Mudança de vida
Quando eu e minha irmã assistimos ao filme de Dom Giussani, nós nos identificamos muito com o encontro que Tiago e João fizeram com Cristo, segundo o Evangelho de São Mateus, porque eles estavam lá, pescando (na verdade preparando as redes para pescar) e aí aparece Jesus e fala para eles O seguirem e eles O seguiram. Foi bem assim comigo e com a Paulinha. Nós tínhamos a vida toda organizada e aí fizemos um encontro com Cristo. Ele nos provocou e nós jogamos tudo para o alto e fomos atrás d’Ele. Antes, eu não tinha gosto por nada e até a companhia dos amigos e da família, depois de um tempo, me aborrecia. Por isso, a minha tendência era sempre de me isolar lá em casa e ficar estudando. Só que esse desejo que eu tinha no estudo foi se deturpando e acabou virando vaidade. Daí em diante, eu queria tirar notas boas para ser admirada na faculdade, e ela passou a ser o centro da minha vida. Foi mais ou menos nessa época que eu conheci o Movimento. No início, eu ainda ficava muito presa aos limites das pessoas, mas, ao mesmo tempo, via muita coisa bonita e percebia como o que as pessoas falavam tinha tudo a ver comigo. As Escolas de Comunidade passaram a ser essenciais para mim e os Exercícios dos Universitários tinham me movido muito também. Fui sendo puxada por Cristo. Depois, teve o encontro com a Cleuza e o Marcos que vieram ao Rio para falar sobre política e encontrá-los foi outro tapa na cara para eu poder acordar. De uma pessoa completamente apática e que não gostava de nada por muito tempo, eu me vi apaixonada: apaixonada, como nunca antes, por nada nem por ninguém. Eu vi, como o Dot disse nos Exercícios, que eu estava apaixonada por Cristo. Os meus defeitos continuaram, também continuei fazendo as mesmas coisas que eu fazia antes (faculdade, trabalho, jiu-jitsu), mas TUDO mudou. É como se fosse o mesmo personagem no mesmo cenário, só que com tudo diferente. Aí eu me lembro de uma frase que me marcou no filme A paixão de Cristo, quando Ele, segurando a Cruz, fala para Maria: “Eu renovo todas as coisas”. E realmente é assim. Isso acontece todo dia, fazendo as mesmas coisas com um olhar diferente e que muda a cada dia. É impossível se cansar desta realidade por mais que ela pareça chata. O encontro com a Cleuza e o Marcos mudou uma outra visão que eu tinha da realidade, uma visão muito ideológica. Mas não foi só isso que me fez seguir esses dois, foi a simplicidade que eles tinham e o modo de encarar todos os aspectos da realidade como um presente. Também foi a forma com que eles aderiram ao Movimento e como se jogaram, entregando para CL até a Associação que eles passaram a vida inteira construindo. Então, quando o Bracco nos convidou para irmos a São Paulo conhecer o trabalho deles, eu não tive como resistir e fui. Mesmo não tendo intimidade nenhuma com ele e conhecendo pouco as outras pessoas, quando entrei no carro, eu me senti mais à vontade do que na minha própria casa. Nessa mesma viagem, eu me dei conta de que estava livre, com uma liberdade que eu nunca tinha experimentado antes. Isso aconteceu porque eu tinha largado o que era o centro da minha vida (eu tinha três provas na semana da viagem) para poder ver como era a vida do Marcos e da Cleuza. Antes de encontrar o Movimento, eu estava perdida porque não achava nada que me deixasse feliz, era só a alegria do momento (que era bem breve por sinal). Sabia que estava triste, mas eu não sabia que estava desesperada (e eu realmente estava desesperada). Eu respondi àquela pergunta dos Exercícios: “O que buscais?” não pensando, mas encontrando o que eu de fato procurava e é nisso que eu coloco a minha esperança, e é Ele que me renova, é Ele que me sustenta: Cristo.
Luana,
Rio de Janeiro – RJ
Primeira Comunhão
Caro padre Carrón, há alguns anos, começamos a fazer caritativa com um grupo de amigos: começamos a acompanhar um reforço escolar com algumas crianças necessitadas da paróquia. Entre elas, tivemos a oportunidade de conhecer dois irmãozinhos, para os quais, às dificuldades econômicas, somava-se o fato de serem órfãos. O mais velho iria receber a Primeira Comunhão e, juntos, nós pensamos em organizar uma festa. Mas, depois, por uma série de razões, acabei ficando um pouco sozinha nessa iniciativa, sozinha e envolvida com os serviços domésticos e do escritório. O caminho mais simples era deixar tudo para lá, mas Andrea estava muito contente e contando os dias que faltavam para a Comunhão. Então, pensando em Dom Giussani quando fala do sim de Nossa Senhora, decidi começar a pedir ajuda a todos, em casa, aos amigos, na paróquia. Dessa vez, porém, o meu pedido era livre de qualquer pretensão, cheia de espera, como quando se está diante de algo que não se conhece e do qual não se sabe o que virá. A surpresa foi ver um rio de graças, de amigos e parentes que se dispuseram a preparar e pagar tudo. Na segunda-feira, depois da Primeira Comunhão, por causa de um problema que aconteceu, fui encontrar a avó do meu pequeno amigo. Foi muito bonito descobrir que, mesmo diante de um drama, aquela senhora ainda me agradecia pela festa do seu netinho. A sua gratidão não era pelo dinheiro gasto ou porque transformamos o salão da paróquia, mas porque, pela primeira vez, tinha visto a sua família reunida e serena e seu neto feliz, “sorria com os olhos”, e porque naquele dia entendeu que, apesar de tudo, existe uma esperança bonita para eles. Percebeu isso através de uma festa, que nem tinha sido muito bem organizada, onde não havia jogos ou animadores e onde a comida era muito simples, mas havíamos nós: “Pensem em João e André quando encontraram aquele Homem, voltaram para casa, para a mulher, para os filhos... faziam tudo como antes, mas não como antes: entre eles e aquilo que faziam, havia Ele”. Na última Escola de Comunidade, Tonino perguntava por que somos gratos. Eu sou grata por isso, pelo fato de que, para mim, Cristo não é mais apenas um nome, mas se fez carne e se faz carne todos os dias. Isso não é obvio, mas há um lugar preciso onde posso fazer memória d’Ele e sempre retomar novamente.
Rosa,
Nola – Itália
Conversão
Caro padre Carrón, desejo agradecer-lhe pelo milagre da conversão de meu marido. Depois de anos, ele se reaproximou dos sacramentos. Este ano, ele iria aos Exercícios dos Jovens Trabalhadores e, quando eu voltei dos Exercícios da Fraternidade, comecei uma novena para que meu marido se reaproximasse da Confissão e da Comunhão. No salão, olhando as pessoas que se confessavam, dizia a mim mesma que ele precisava exatamente de um abraço assim, que nem mesmo eu, que sou sua mulher, consigo lhe dar. Sábado, antes de viajar para os Exercícios, meu marido confessou-se e, no dia seguinte, comungou. Naquele dia, tínhamos brigado feio e ainda estávamos com raiva, mas entramos na igreja com as crianças para rezar, e ele quis rezar conosco. Depois, quando viu o pároco, me perguntou: você acha que, se eu pedir, ele ouve minha confissão?”. Só soube dizer que sim e, depois, calou o silêncio, o estupor, a gratidão e a alegria diante da revolução do fato de que eu posso até estar com raiva de meu marido, mas o Mistério vence tudo. No início, achava que eu precisava ser boa e coerente com o Movimento para induzi-lo. Casamo-nos, depois de três anos de convivência, porque eu estava afastada da Igreja. Mas foi ficando cada vez mais claro, com a ajuda de um amigo padre, que a questão era que eu seguisse o Senhor por mim, olhando meu marido, amando a sua liberdade, implorando para que eu pudesse olhá-lo como eu era olhada. Eu o fiz ver aqueles que me olham dessa maneira: todos os meus amigos. Hoje, para mim, a sua conversão é um convite para a minha conversão: ele me convida para rezarmos as Completas juntos, me pede para ler o texto de Escola de Comunidade e para contar-lhe sobre as reuniões das quais participo. Percebo quanta ingratidão o meu coração é capaz, mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de ver quanta misericórdia me circunda e de ouvir a voz de Cristo que não se cansa de me chamar a si através do meu marido, dos amigos, das coisas belíssimas que está me dando. O problema não é, como pensava, ser digna, mas ser capaz de implorar incansavelmente e voltar a agradecer.
Carta assinada
Um novo olhar
Quando comecei no Movimento, estava cheia de preconceitos. Depois de um tempo, vi que alguma coisa fazia sentido; passou mais um pouco de tempo, e comecei a levar a sério o que Dom Giussani dizia nas Escolas de Comunidade. Nas férias dos universitários, de que participei em julho, vi a importância do meu desejo, da minha humanidade e de como ser mais verdadeira comigo era também ser verdadeira com as coisas que Ele me dava. Nas férias, vi que deveria terminar o meu namoro. Vi que o sentido posto por mim na minha vida não era adequado, pois eu havia colocado as minhas esperanças em um namoro em que o sentimento não existia mais, pois achava que não existia felicidade sem um grande amor. Eu estava errada. Durante anos, achei que sabia o que era viver, amar e ser amada. Não sabia de nada. Não era o “príncipe encantado” o que eu estava procurando, era Cristo. Era o amor incondicional d’Ele que sempre procurei. Vi o que deveria fazer, mas estava amedrontada. Afinal, terminar um relacionamento de seis anos não é algo fácil. Pedia que Ele me desse forças, que eu visse os sinais que Ele me dava, pois podia ser que estivesse entendendo tudo errado. Até porque entender que Ele era o amor da minha vida, poderia não significar romper um relacionamento tão longo. Então, numa quarta-feira, fui chamada para um jantar meio em cima da hora. Só lá, fiquei sabendo que estaria presente o Franco Nembrini, um italiano do Movimento, responsável pelos educadores e colegiais. Comemos massa, para variar, e depois conversamos. Até que, por causa do Carlitos, quando a gente estava falando de amor, mulher, essas coisas, o Franco falou que, se por um momento você está com uma pessoa e não a considera a melhor mulher do mundo, não é ela, não é com ela que você deve se casar. Pronto, não acreditei, aquilo era o que eu precisava ouvir. Resolvi levar a sério a pessoa que estava comigo e me levar a sério também. Não podia mais me enganar. Não era justo, nem para mim e nem para ele. Sexta-feira, o namoro terminou. Foi difícil. Eu me achei covarde, mas aí eu me lembrei do Zerbini, de quando ele falou sobre a necessidade de a pessoa dizer o sim dela a Cristo e não se preocupar com o resultado. Também me lembrei da Marcelinha me dizendo que até o tempo que Deus nos dava era educativo. A questão não era amar uma pessoa, era não saber amar como Cristo me pedia. De fato, eu ainda estou aprendendo com Cristo. Se for para amar alguém, eu só aceito se for da forma como sou provocada por Ele. Porque Ele, realmente, me ama e não é do modo como eu estava acostumada. É um amor que, quando você pensa que chegou ao fim, ainda existe mais. Se eu penso na minha vida, percebo que não levava nada a fundo, mas quando resolvi levar a sério a minha humanidade, a minha necessidade, vi que o que eu precisava era d’Ele. Eu estava me sentindo mal quando saí na segunda-feira para ir ao cinema. Mas, depois, fui jogada novamente na realidade. Puxa, eu estava com os amigos que me faziam reconhecer Aquela Presença e mesmo assim estava triste? Não podia, não mesmo. Acordei, na terça-feira, com mais desejo d’Ele e mais agradecida, porque Ele me mima e toma conta de mim com todo o cuidado. A cada dia que passa, eu não acredito como consegui sobreviver 22 anos da minha vida sem isso. É como ser muito míope: você não sabe que vê tudo embaçado até colocar os óculos, mas, quando coloca, nunca mais vai conseguir ver as coisas como antes.
Paula,
Rio de Janeiro – RJ
Assistindo a um filme
Non nobis Domine, sed nomini Tuo da gloriam! “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Teu nome seja dada a Glória!” Com este desejo, nasceu, há três anos, a experiência do “cine-fórum”, onde moro, desde que me casei, próximo a Milão. Aqui, eu e minha esposa começamos uma amizade, tanto inesperada quanto preciosa, com duas famílias, também do Movimento, e começamos a nos encontrar toda segunda-feira depois do jantar em nossa casa para rezar o terço. Acho que posso dizer que a afeição e a fidelidade a esse gesto gerou uma amizade que parece estranha, dada a diferença de idade e de procedência, mas envolvente e que não nos deixa tranquilos, sobretudo pela constância com a qual Guido sempre se dispõe a se envolver com a realidade local. Assim, uma noite, diante de uma boa bebida, nasceu a ideia: vamos jantar juntos e assistir a um bom filme. Da ideia, passou-se aos fatos, envolvendo amigos do Movimento e de outros lugares : os amigos do “Sentiere del cinema” que nos ajudam na escolha e nos comentários; Gianni que, com a ajuda de Viviana e de Lele, prepara sempre jantares dignos dos mais famosos restaurantes; o pároco, que acolheu a iniciativa com entusiasmo, cedendo-nos o salão paroquial; as senhoras que nos ajudam nos preparativos e na limpeza do salão; e todos aqueles que comparecem, sempre numerosos. Assim, permitimo-nos discutir temas, como amizade, liberdade e família, obrigando – primeiro a nós mesmos – a um trabalho e, portanto, a um juízo proposto de maneira simples e imediata. Este ano, lançamos um desafio maior num ciclo de três filmes: falar de Cristo em um percurso que prevê a projeção de Centochiodi, Paixão de Cristo e O homem que não vendeu sua alma, com a “pretensão” de mostrar como Cristo está presente e ama a nossa vida no pedaço de Igreja que nos é dado encontrar. No futuro, continuaremos, como nos for permitido, agarrados a esta bela amizade e testemunhas do fato de que, com a nossa disponibilidade, Deus faz grandes coisas.
Francesco,
Civesio – Itália
A beleza do cristianismo
Há um ano, cheguei do Brasil a Roma, para fazer o doutorado sobre o tema: “O significado da religiosidade para os pacientes com câncer e para os profissionais da saúde”, na Universidade Lateranense. Sou psicóloga, e o meu interesse sempre foi ajudar às pessoas portadoras de câncer em suas fragilidades. Chegando à Itália, houve a “coincidência” de, por um período, ser hospedada por um casal em que o marido tinha câncer no fígado. Giulio, 57 anos, era ateu. Educado em um orfanato cristão, durante um período, viveu em uma família adotiva, na qual, porém, não conseguiu se integrar. Nunca conheceu seus pais. Exatamente no orfanato, começou a ser contra Deus, os padres e a Igreja. Eu o conheci como uma pessoa boa, capaz de ajudar as outras, mesmo estando doente. Eu sou católica, mas isso não impediu que nascesse uma belíssima amizade entre nós. Nos meses em que morei com ele e sua família, perguntou-me e disse muitas coisas sobre a fé, sobre a Igreja, também como uma crítica. Diante da sua posição, tentei compartilhar com ele a minha experiência. Olhando para mim, para a beleza do meu caminho, aos poucos, acho que viu a abertura humana do cristianismo. Tenho certeza de que aproximar-me dele, gratuitamente, como aprendi no Movimento, tocou de algum modo seu coração. Num certo ponto, descobriu que tinha um câncer muito difícil de ser curado. Tive a sorte de cuidar dele no hospital, nessa longa via crucis. Nos últimos dias, estava muito debilitado, cansado, deprimido, porque, há muito tempo, entrava e saía do hospital. Exatamente no hospital, tivemos um último e tocante encontro: “Estou sofrendo muito. Há muito tempo sofro assim... Você percebe, não?”. “Sim. Trouxe uma medalha de Santa Edith Stein. Ela também sofreu muito”. Giulio me respondeu com um sorriso. “Obrigado! Coloque-a no meu peito... Vai me proteger. Desde que conversamos sobre Deus e sobre a fé, peço a Ele que me dê forças para superar este sofrimento. Mas, Deus está comigo? Também há salvação para mim?”. A sua pergunta me comoveu muito porque vinha à tona a sua exigência de ser feliz. Quer dizer, de ser salvo! Eu respondi: “Claro! Deus está presente aqui e agora, e você já começou a viver no paraíso”. “E quem encontramos no paraíso?”. Com muita simplicidade, tentei dizer que o paraíso é um lugar onde encontraremos Deus e todos os nossos amigos já mortos. Isso o fez sorrir. Perguntei se ele tinha recebido a visita do capelão e ele, muito feliz, me disse que tinha recebido a visita do padre do orfanato onde tinha vivido. Eu disse: “Que bonito! Agora, você também fala com os padres!”. E ele: “Deus me deu a paz”. Posso testemunhar que ele fez uma experiência muito bonita vivendo profundamente, e na verdade, os seus últimos momentos. Vi essa pessoa que se moveu com a sua pergunta, procurando a resposta à sua exigência de felicidade, de beleza, de verdade. Dei-me conta de como a Escola de Comunidade não é uma teoria, mas a descrição do coração humano. No profundo de nós, Deus espera e suscita essa “busca”; Cristo existe por essa razão.
Joelma Ana
Algo que muda
Caro Carrón, ultimamente, graças ao trabalho feito durante os Exercícios da Fraternidade e à Escola de Comunidade, percebi que algo na minha vida mudou. Tenho 32 anos e, depois de duros estudos universitários, casei-me e tive 3 filhos e, por isso, agora sou dona de casa. Até pouco tempo atrás, achava que precisava acontecer alguma coisa (uma oferta interessante de trabalho, a chegada de alguma pessoa extraordinária como responsável da comunidade, etc.) para preencher o vazio que sentia, para realizar o desejo que aquela promessa, feita há tempos, na época da universidade tinha despertado. Por isso, nada mais andava bem, tudo me fazia sentir insatisfeita: o trabalho, o marido, os filhos, os amigos. Ao contrário, depois daquilo que o senhor disse nos Exercícios, percebi que aquela promessa, aquela plenitude, aquela beleza já está presente em cada coisa que eu faço, no rosto dos meus filhos, de meu marido, dos amigos, antigos e novos. Cristo está presente em tudo e já estava ali, eu é que não o via, não queria ver. Que bonito, ao contrário, perceber que até ir comer pizza com as crianças pode ser um momento de alegria e de encontro com Ele. E que cada mãe que espera seu filho na porta da escola, como eu, na verdade, espera que eu vá ao seu encontro dizer-lhe que cada gesto seu é bonito se Jesus existe. Não posso deixar de vibrar e desejar, para todos aqueles que encontro, a mesma experiência pela qual cada momento, até o mais simples e aparentemente banal, pode ser e se tornar um momento de oração e pedido d’Ele, que, incansavelmente responde criando amizades inesperadas e relacionamentos cada vez mais intensos. Não vejo a hora de aprender cada vez mais esse método.
Silvia,
Genebra – Suíça
Nada é óbvio
Ana Maria de Brasília nos enviou esta carta que recebeu de sua amiga Bruna.
Quero contar um pouco sobre como vivi as férias dos colegiais deste ano. Comecei pensando que eu não ia às mesmas férias que meus amigos que passaram para os universitários, que, pela primeira vez, eu estava viajando sem ter ideia de quem encontraria e que nada de bonito poderia acontecer. Eu me enganei. Fui pedindo muito que alguma coisa, realmente, acontecesse e salvasse todas as minhas imagens. A viagem foi horrível, mas, quando chegamos, fiquei logo com um desejo muito grande de poder encontrar a Pâmela de São Paulo, pois eu havia ouvido falar sobre a beleza com a qual ela cantava, mesmo tendo uma doença visual. Eu só pensava que queria cantar como ela, com o coração pulsante e vivo como o dela. Então você me pediu que eu ajudasse com as músicas. Pensei: “Eu vou. A Pâmela vai cantar comigo. Obrigada, Senhor, era só disso que eu precisava!” Olhando para aquela menina, ajudando-a a abrir o Livro das Horas para que ela pudesse achar as páginas das músicas e segurando o microfone para que ela cantasse, eu agradecia sempre. Depois, tive a imensa graça de me surpreender com um dos meninos de Brasília que me fez várias perguntas, como: “Por que a amizade de vocês é assim?”; “o que vocês têm?”; “eu nunca tive amigos como estes”; “por que você é séria assim?” E aquele menino veio me contar a história difícil com sua família, uma realidade muito dura. Agradeci ao Senhor, mais uma vez, por fazer com que eu percebesse, através daquele menino, a grandiosidade daquilo que temos. Uma das coisas que eu respondi foi que, com certeza, somos como todo mundo. Para mim, a diferença é que eu encontrei aqui pessoas que olham para a minha vida com um amor que eu não tenho e que carregam o verdadeiro significado de todas as coisas: Cristo. No dia seguinte, fizemos uma caminhada e subimos um trecho em silêncio. Eu só sabia agradecer e rezar. Lembrava de cada amigo e rezava uma Ave Maria por eles. Também agradecia pela graça de ter ido às férias, pois não devemos dar por óbvio isso. Ali, eu me dei conta de que, lá, Cristo estava presente e que é a Ele que pertenço, não aos meus amigos que eu queria tanto encontrar, porque no fundo era a Ele que eu estava buscando. O tema das férias foi “liberdade”. Falamos muito sobre o pertencer também. Depois, mais uma provocação. Um dos educadores de São Paulo de quem fiquei próxima me perguntou: “Quando você fez o encontro de verdade?”, pois contei que conheço o Movimento praticamente desde que nasci. Ele falou que, às vezes, damos por óbvio as amizades do Movimento e o que vivemos entre nós porque nascemos e crescemos ouvindo isso, indo à Escola de Comunidade dos pais, cantando Viva la compani. Depois, fiquei marcada pela conversa com o Franco Nembrini, um homem fantástico! Uma das coisas que mais me tocou foi o jeito com que ele falava do amor pela sua esposa e a afeição com a qual ele nos olhou. Na semana seguinte, o Marcelo e o Leandro estavam aqui, e como foi grandioso poder tê-los por perto, rezar o terço, agradecendo pela presença deles, ou rezar a Hora Média no clube, debaixo de um sol fortíssimo, ou irmos à Catedral juntos. E isso não é óbvio, não é obvio vivermos assim. Eu só tenho a agradecer por essas férias em que, mesmo não tendo realizado minhas vontades, eu me senti livre de verdade e aprendi a pedir: “Senhor, seja feita a Sua vontade e não a minha”. Obrigada pelo seu sim a Cristo, porque me dei conta de que, através do encontro com você, pude perceber que essa história e o meu miserável sim, não são somente dos meus pais, e sim, meus.
Bruna,
Brasília – DF
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón