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Passos N.185, Outubro 2016

HOMENAGEM | PADRE GIGIO

Educar através da Beleza

por Patrícia Molina

Um sacerdote italiano que, mesmo tendo deixado o Brasil há alguns anos, nunca ficou distante. Sua presença constante, e sua paternidade, são sustento de muitas obras sociais. Uma dedicação de anos que agora foi publicamente reconhecida

No dia 15 de setembro, Padre Luigi Valentini, o querido Padre Gigio, aos 81 anos, recebeu o título de Cidadão Paulistano, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo pelos 36 anos de Missão na Associação Menino Deus. A cerimônia, acompanhada de perto por amigos e autoridades públicas, foi marcada acima de tudo pela gratidão e pelo reconhecimento das grandes coisas que Deus faz a partir do sim de um homem plenamente consciente do seu eu e totalmente entregue a Cristo.
A história da Associação Menino Deus é um dos exemplos de como o Senhor constrói no tempo grandes coisas, sempre se utilizando da realidade, de pessoas e de momentos de pessoas. Padre Gigio começou a trabalhar na Freguesia do Ó, área com alto índice de vulnerabilidade em São Paulo, depois que precisou deixar a Zona Leste, uma das regiões mais carentes da maior cidade da América Latina. A mudança ocorreu em um momento difícil da vida de Padre Gigio que precisava lidar com a fragilidade da saúde e com a falta dos amigos que haviam começado o caminho com ele quando chegou da Itália.

Um novo lugar, uma nova companhia. Na Freguesia do Ó ele se juntou ao Padre João Carlos Petrini, hoje Bispo da Diocese de Camaçari (BA), ao Padre Vando Valentin e a um grupo de universitários que fazia caritativa naquela comunidade, conhecida como Favela da Minas Gás. Aos poucos uma nova Presença começou a ganhar força naquele grupinho de amigos. Padre Gigio participava das coisas com eles, rezava a missa aos sábados, ia se envolvendo com a vida daquela comunidade, ajudava a ver a questão da falta de água, da luz. Até que um dia houve um incêndio em um dos barracos e três crianças que estavam sozinhas lá dentro morreram. Esse acontecimento triste causou uma grande comoção nas pessoas, que pediram ajuda.
O Senhor vem ao encontro do seu povo e no drama humano constrói uma novidade. Assim, em 1980, em um pequeno barracão de madeira construído em um terreno da Prefeitura, nascia a Creche Menino Deus. Um pequeno sinal, uma morada. A vida ia seguindo o seu curso pontuada por encontros e provocações da realidade, quando a saúde do Padre Gigio mostrou-se novamente frágil e ele precisou voltar para a Itália. Foi um período difícil marcado por um profundo e doloroso diálogo com o Senhor e pela saudade dos amigos e de todo o trabalho feito em São Paulo. “Eu estava triste. Minha saúde não estava boa e eu não conseguia fazer nada. Foi um período muito difícil e eu buscava um sentido para aquilo tudo”.
Nesse período Padre Gigio era visitado, de tempos em tempos, por uma amiga que vive a experiência dos Memores Domini. Em uma das visitas eles tiveram uma conversa que iluminou toda a escuridão daquele tempo. “Ela me disse: sua vocação não é o Brasil, sua vocação é a santidade e você pode viver a santidade em qualquer lugar. Isso me apaziguou muito. Comecei a ficar feliz e em paz novamente”.

Obras e pessoas. Nos diferentes estados, todas estas iniciativas estão unidas pelo mesmo método: educar através da beleza. “A beleza exterior – o local tem que ser muito digno, limpo e elegante – e a beleza interior, ou seja, que as crianças e adultos possam perceber a beleza da amizade, a beleza de serem amados. O relacionamento é pautado pelo amor que o Senhor faz brotar no nosso coração. A gente é amado e por isso pode amar”.
“Na experiência de um grande amor, tudo se torna um acontecimento iluminado por Ele”, escreveu o poeta Romano Guardini. Na experiência desse amor, com o tempo, uma história vai sendo construída, um povo vai sendo educado a cada dia, passando de pai para filho, de avó para neto, a tradição de que ali tem gente em que se pode confiar. As pessoas que lotaram a Câmara Municipal de São Paulo para homenagear o Padre Gigio e os testemunhos feitos durante a cerimônia confirmam a verdade desse caminho. São pessoas felizes. A alegria, a beleza e a gratidão das crianças, dos idosos, dos voluntários, dos funcionários, das famílias eram um testemunho grande a todos os presentes. Padre Gigio faz questão de afirmar que ele não fez nada. Tudo quem faz é Deus. “Quando entro nas obras, nas casas, fico sempre impressionado porque penso: esta é a casa que Deus quis. Quem doa o dinheiro é porque foi tocado por Ele. Quem trabalha lá o faz por Ele, porque experimenta que é amado por Ele. Um dia eu estava assistindo ao telejornal e só se falava de tristeza, desgraça, guerra. Parecia que no fim tudo fosse sempre ruim, que não houvesse nada de bom. Mas eu experimentei que o Senhor fez coisas boas na minha vida. Eu quero testemunhar que no tempo Deus responde e faz coisas grandes”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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