Há muitos anos o homem persegue o desejo de construir máquinas capazes de reproduzir a sua capacidade de pensar e agir. Agora os avanços são tão significativos que vamos encontrar sempre mais aplicações no nosso dia a dia. Isso vai criar problemas reais e desperta medos futuros
Você tem receio de que a sua empresa coloque um programa no seu lugar? Depende do tipo de trabalho, mas a pergunta é tão frequente entre as pessoas, que já existem diversas calculadoras online que podem responder para o seu caso específico.
A inteligência artificial (AI) começou a ser desenvolvida nos anos 60 afirmando que os computadores podiam fazer tudo o que o nosso cérebro faz. O tamanho da presunção era tal que realizar a visão artificial foi dada como lição de casa para alguns universitários. As inevitáveis desilusões criaram os vários “invernos da AI”, períodos nos quais os pesquisadores nem queriam ser associados com o tema. Assim, a Inteligência Artificial foi morta, várias vezes.
No entanto, ela está em voga novamente. Quem a ressuscitou? Você. Cada comentário no Facebook, cada “tag” presenteado para Mark Zuckerberg (um dos fundadores do Facebook, a rede social mais acessada do mundo) ajudava os algoritmos a aprender o que era um gatinho, ou uma cara, ou uma flor. Os programas de AI, mais do que “inteligentes”, eram “caixas de conhecimento”: se você mostrar para eles milhares de fotos, e falar para eles que são brigadeiros, eles reconhecerão os brigadeiros nas próximas vezes. Mas, antes da Internet e das redes sociais, não dava como recolher as lições necessárias para eles funcionarem decentemente.
Para um computador, porém, uma foto não é uma foto, são números. Se esses números, ao invés de representar o seu animal de estimação, descrevem pessoas e se ao computador são dados exemplos de quem é bom pagador, o computador pode decidir sobre o seu pedido de empréstimo. Também podem dizer se são pessoas acusadas em um processo, se recairão, e em vários estados dos EUA os juízes já se apoiam nesses programas para decidir a pena.
Existe um medo de que a AI destrua trabalhos, mas é muito mais provável que assista a trabalhos antigos e os mude: com certeza o camponês que usou uma das livrarias do Google para classificar pepinos tem uma vantagem competitiva. Na nova onda até vão aparecer novos trabalhos (já nascem “psicólogos de programas”!). Como lembrava Vaney Fornazieri da Seepix no Fórum da Companhia das Obras em junho passado, quem imaginaria 15 anos atrás o trabalho de “web designers”? Tem outros perigos, porém. Cada programa erra, e é preciso ser prudentes quando eles são usados para automatizar decisões sobre pessoas e não legumes. Mais ainda: cada programa é treinado com exemplos que refletem uma certa situação. Sem perceber, então, se baseia sobre atitudes que nem os desenvolvedores percebem. Como uma ferramenta treinada em um período de expansão, avalia os financiamentos se começar uma crise econômica? É uma caixa, e não pode – literalmente – sair fora do seu projeto inicial.
São problemas sérios, inclusive as mudanças do mercado de trabalho. Nascem da tecnologia, mas não são problemas puramente técnicos. Ao mesmo tempo, não são problemas sem solução: então, por que se percebe um medo tão grande da Inteligência Artificial? Incomoda-nos porque tem aparência humana, mas não é. É como os zumbis e os vampiros dos seriados: mecânica de homens e interno vazio. E o nosso medo é ser como eles.
A protagonista de “Song to Song”, o último filme de Terrence Malick, fala continuamente do quanto ela quer perceber “algo real” e vai procurá-lo em sensações cada vez mais extremas. Mas não é a sensação que nos falta, é acreditar no coração como “lugar das evidências”. Como afirmava Luigi Giussani: “A natureza lança o homem na comparação universal consigo mesmo, com os outros e com as coisas, dotando-o – como instrumento de tal confronto universal – de um conjunto de evidências e exigências originais, tão originais que tudo o que o homem diz ou faz depende delas”. A razão não é só lógica e método científico. Convenceram-nos que fora daí não há certeza, e assim nós acabamos nos percebendo como arbitrários, perdidos, sem fundamentos. Cheios de medo, até de uma caixa.
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