Passos N.98, Outubro 2008

RUBRICAS

Passos na Mídia

pela redação

Beleza para mudar um país
O Estado de São Paulo
Vistas de longe, as casas amontoadas, feitas de blocos sem reboco, formam um cenário cinzento e sem charme que São Paulo aprendeu a chamar de favelas. São bairros que crescem de forma improvisada e irregular, mas que nos últimos anos estão sendo urbanizados e legalizados. Mesmo com as melhorias de infraestrutura, o estigma, contudo, continua a perseguir os moradores desses lugares. Atento ao problema, o arquiteto e urbanista Ruy Ohtake, nacionalmente consagrado pelas cores e curvas de suas obras, [...] começa a testar no Jardim Pantanal, uma solução para enfrentar o desafio. [...] "A estética não costuma ser levada em conta nos projetos de urbanização. Acho que está na hora de darmos a importância devida a este aspecto" [diz Lair Krähenbühl, do CDHU]. Mais do que o simples embelezamento das casas, Ohtake defende que todo o processo de pintura ajuda na mobilização dos moradores, que participam das escolhas das cores e podem assumir a defesa do bairro contra a depredação. Nos últimos dois meses, um grupo de agentes comunitários passou de casa em casa com uma cartela com 16 opções de cores. Cada morador escolheu a preferida, que serviu de base para a proposta cromática de Ohtake.
(Bruno Paes Manso, Metrópole, 11.set.2008, C6)

Do enigma ao Mistério
Dicta & Contradicta
A grande escritora portuguesa Sophia de Mello Brayner Andersen diz numa passagem sensacional, mas também das menos notadas, que o amor nos vem de vez em quando; duas, três vezes somos chamados a amar alguém; falamos nesse primeiro amor, nesse amor individualizado, não sei se pode se dizer erótico; diria, este amar uma vez ou outra. Mas existe também, no final das contas, uma outra presença, uma outra visita que vem todo santo dia, que é a santidade, o chamado à santidade, essa velhinha, essa velhota chata que vem e bate à nossa porta.
Vem disposta a ser recebida, mas todo santo dia damos um jeito de inventar uma desculpa para não a receber. Por acaso não quero ser santo? É claro que quero, quero o melhor pra mim, o melhor para a humanidade toda; mas começo amanhã., porque agora... Todo santo dia inventamos uma nova “maravilha” que é preciso fazer antes... E o resultado é que todo mundo está sempre muito ocupado e a velha vai ter que voltar no dia seguinte.
(aula de Bruno Tolentino, Seção Principal, jun.2008)

O Papa conquista a França
La Repubblica.it
É verdade que o catolicismo na França é fortemente minoritário na prática, mas o núcleo dos crentes convictos e comprometidos é intelectualmente muito vivo e liturgicamente apaixonado. Na França dos filósofos, da crítica e do desencanto, o Papa voltou a propor a mensagem da fé livre do fanatismo fundamentalista: “Nunca Deus pede ao ser humano o sacrifício da sua razão. Nunca a razão entra em contradição com a fé!”. Porque Deus, criando a razão do ser humano, deixa-o livre para aceitar o dom da fé. Em Paris, Ratzinger rompeu o gelo e conseguiu ser ouvido pelos franceses. Uma pesquisa feita via internet pelo jornal Figaro atesta que ele passou bem na prova. “Tens uma boa imagem do Papa?”, perguntava a pesquisa. 58% respondeu afirmativamente. “Está longe dos estereótipos que lhe impuseram. Ele é doce, é humilde”, afirma um dos pesquisados. Mas também entre os contrários há aqueles que reconhecem que ele é “um intelectual brilhante”, ainda que guardião de um dogma superado. [...] E Papa Ratzinger condena os ídolos hodiernos da cobiça, do poder, até do “saber” desconectado de Deus. Condena também a tentação de “idolatrar um passado que não mais existe ou de idolatrar um futuro que não existe ainda, acreditando que o homem com as suas forças possa realizar a felicidade eterna sobre a terra”.
Aos fiéis, mas pensando também nos “outros” que olham a televisão, o Papa recorda que a Igreja possui a promessa de Cristo, mas os seus membros “não são mais santos do que os outros seres humanos”, e quando condena os ídolos, não condena as pessoas.
(Marco Politi, 14.set.2008)