo da cidade. A batalha pelo controle da área ainda está em aberto, o terreno se conquista metro a metro. Às vezes, é difícil ver a linha que separa o governo dos rebeldes. A "Capital do Norte" é o teatro por vários meses último confronto violento entre as forças do regime e os islâmicos, num momento crucial para delinear o futuro da Síria.

São poucos os cristãos que permaneceram na cidade. E muitas as igrejas destruídas. Mas as que resistem aos ataques, como a igreja de São Francisco, tornam-se ponto de referência para muitos, mesmo de outras confissões. Ali, os frades da Custódia da Terra Santa percebem que entre as vielas do bairro Azizieh Ali – mesmo entre os escombros – há algo que começa a renascer.

Padre Ibrahim Alsabagh, pároco de São Francisco, afirma: “Abrimos o poço do convento e, com voluntários, de manhã à noite, distribuímos muitos litros diariamente. A nossa resposta, que é a resposta da fé, da Ressurreição, significa também estar sempre atentos ao sopro do Espírito, às necessidades das pessoas, cristãs e muçulmanas. Quando uma senhora nos bate à porta pedindo água, não interessa se usa o véu ou não, interessa que tem sede. O mesmo com as crianças famintas, para quem escapa das bombas e precisa de segurança”.

O vigário apostólico de Aleppo, Dom Abou Khazen, conta como a comunidade cristã mudou: “Os muçulmanos tiveram que fugir de seus bairros e vieram aos bairros cristãos. Agora convivemos olhando-nos na cara. Reconhecem em nós uma diversidade, uma abertura que nunca antes tinham encontrado”. A obra mais imponente é a distribuição de refeições por parte do Jesuit Refugee Service que não só ajuda cristãos e muçulmanos, mas colabora com voluntários e benfeitores islâmicos. “Acontece que, vendo algum cristão abandonar a cidade, os muçulmanos digam: ‘Não nos deixem sós’. Os cristãos tornaram-se o elo de ligação na fragmentada realidade de Aleppo e da Síria”, explica o Bispo.