Um jovem inquieto, em busca da realização. A mudança de cidade e o trabalho como garçom. Depois, o encontro com CL, através daqueles padres que o fascinaram, mudou sua vida. Hoje, é Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Escolheu como lema episcopal “Vivere Christus est”, viver é Cristo, e no seu brasão, juntamente com Nossa Senhora Rainha do céu e da terra, está o famoso esquema com as setas que Dom Giussani feito no quadro-negro (o senso religioso do homem e a resposta de Deus com a Encarnação), juntamente com o monograma de Cristo: Chi Rho. Conversamos com Dom Paulo Alves Romão, que o Papa Francisco nomeou bispo auxiliar do Rio de Janeiro em 7 de dezembro.
O senhor nasceu no Paraná. Quando se mudou para o Rio de Janeiro e o que buscava com essa decisão?
Eu, com 20 anos de idade, morava no Paraná, trabalhava com meus pais numa zona rural. Mas eu era um jovem inquieto, sempre me perguntava sobre o sentido da vida, o que fazer da vida, qual tarefa eu deveria realizar na minha vida. Então, quando saí do Paraná, no fundo, eu buscava uma verdadeira realização para os desejos do coração que todo jovem tem. Decidi vir para o Rio de Janeiro porque queria trabalhar, retomar os estudos, com a perspectiva de ser feliz, de me realizar de verdade.
Como se deu o eu encontro com CL e o que o fascinou? Como foi o despertar da sua vocação?
Quando eu cheguei ao Rio de Janeiro, eu comecei a trabalhar num hotel como garçom. Nesse período, eu trabalhava praticamente o dia todo, não tinha nem tempo para estudar. E eu só tinha, na verdade, o ensino fundamental até a quarta série. Até meus 22 anos, meu estudo era muito precário. Nesse período, eu encontrei um jovem que, um dia, me chamou para ir a um encontro com dois padres italianos, que estavam começando um grupo. Eu achava que era um grupo jovem qualquer e fui. No primeiro encontro, esses padres estavam trabalhando sobre o senso religioso, falando das perguntas essenciais que temos no coração, dos nossos anseios, exigências. No início eu não entendia muita coisa, mas tudo o que eles falavam correspondia profundamente aos meus anseios e às perguntas que eu tinha. E naquele momento era muito gritante isso. Então, aquele primeiro encontro foi o grande encontro da minha vida, há 31 anos, num domingo à tarde, mais ou menos às 17h15, na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, no terceiro andar, sala 313. Eu lembro esses detalhes porque foi aquele encontro que me fascinou. E quando terminou, fui falar com padre Giuliano e padre Filippo e perguntar quem eram. Falaram do Movimento e me convidaram. Desde então, não perdia uma Escola de Comunidade. Cresceu um fascínio tão grande, que um ano depois fui falar com padre Filippo sobre vocação, porque eu via dois homens tão inteiros, tão fascinados, e os jovens que ficavam com eles, inclusive eu, experimentando uma alegria, a vida mudando, que eu disse “eu quero isso pra minha vida toda”.
Conte-nos um pouco do seu trabalho na Universidade. Quais foram os desafios e como é a sua relação com os jovens?
Assim que eu me tornei padre, fiz o Mestrado, e fui contratado para dar aula de Ensino Religioso para os universitários da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Desde o início foi uma experiência muito interessante porque, quando defendi a minha dissertação de Mestrado, o diretor do Departamento de Teologia, que foi da minha banca, chamou-me logo para dar aula porque gostou demais daquilo que escrevi e achou que eu deveria ensinar aquilo para os alunos. A dissertação foi “A Dimensão Sacramental da Fé em Luigi Giussani”. A coisa que mais me impressionou: como o coração humano é igual em todos. Dando aula normalmente, falando das coisas que nos dizemos no Movimento nesses anos todos, tantos e tantos jovens ficaram fascinados, maravilhados. Hoje alguns são do Movimento. Alguns eu até casei, estou batizando os filhos. Mas o mais interessante é que a experiência de encontro com o carisma é algo tão belo, tão correspondente, porque é a proposta cristã como se deu desde a origem. Quem escuta essas coisas, sente-se fascinado e vem atrás. Eu vi e vejo a beleza de dar aula e de encontrar os universitários para propor o que a gente vive, a certeza que carregamos. O coração humano é igual, todos desejam a certeza, alguém que comunique a certeza. E eu vou continuar dando aula, mesmo como bispo, por certo tempo, a pedido do Cardeal Dom Orani. Ele quer que eu continue ali pela beleza desta experiência.
Como a experiência de CL pode ajudá-lo na sua missão episcopal?
Essa é a graça que Deus me deu: de pertencer ao Movimento. Vou seguir sempre esse caminho, mesmo com minhas outras atividades. Tenho uma história particular, que é o caminho que fiz até agora. Jamais vou deixar isso. Tenho certeza de que o ser testemunha nesta minha nova missão é fruto de uma experiência que vou continuar vivendo, seguindo o Senhor dentro do carisma que Ele me fez encontrar. Agora, mais do que nunca, vou seguir com simplicidade, com alegria. Quero seguir Carrón e Dom Giussani com todo o coração, porque se eu não for gerado, não posso gerar ninguém. E agora, com essa nova responsabilidade, tenho que ser mais gerado ainda. Se eu não tivesse encontrado esses dois padres, se não os tivesse seguido, o que seria de mim? E, agora, é a mesma coisa. O Senhor, dentro dessa história, quis me pegar, e por isso me fez encontrar CL. A retomada contínua do encontro com Cristo através da convivência com a comunidade nos retiros, nos eventos, nas Escolas de Comunidade, me levam a verificar constantemente a razoabilidade da fé, o quanto o encontro com Cristo realmente corresponde às nossas exigências humanas. E o que foi mais importante pra mim é que eu realmente comecei a entender Pedro, João, André: um encontro que fascina, que desperta uma atração e que muda a vida e, com o tempo, torna-se uma grande história.
Pode nos explicar a escolha do seu lema: “Viver é Cristo”?
Quando pensava em vários lemas, não veio outra coisa senão isso. Eu pensava, lendo algumas coisas de Dom Giussani, que o que dominava nele era uma afeição a Cristo, uma adesão total a Ele. E em toda experiência que fiz até agora, quanto mais a aprofundo, mais me dou conta de que o que corresponde de verdade ao coração humano é a certeza da presença do Senhor, a adesão à Sua presença hoje, através de rostos tão precisos; é Ele que se torna encontrável, fascinante. Não há algo que defina melhor o que estou vivendo, e o que quero viver sempre, do que Cristo, do que o relacionamento pessoal com Cristo, que é o único que pode cumprir e realizar plenamente as exigências do nosso coração. Por isso escolhi esse lema: Viver é Cristo.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón