Passos N.189, Março 2017

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Campanha da Fraternidade 2017: de volta à ecologia

Com o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15), a Campanha da Fraternidade de 2017 volta à questão socioambiental. O Papa Francisco, com a Laudato si’ (LS), mostrou ao mundo que a Igreja tem uma mensagem a dar sobre esse tema – e que o mundo precisa que essa mensagem seja dada. A importância das palavras nesse campo, são explicitadas em palavras ditas anteriormente pelo Papa Bento XVI: “As estruturas justas são, como já disse, uma condição indispensável para uma sociedade justa, mas não nascem nem funcionam sem um consenso moral da sociedade sobre os valores fundamentais e sobre a necessidade de viver estes valores com as necessárias renúncias, inclusive contra o interesse pessoal. Onde Deus está ausente o Deus do rosto humano de Jesus Cristo estes valores não se mostram com toda a sua força, nem se produz um consenso sobre eles. Não quero dizer que os não-crentes não podem viver uma moralidade elevada e exemplar; digo somente que uma sociedade na qual Deus está ausente não encontra o consenso necessário sobre os valores morais e a força para viver segundo a pauta destes valores, também contra os próprios interesses” (Discurso na Sessão Inaugural da Conferência de Aparecida, 13 de maio de 2007).
Numa época em que novas espiritualidades estão em voga, em que a profusão de ações sociais baseadas no voluntariado evidencia o desejo do coração humano em escapar à armadilha do individualismo, a tradição católica tem muito a dizer. Nesses nossos tempos, não somos educados para um reto uso do poder – seja ele científico, econômico ou político (LS 103-104). Os mais pobres e a terra são as maiores vítimas desse mal-uso do poder (LS 2). Os corações vazios são tomados por uma tristeza individualista e por uma insaciabilidade que não são capazes de estabelecer um relacionamento justo com a natureza e com os irmãos (cf. LS 162, 204). O “antídoto” mais eficiente para essa situação é a sabedoria de quem sabe que a criação “tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado” (LS 76-77). A criação tem a ver com a misericórdia e a pessoa consegue se colocar a serviço dos outros e do meio ambiente à medida que se descobre amada por Deus.
Avançando para as questões diretamente sociopolíticas, Francisco ilustra, no Capítulo 5 da Laudato si’, a síntese entre solidariedade e subsidiariedade, pilares da doutrina social da Igreja, por meio de uma série de diálogos fundamentais para a defesa dos biomas brasileiros: entre os países, entre as várias instâncias de poder no País, entre Estado e sociedade, entre os envolvidos nas tomadas de decisão, entre saberes, entre economia e política, entre ciência e religião.
Que essa Campanha da Fraternidade nos ajude a recuperar todo o valor da tradição cristã e colaborar ativamente nos diálogos sociais em prol dos mais frágeis e do meio ambiente.