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Passos N.98, Outubro 2008

EXPERIÊNCIA - POLÔNIA | PEREGRINAÇÃO

A obediência que nos faz caminhar

por Lorenzo Margiotta

Cento e cinquenta quilômetros a pé, de Cracóvia até o Santuário de Jasna Gora. Milhares de peregrinos, como todos os anos. Entre eles um numeroso grupo de jovens de Comunhão e Libertação

Foram seis dias de caminhada. Ao lado, os amigos, peregrinos cansados e cheios de pedidos que o caminho tornou verdadeiros. Diante dos olhos, Nossa Senhora Negra. Ela, que a cada passo era como se conhecêssemos um pouco mais, que a cada oração era vista com um pouco mais de familiaridade e afeição. Até acontecer este olhar definitivo, dentro da capela do Santuário de Jasna Góra. A imagem de um rosto melancólico, mas cheio de certeza, porque carrega aquele menino nos braços, e nada mais lhe importa.
Este foi o ápice da peregrinação, que também este ano levou de Cracóvia à Czestochowa, num percurso de quase 150 quilômetros, milhares de peregrinos por estradas e cidades de uma Polônia muito devota de Maria.
Mais numeroso que nunca, o grupo de Comunhão e Libertação contava, na sua maioria, com jovens colegiais e universitários que chegaram da Itália, Espanha, República Checa, da prórpia Polônia, da Hungria, dos Estados Unidos e até do Brasil. Eram quase 1.200 pessoas sob a guia de padre Andrea Barbero, sacerdote da Fraternidade São Carlos Borromeu, missionário em Praga (Tchecoslováquia), que contou com a ajuda de outros cinco sacerdotes.

O abraço da Igreja
Saímos de Milão no dia 3 de agosto, quando a Itália "parava" por causa das férias. Esquecimento ou memória eram as alternativas. Esses jovens escolheram a segunda opção. Depois de um dia de viagem o trem parou em Cracóvia. Ali, nos esperando no Santuário da Divina Misericórdia, estava Stanislav Dziwisz, Arcebispo da cidade. Em suas palavras, a proximidade com o Movimento, a amizade com Dom Giussani e padre Carrón, e a clara percepção do abraço da Igreja universal.
Não existem equívocos em relação à meta. Padre Andrea foi preciso, como sempre: "Para que serve a vida senão para ser doada? Estamos aqui para aprender isto. Estes dias são a tentativa de conhecer mais a nós mesmos, de exprimir o desejo que somos: é a aventura mais bonita que podemos fazer". Partimos.
Os dias começavam muito cedo. As barracas eram desmontadas num tempo digno de escoteiros experientes (embora quase ninguém ali nunca tivesse montado uma barraca); às 7h00 rezava-se missa na paróquia da cidade. Formada a longa fila, começava a caminhada, acompanhada pelas Laudes, pelo terço, por cantos da tradição, ou apenas pelo rumor dos passos nos momentos de silêncio.
Logo foi possível perceber que as pessoas vinham de muitos lugares diferentes, muitos nunca tinham se visto; no entanto, havia como que uma única espera e era possível sentir "em todos um só coração". Era um cortejo ordenado e festivo.
Depois das paradas para uma rápida refeição, a caminhada recomeçava. O asfalto cedia lugar ao amarelo das plantações ou à areia dos bosques, dando um pouco de sombra e descanso aos pés.
Alguns se atrasavam no final do grupo, outros adiantavam-se para preparar o camping da noite. Algumas pessoas do lugar ficavam na margem da estrada e nos cumprimentavam comovidas. Algumas faziam um pedido, outras rezavam com esses estranhos católicos, outros ofereciam do pouco que tinham.
Pouco antes do pôr-do-sol, mais uma etapa era vencida. As últimas energias eram para armar as barracas, tomar banho, preparar algo para o jantar. Antes de dormir, ainda havia tempo para uma breve convivência noturna: a paródia encenada, os cantos, os avisos. Depois, as palavras de padre Andrea. Um juízo simples, a cada noite, sobre a obediência, a mendicância, o perdão, o desejo.
O céu estrelado nos lembrava, mais do que qualquer palavra, o valor desta companhia, a aspiração mais verdadeira de estarmos juntos. Muitos momentos diferentes, uma única experiência. Há um segredo, revelou padre Andrea: "Conceder tudo a Cristo, permitindo-O entrar em cada circunstância da vida, como fez Nossa Senhora".

Obediência e vocação
Aprender o olhar de Maria, sempre centrado em seu Filho, foi o fruto mais importante da caminhada, sinal de uma conversão que começa agora. A assembleia de encerramento testemunhou isso. Margarida, colegial de Milão, disse: "A obediência não é submissão mas um gesto de total liberdade que nos permite caminhar". Matteo, de Crema, declarou: "Aprendi a rezar".
O pensamento sobre a vocação unia a todos. E a peregrinação foi proposta para vestibulandos e formandos, em um momento decisivo de suas vidas. Padre Andrea chamou a atenção para o risco de simplificações e automatismos: "Podem fazer pedidos pessoais, mas permitam que o Senhor responda, estejam abertos".
Uma longa alameda cheia de árvores conduzia à colina de Jasna Góra. Ali, diante do Santuário, ajoelhamo-nos enquanto cantávamos Non Nobis, um gesto que carregava todo o sacrifício do caminho percorrido e a esperança pelo que ainda estávamos por fazer. Logo estaríamos diante da imagem de Nossa Senhora.
Ficamos diante dela por alguns instantes. Depois que a vemos, não queremos mais esquecer. Porque "olhar para ela remete imediatamente àquilo que é decisivo na vida: a companhia de Jesus".

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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