> Quarenta anos de CL em São Paulo
Um dia de comemorações, com novos e velhos amigos, para celebrar uma verdadeira amizade
No dia 20 de novembro, cerca de 300 pessoas reuniram-se para celebrar os 40 anos de presença de Comunhão e Libertação em São Paulo e agradecer a beleza de uma amizade que reacontece aqui e agora. A comemoração começou com a missa presidida por Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari (BA). Celebrando Cristo Rei, Dom Petrini lembrou que sendo Rei, Cristo desejou participar de todas as circunstâncias que caracterizam a vida humana: as dores, as alegrias, a solidão, a amizade. No final da missa, o canto “No Nobis” uniu assembleia e coral em um único desejo: não a nós Senhor, mas ao Vosso nome dai glória.
A festa continuou com fotos e testemunhos que mostraram como um caminho iniciado há 40 anos gera frutos e determina a vida de tantas pessoas hoje. Ubiratan Silva, o responsável de CL na capital paulista, introduziu este momento. Ele lembrou que não estávamos ali para celebrar um fato do passado, nem reviver bons momentos, mas por algo que acontece agora. “No Movimento adquiri uma consciência da fé que dá uma certeza autêntica para estar presente na realidade. Esta é a razão da nossa alegria”. Em seguida, Dom Petrini falou sobre a sua história no Movimento, a chegada ao Brasil, o trabalho na universidade, o interesse pelas questões políticas, o desejo grande de levar a todos aquilo que tinha encontrado no Movimento, a amizade com padre Vando e a missão. “Uma vez, conversando com o então Arcebispo de São Paulo, ele nos disse que deveríamos ficar em paróquias separadas. Eu então respondi que não seria possível porque aquilo que iríamos dizer aos jovens deveria ser visto na minha amizade com o Vando. A nossa amizade carregava aquele acontecimento que estávamos propondo a eles”. Da amizade entre Dom Petrini e padre Vando nasceu a comunidade de CL em São Paulo.
Na realidade. Organizados segundo as três dimensões que caracterizam o carisma de Comunhão e Libertação: a cultura, a caridade e a missão, os testemunhos continuaram, sempre intercalados com belos cantos. Os amigos Otavio e Cecília falaram sobre como a experiência no Movimento traz novos critérios para viver o mundo do trabalho e da educação. Uma cultura nova. Otavio contou como é possível, a partir de um encontro verdadeiro, viver no mundo empresarial com os desafios da crise, da geração do lucro e do relacionamento com os funcionários de uma forma mais humana e correspondente ao coração. Cecília contou como o pertencer ao Movimento forja o seu eu, a sua vocação como professora e a forma de pensar a educação. Ela contou da própria surpresa ao dar-se conta de que o convite “Vinde e vede” tinha se tornado um método de relacionamento dela com os alunos e os demais professores.
Na dimensão da caridade, Solange e Cleuza contaram suas experiências na obra Menino Deus e na Associação dos Trabalhadores Sem Terra (ATST). Solange contou como a amizade entre padre Gigio, alguns universitários e pessoas da comunidade deu origem a uma obra que atende cerca de mil pessoas, entre crianças, jovens e idosos. Ela falou sobre como a experiência do Movimento determina a sua maneira de se relacionar com essas pessoas. Um relacionamento onde nada fica de fora. Cleuza Ramos falou sobre o como o encontro com o Movimento mudou a sua forma de viver a experiência da ATST e deu um sentido novo ao seu trabalho. Ela agradeceu aos primeiros que começaram a história de CL em São Paulo e permitiram que o Movimento chegasse até ela.
Com a participação do colegial Ricardo e do universitário, também chamado Ricardo, a dimensão Missão encerrou a série testemunhos. Filho de um casal do Movimento, Ricardo falou sobre a inquietação de descobrir o que significava o Movimento para ele. “Eu queria entender o que estava fazendo aqui, que papel eu tinha. Não bastava estar aqui porque os meus pais estão. Isso começou a mudar a partir das férias dos colegiais. Comecei a entender o que é o Movimento para mim e quem sou eu dentro dessa história. Hoje sei que permaneço por algo que aconteceu a mim. Vivo a experiência do Ricardo”. Já o universitário falou da sua dificuldade em aderir à proposta do Movimento. Ele era totalmente refratário a qualquer coisa que dissesse respeito à Igreja. Não queria nem ouvir o nome. Falar de Cristo então era algo impensado. Até que lhe propuseram falar de coisas essenciais da vida e ele aceitou. Ricardo tem feito uma experiência muito intensa, marcada pelo profundo desejo de viver o real, apreender o verdadeiro sentido das palavras e que elas se tornem carne. Ele lembrou que as coisas não podem ser mais ser dadas como obvias e que Cristo não é só um nome.
As margens do rio. Marco Montrasi, responsável nacional do Movimento, também fez uma saudação a todos: “Para mim, chegar ao Brasil foi a salvação da minha vida. Eu me lembro de uma coisa que falou Dom Giussani. Ele falava que o trem pega velocidade no caminho, progressivamente. Então eu, por causa de quem começou antes de mim, por causa dessa história, entrei num trem que já estava numa velocidade boa. Essa é uma graça grande que eu tenho que agradecer. Outra coisa que me marcou é algo que falou Francisco recentemente, que tem uma criação que é maravilhosa, quando nascemos, e podemos dizer de quando fizemos o encontro no início. Mas tem uma criação que é ainda mais maravilhosa que é aquela da redenção, do perdão. Porque com o tempo que passa, a gente poderia ficar mais pesado, ficar mais com o peso da saudade, dos nossos limites. Mas quando me dou conta que estou dentro das margens de um rio, de alguém que ama até nos meus limites, que aquilo que eu queria tirar tem alguém que o ama, que tem alguém que me refaz sempre de novo, essa é a recriação. Essa é a criação que a gente, depois de 50 anos, depois de 40, depois de 30, depois de 1 ano, pode lembrar sempre e ficar maravilhado. Então, queria agradecer, também porque me senti muito acolhido pela comunidade de vocês desde que cheguei aqui”.
Alvorada. A festa dos 40 anos de CL em São Paulo continuou com uma bela macarronada, encontros entre antigos e novos amigos. E muita música. No final, samba e animação geral com o Bloco do Binguelo. Um bloco de carnaval que nasceu da experiência de um grupo de amigos da comunidade de São Paulo. Como lembrava o convite da festa, inspirado em uma música escrita pelo padre Virgilio Resi, a festa já começou e a imagem da alvorada confirma que o melhor está sempre por vir.
Patrícia Molina
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> Brague, Albacete e a cultura: o efeito colateral da fé
Seguramente, monsenhor Lorenzo Albacete deve ter “tremido de alegria”, como costumava dizer, ao ver, do céu, todas aquelas pessoas reunidas para homenageá-lo. Alguns meses atrás, o Centro Cultural Crossroads, de Nova York, convidou Rémi Brague, professor emérito de Filosofia Medieval e Árabe da Sorbonne de Paris, para homenagear Albacete falando de um de seus temas preferidos: a relação entre fé e cultura a partir do discurso que o Papa Bento XVI fez em 2008, no Collège des Bernardins. Em seguida, o professor Brague sugeriu um título mais surpreendente: “Culture as a By-Product”, “A cultura como efeito colateral”. A palestra foi proferida no sábado, 22 de outubro, no teatro do Sheen Center (Instituição cultural da Diocese de Nova York) diante de uma plateia de quase 300 pessoas. A noite foi aberta por Dom Roberto Gonzales, Arcebispo de San Juan, Porto Rico, cujas palavras lembraram o amigo de longa data. Foi uma palestra belíssima, uma full immersion de erudição e, ao mesmo tempo, um verdadeiro testemunho de inteligência da fé e de como esta abre a todos os aspectos da realidade. O professor Brague “lançou” uma tese aparentemente provocadora: não existe uma “cultura cristã”, porque o cristianismo não está ligado a uma particular língua ou etnia, ou a particulares costumes. Ao contrário, o cristianismo sabe valorizar todas as culturas, porque ama o humano em todas as suas manifestações. Brague citou São Paulo: “Examinai tudo e ficai com o que tem valor”. Isto é possível porque do ponto de vista cristão o que dá valor a tudo é Cristo, e toda busca é busca de Cristo. Por este motivo, a cultura é um “efeito colateral”. Os monges da Idade Média não eram movidos pelo projeto de reconstruir a civilização, mas pela fé, pelo amor a Cristo. E, paradoxalmente, exatamente por isso geraram um imenso florescimento cultural. Por uma bela coincidência, a conclusão de Brague documenta exatamente o que estamos lendo nas últimas semanas na Escola de Comunidade: “O problema da cultura é o problema da fé” (J. Carrón in A Forma do Testemunho, Passos outubro, p. 23). Esta “Albacete Lecture on Faith and Culture”, palestra sobre fé e cultura a partir do pensamento de monsenhor Albacete, é o primeiro de uma série de encontros anuais.
Carlo Lancellotti
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