O último abraço de padre Paolo
Posso dizer que sou um ex-membro de CL, daqueles “roxos”. Fui encontrado por um “certo” padre Paolo Bargigia, que era pároco da minha região, e, assim, entrei para o Movimento no início do Ensino Médio. A gente se reunia para rezar as Vésperas e na Escola de Comunidade com essa pessoa que tinha um grande carisma e era tão diferente das outras, capaz de uma atenção que não existia em nenhum lugar. Depois, veio a época da universidade: nos encontrávamos para rezar as Laudes, estudávamos, assistíamos as aulas, comíamos juntos e quando íamos embora já estava escuro. Não havia um gesto de que não participasse: Escola da Comunidade, Missa do Movimento, convivências, Exercícios, férias de verão, etc. Depois que me formei e me casei, o trabalho fez com que nos mudássemos para Siracusa onde éramos praticamente vizinhos de outra família do Movimento com quem continuamos a viver essa experiência que nos fez crescer muito pessoalmente e como família. Depois de três anos, meu trabalho nos levou a Friuli onde – talvez um pouco por causa da distância, um pouco pelas dificuldades profissionais, pelas preocupações em relação aos filhos, mas mais que tudo (olhando para trás) pela perda do fascínio do início – eu e minha mulher nos afastamos do Movimento. E visto que para nós a fé e o Movimento coincidiam e um não podia subsistir sem o outro, também nos afastamos da fé. Lentamente, quase imperceptivelmente, perdemos a vontade de ir à Escola de Comunidade, havia sempre uma boa desculpa para ficar em casa. Depois, veio a doença de Paolo Bargigia, a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). Fui visitá-lo apenas uma vez, mas foi o suficiente. Ver uma pessoa que vive com letícia uma situação assim é o acontecimento de Algo que não pode ter uma explicação “humana”, e foi como se aquele algo que tinha me acontecido quando eu era jovem reacontecesse. Nunca tinha experimentado receber uma tal atenção de alguém que está tão doente. Senti-me como um sedento que bebe água fresca: não há nada melhor. Por causa disso, eu e minha mulher decidimos ir ao Meeting de Rímini onde revimos alguns amigos. E exatamente enquanto estávamos lá, Paolo faleceu. Experimentei novamente o seu abraço durante o terço que rezamos por ele e, na dor, gosto de pensar que o fim da pessoa que marcou o meu início, foi, para mim, um novo início. Logo depois aconteceu, em Florença, um jantar com os engenheiros do tempo do CLU onde revi pessoas decisivas para que me tornasse o adulto que sou hoje. A coisa realmente impressionante é que a profundidade de certos relacionamentos não tinha mudado pela distância de quase vinte anos, era como se tivéssemos nos separado no dia anterior. Tenho interesse por muitas coisas e, por isso, não me faltam relacionamentos pessoais. Com certeza, não estou “sozinho”, porém, um olhar assim e uma correspondência tão profunda com o que desejo, não encontro em nenhum lugar. Este foi, para mim, um novo “início”. Imagine a minha surpresa ao me deparar com o tema da Jornada de Início de Ano – depois de cerca de dez anos ausente – “No início não foi assim”, que descrevia tão perfeitamente a minha situação.
Massimiliano
“Como Jesus assando os peixes”
Um amigo perguntou na Escola de Comunidade (EdC) qual foi a utilidade deste momento para nossa vida nesse ano que passou, o que significou ir. Foi bonito o que as pessoas falaram, o quanto ir até a EdC é uma ajuda a sair da correria do dia a dia, a retomar si mesmo, a não ficar na pura reação e às vezes até na violência, a descobrir-se sendo mais si mesmo. Ouvi-los me ajudou muito porque é verdade que toda essa mudança, que tudo isso que a EdC nos faz viver é Cristo acontecendo, é a Sua Presença agora, hoje. Pra mim era nesse lugar que Cristo acontecia de um modo imprevisto, com um rosto claro, com uma gratidão que transbordava, uma certeza apaixonada de que Ele acontece e que eu sou feita ali. Como se ali nós pudéssemos comer os peixes com Jesus depois da pesca, descansar para depois lançar as nossas redes ao mar, apaixonados por aquela Presença. Pensei que a EdC é isso, como Jesus assando os peixes, sabendo da nossa fome e cansaço, nos esperando. É esse lugar que Ele nos espera com tanta ternura.
Giovanna, São Paulo (SP)
Um encontro que redesperta a vida
No dia 13 de dezembro de 2016, recebo um WhatsApp. “Muito prazer, sou um amigo italiano... peguei seu celular com o pessoal da secretaria. Vou passar o réveillon com uma amiga na Barra da Tijuca, quero que ela conheça vocês”. Ok. Marcamos na paróquia perto de casa, tomamos um café depois da missa. Não sabia nada da história daqueles dois, só que era um amigo do Movimento da Itália que queria nos apresentar sua amiga brasileira. Foi um encontro muito rápido, mas uma familiaridade imediata. Encontramos-nos novamente na véspera dele retornar para Rímini, aí sim para um chopp com mais calma. Descobrimos um pouco da história deles: encontraram-se num evento fitness na Itália, ela personal trainer, ele fotógrafo. Um ano de muitas conversas por Facetime e a decisão dele vir ao Brasil verificar aquele relacionamento virtual. Ele não tinha falado nada sobre CL, ela não sabia de onde ele “conhecia” aqueles amigos brasileiros. Naquele encontro dava para ver o maravilhamento dos dois pelo relacionamento que estava surgindo e ao final o pedido do Giorgio: “Cuidem da Elen”. Era início de janeiro, a convidei para o evento cultural Rio Encontros que estava chegando e ela pediu para trabalhar como voluntária! Mesmo sem entender bem que tipo de evento seria esse, foi à missa de abertura. E foi o primeiro impacto: ela, de formação católica, nunca viu uma missa com tantos padres juntos e ouviu palavras que reacenderam sua fé. E foi aos outros dias do evento, deslumbrando-se com tantos testemunhos e encontros. Ao final, a convidei para continuarmos nos encontrando e fazer Escola de Comunidade. Moro em um bairro longe das outras reuniões, além da questão de horários de trabalho e dos meus filhos que me dificultam muito para maiores deslocamentos durante a semana. Para mim é uma grande graça quando surge alguém interessado pelo Movimento perto da minha casa. E graças a Deus sempre tem aparecido alguém. Mas dessa vez foi especial, pude conviver com alguém vivendo o “frescor do acontecimento”. Foi um ano intenso de Escola de Comunidade em dupla, ela com o texto todo trabalhado, o que me “obrigava” a trabalhar sério também e que me ajudou a sair do formalismo. Tudo muito intenso, as questões brotavam a cada semana, a gente comparava com o texto, indiquei também que ela conversasse com um nosso amigo padre sobre sua vocação. E ela foi a todos os gestos, todas as oportunidades de encontro com nossos amigos, deu muitos passos, fez um belo caminho. E foi um grande presente para mim, com 25 anos de Movimento, e que me encaixo em todos os pontos do texto da Jornada de Início de Ano. Em dezembro, a Elen deu um testemunho no Retiro de Advento da comunidade exprimindo sua gratidão a Deus por esse ano intenso, por esse acontecimento. Exatamente um ano depois do primeiro encontro no Rio de Janeiro. Com o coração cheio de desejos e perguntas, mas com a certeza de que ela não é feita para “viver menos” do que viveu esse ano. E eu fico imensamente grata a essa história, como o Senhor em sua genialidade usou um encontro qualquer para nos restituir a nós mesmos. “No início foi assim!”, no tempo do “primeiro amor”, e disso não podemos nos esquecer. O método de Deus é sempre um encontro, temos é que estar disponíveis e nos deixarmos provocar pela forma com que o Senhor arromba a nossa porta. E “a vida volta a cantar”.
Adriana, Rio de Janeiro (RJ)
“Fomos tocados por como vocês vivem”
Há cerca de dez meses, conhecemos, no curso pré-natal, dois jovens que esperavam o primeiro filho, assim como nós. Logo nos chamaram a atenção pelas razões que os motivaram a fazer o curso: não somente pelos “aspectos técnicos” do parto, mas porque estavam interessados em frequentar um lugar no qual compartilhar essa nova aventura. Ambos com pais que moravam fora de Milão, sentiam-se tristes “numa cidade que não tem tempo para essas coisas”. A futura mamãe, acerca da pergunta “o que vocês esperam deste curso?”, havia respondido: “não sei dizer, essa nova vida é um mistério para o qual eu não saberia encontrar definições ou expectativas exatas”. Nos meses que se seguiram, tornamo-nos amigos, nunca deixando que as diferenças culturais e religiosas dessem o tom do relacionamento. Nas férias de julho os convidamos para viajar conosco e com outras famílias do Movimento. Eles, com muita naturalidade, aceitaram. Ficamos mais próximos e, pouco tempo depois, a grande surpresa: perguntaram-nos se queríamos ser os padrinhos do bebê, que haviam decidido batizar. Sendo que eram ateus, estavam indecisos. No entanto, a mãe – que se dizia “racionalista, crescida em uma família ateia, batizada por questões de circunstância familiar” – durante o parto teve uma neta e clara percepção de que aquele evento não se exauria no fator fisiológico. Isso os levou a considerar o Batismo como reconhecimento de um fato misterioso que os tinha tocado. Contaram-nos que poderiam ter escolhido amigos mais “históricos” como padrinho e madrinha, mas haviam decidido fazer a nós o convite: “Mesmo que nunca tenhamos falado de fé com vocês, fomos tocados pelo modo como vocês vivem, pelo modo com o qual vocês e seus amigos nos acolheram nas férias. Entende-se que vocês vivem uma fé genuína e é isso que nos interessa para nosso filho e para nós”. Foi um diálogo belíssimo. Na história de amizade com estes amigos, estamos vivendo a experiência de um estupor por uma Presença que muda, não tanto porque nós transmitimos algo a ser aplicado, mas porque a sede deles nos desperta para descobrir Quem opera.
Bruno e Annachiara, Milão
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