Há um ponto da vida sobre o qual não podemos enganar, nem a nós mesmos. Que é o trabalho. Não só porque é aí que passamos grande parte do nosso tempo. É que, como sempre lembrava Dom Giussani, o nosso verdadeiro "eu" só é possível captá-lo quando nos surpreendemos "em ação", quando ele emerge do impacto com a realidade. Não nas ideias, nos projetos, nas imagens que fazemos de nós; mas quando estamos agindo, empenhados em alguma coisa. E o trabalho é um dos pontos mais quentes, sob esse perfil. Quem somos de verdade, é aí que se vê. Todos o veem, nós e quem está à nossa volta. É um teste que faz emergir de que material somos feitos, sobre o quê apoiamos os pés, quais critérios nos guiam. Em suma, a que coisa de fato pertencemos.
Não por acaso, sobre esse assunto despontam perguntas prementes. Que nestes tempos se tornaram mais agudas. Porque o mundo do trabalho muda apressadamente, e enquanto a crise não cede e o desemprego é uma praga difusa por todo lado, certas dinâmicas lineares – feitas de uma vida inteira passada fazendo mais ou menos as mesmas coisas e nos mesmos lugares – não existem mais; ou quase. Vamos para um lado e para o outro, precisamos nos reinventar. E é tudo muito mais difícil.
Então é natural que surjam dúvidas, questões, feridas. Como se busca – ou se escolhe – um trabalho? Com quais critérios? O dinheiro, a segurança? Devo me contentar com o que o mercado oferece ou devo seguir os meus desejos? Como enfrentar a insatisfação? E se as coisas giram, como se concilia a carreira com o outro a quem amo, a família, os filhos, os amigos...?
É sobre esses temas que pretendemos oferecer uma contribuição. Não respostas automáticas, nem receitas. Mas um percurso, uma ajuda (feita de reflexões e testemunhos pessoais, inclusive de quem optou por ir para o exterior) para percebermos o que realmente está em jogo nessas perguntas. E porque o próprio Dom Giussani, num texto de alguns anos atrás (que repropomos no site de Passos), falou do trabalho como de algo que “nos obriga a nos tornar mais cristãos, a repensar o nosso amor a Cristo, a repensar a maneira como eu vivo, a utilidade do nosso viver e a razão de tudo o que foi dado”. Aliás, “o trabalho para um cristão é o aspecto mais concreto, mais árido e concreto, mais fatigante e concreto, do próprio amor a Cristo”.
É uma perspectiva que ilumina, porque escancara um horizonte infinitamente mais amplo do que aquele em que geralmente nos encerramos. Mas é também uma frase que, por sua vez, queima, porque toda ela precisa ser compreendida e assumida pessoalmente, inclusive por quem já a leu várias vezes. E só há um modo de sermos bem-sucedidos, é a partir do interior da experiência. Boa leitura, então. E bom trabalho.
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