“Há sempre um grano de racionalidad no outro”. Gustavo Andújar, o diretor do Centro Cultural Varela, descreve um lugar essencial de Havana
“Capacidad de convocatória”, uma capacidade de envolver a todos. Gustavo Andújar chama assim a vocação do Centro Cultural padre Félix Varela, de Havana. Ocupa o prédio do antigo seminário dedicado a São Carlos e Santo Ambrósio, e leva o nome daquele que Andújar, diretor do Centro (e da revista Espacio Laical) define como “um fundador do pensamento e da nacionalidade de Cuba. Foi a sua geração que idealizou este País”. Padre Varela, filósofo e humanista, viveu grande parte de sua vida longe da ilha (morreu aos 64 anos, em 1853), teve um carisma educativo que, de algum modo, remete ao presente: “As universidades da época ofereciam uma educação mais escolástica, teórica. Ele queria que as pessoas aprendessem a pensar”.
Agora, seu busto está ali, na Aula Magna onde acontecem convenções, encontros, concertos. Envolvendo todos, não importa de onde venham. “É um espaço de encontro com o mundo da cultura”, explica Andújar. “A cada três meses a revista organiza um evento para ser espaço de debate. Em Cuba não há muitos, nós o oferecemos”. Um espaço realmente plural. “Não queremos debates ad hominis: ‘Quem é você? Ah, então está daquele lado... Se você é meu adversário, o que diz não conta’. Não me importa saber quem você representa, mas o que tem a dizer. Nossa abordagem é que a verdade é verdade, não importa de que lado venha”.
É útil por causa dos encontros, que discutem temas como o racismo em Cuba (“existe, embora ninguém fale a respeito”) ou “viver na verdade”, e também é útil para a revista, que sai a cada três meses, e tem como tema central o resumo do encontro. “Fala-se de fé, cultura, sociedade, mas também de arte, literatura...”. E até de política. Arriscado? “Basta mostrar que não há nenhuma intenção de ganhar poder ou influência. O que interessa é realmente confrontar-se e arriscar-se reciprocamente. Isso serve para todos. Se, no fim, entende-se que é uma iniciativa que faz bem às pessoas, não há problemas”. Ao contrário, incentivam as pessoas a participarem. “Quando inauguramos o Centro, há quatro anos, pedimos que Eduardo Torres Cuevas, diretor da Biblioteca Nacional fizesse a lectio inaugural. Um dos intelectuais mais proeminentes de Cuba. Uma semana antes, telefonei para saber se estava tudo certo. Ele estava com sérios problemas de saúde. Mas quis vir mesmo assim...”.
“Não é uma coisa nossa”, diz Andújar: “É de São Carlos, e de padre Varela. Mas, de fato, abrem-se espaços que eu nunca poderia ter imaginado”. E abrem-se por causa de um olhar que ele resume assim: “Há sempre um grano de racionalidad, uma partícula de verdadeiro, no outro, não importa quem seja. E é sempre importante ouvir um ponto de vista diferente, porque nos enriquece. Esta é a linha seguida pelo Centro e pela revista. E a manteremos, porque é isso de que temos necessidade”.
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