UM ENCONTRO QUE ENCHE A VIDA DE BELEZA
O convite de um amigo me surpreendeu: encontrar uma pessoa que eu só conhecia por seus textos e palestras feitas no Meeting de Rímini, o Abade geral da Ordem Cisterciense, padre Mauro Lepori. Em uma tarde de sábado, em pleno tempo de Quaresma, quando normalmente as monjas não recebem hóspedes, eu e mais alguns amigos tivemos a graça de sermos recebidos por ele no mosteiro Nossa Senhora da Paz em Itapecerica da Serra, onde ele estava de passagem para visitar as monjas beneditinas. Através deste encontro pude conhecer pessoalmente esse homem que vive uma vocação tão diferente da minha, mas tão cheia da experiência que vivo por causa de Dom Giussani, que nos reuniu e atraiu para essa história! Numa conversa informal e muito simples, nos contou da sua vocação, seu trabalho, suas palestras no Meeting e, sobretudo, sobre seu encontro com Dom Giussani, a quem conheceu pessoalmente já adulto, mas a quem seguia desde os 17 anos quando entrou no Movimento. Falou de como este encontro o ajudou a escancarar as portas que já se abriam para a vida monástica. Ele nos contou de um modo muito livre como encontra paz em suas viagens como Abade geral, e que ficar longe do mosteiro não o impede de ser alcançado por essa paz e silêncio de quem tem Cristo como centro da sua vida: o mundo pode ser um mosteiro quando se vive com essa consciência diante de tudo! A beleza foi o tema mais abordado nessa conversa, cada um contou de sua história particular a partir do encontro com o Movimento, e como o carisma de Dom Giussani nos aproxima dessa beleza, através de encontros, relacionamentos humanos que nascem com pessoas que cruzam nosso caminho, diálogos amigos, gestos concretos no cotidiano e uma vida que se vive à luz desse pertencer a um povo que caminha em direção a Presença amorosa que nos circunda! E foi assim que, naquela tarde de sábado, pude através de um diálogo tão simples e ao mesmo tempo tão familiar, tocar um pouco dessa beleza que enche o coração e que me faz entender um pouco mais como a vida da Igreja é uma vida que cresce e se comunica a todos, através desta pequena semente que se chama encontro!
Claudiana, São Paulo (SP)
“HOJE VOU À SUA CASA”
Em dezembro de 2016, eu e minha família, meus pais e minhas duas irmãs, nos mudamos de Brasília para Luiz Eduardo Magalhães, no Estado da Bahia. Por isso, em 2017 eu comecei o 3° ano do Ensino Médio em uma escola nova, numa cidade nova, onde não conhecia ninguém. No primeiro dia de aula, eu senti uma grande solidão, me sentia triste e sozinha. Eu olhava para os lados e não me encontrava naquele lugar. Depois, vi uma moça e de repente me veio vontade de ser amiga dela. Começamos a conversar e descobri que ela estava passando pela mesma coisa que eu: vinha de uma cidade do interior de Goiás com a família para morar em Luiz Eduardo. Ela se chama Mariana. Ficamos amigas e eu falei pra ela do Movimento. Ela achou muito bacana e começamos a rezar o Angelus na escola. Em outubro do ano passado, alguns amigos de Brasília vieram nos visitar: Ângela, Amanda, Laura, João Paulo e Erick. O objetivo era nos encontrar e me apresentar para a Divina, a coordenadora da Coleta de Alimentos em Barreiras, para que assim eu pudesse participar do Dia Nacional da Coleta de Alimentos com os amigos de lá, que é uma cidade próxima. Ângela me disse que ela e os amigos iriam dormir em minha casa no sábado, para domingo irem para Barreiras. Enquanto recebia a mensagem da visita, eu me lembrei rapidamente da passagem de Zaqueu, onde os amigos eram Cristo e eu era Zaqueu, e pensei que não seria digna de receber tamanha honra em minha casa. Fiquei muito contente e satisfeita e quando eles chegaram, eu e minha família tivemos a certeza de que Cristo estava no meio de nós. Foi uma experiência muito bonita que tivemos durante o final de semana. Eu estava com o desejo de fazer Escola de Comunidade, por isso fomos a um parque da cidade. Convidei a minha amiga Mariana, porque queria que ela conhecesse meus amigos, que tivesse um encontro com eles como eu tive. Ali ela se sentiu encontrada por alguém maior. Agora Mariana também faz parte dessa experiência. Depois desse final de semana tão bonito com os amigos de Brasília, meus pais disseram: “Deu saudades da Escola de Comunidade que fazíamos com a Audreia em Brasília”. Eu e Mariana começamos a fazer a Escola de Comunidade no colégio. Participei do Dia Nacional da Coleta de Alimentos com os amigos de Barreiras e foi muito gratificante. Eu me senti muito acolhida por eles, fiz a mesma experiência que fazia em Brasília. Com meu testemunho eu faço a reflexão de que as coisas aconteceram por mãos divinas e que Cristo foi me visitar e se fez presente também na minha amizade com essas pessoas. Isso me mostrou que devemos reconhecer Cristo no nosso dia a dia.
Natália Ribeiro, Luiz Eduardo Magalhães (BA)
MUDANÇA DE PLANOS, DOBRO DE GRAÇA
Assim que eu soube que o Papa Francisco havia programado uma visita pastoral ao Peru, fiquei muito feliz e não tive dúvidas de que estaria em todos os atos programados em Lima, e esperava pela sua missa. Tenho muito presente a lembrança de 33 anos atrás quando assisti uma celebração com João Paulo II. Eu planejei tudo: a roupa e alimentação adequadas, estava preparada para caminhar o quanto fosse necessário e esperar as horas que duraria o evento desde a entrada, de manhã cedo, até a noite do mesmo dia. Não contava com os desígnios do Senhor, pois minha mãe, que tem 97 anos, sofreu uma queda acidental em casa e precisou de cuidados especiais por alguns dias. Justamente neste momento a cuidadora precisou se ausentar por problemas de saúde e eu precisei dar suporte à minha irmã que mora com ela. Minha mãe tem algumas limitações motoras próprias da idade, mas a cabeça funciona muito bem e mesmo antes de sua queda ela sempre foi muito segura de si, tanto que não parou de gerenciar sua casa. Eu não perdia a esperança de ir à missa com o Papa, porque minha irmã, que não gosta de fazer longas caminhadas, desistiu de ir e me disse que ela cuidaria de nossa mãe naquele dia. Tudo certo até ali, quando ela recebeu um convite para estar na cerimônia de despedida do Papa Francisco. Assim poderia vê-lo mais de perto e, quem sabe, até apertar a sua mão. Isso me encheu de alegria, era uma ocasião que não dava pra perder. Então, começamos a procurar uma pessoa para cuidar de nossa mãe, mas não conseguimos encontrá-la. Pensei que todas as minhas expectativas estavam indo por água abaixo, mas não era assim. Eu percebi que o que estava acontecendo comigo era uma oportunidade para oferecer ao Senhor a circunstância que eu tinha de viver, que eu poderia viver aquele encontro assistindo pela televisão em companhia da minha mãe como fiz há 33 anos, como aconteceu acompanhando todos os detalhes desde que o Papa desceu os degraus do avião que o levaram ao Peru. Para mim, a presença do Papa Francisco entre nós tem sido uma graça. Fiquei emocionada com as suas palavras e as fiz as minhas. Segui todos os encontros que ele fez; e ter feito isso com minha mãe foi uma dupla graça. Definitivamente, a experiência que vivi não teria sido possível sem as orações de meus amigos por mim, por minha mãe e sem o que aprendi de Cristo nos anos que sigo o carisma de Giussani.
Liliana, Lima (Peru)
UMA BELEZA A SER COMUNICADA
Queridos amigos, em maio do ano passado, fui surpreendida pelo telefonema de um amigo me perguntando se eu estaria interessada em começar um caminho na política visando a um mandato no futuro, tendo a educação como a matéria à qual me dedicar. Sempre gostei da política, mas, aos 56 anos, pensava que já estava tarde para começar. No entanto, sem hesitar, perguntei-lhe o que precisava fazer para colocar-me em ação. Desde 2013, quando o Papa Francisco disse que os leigos cristãos deveriam se implicar na política porque esta é “uma das formas mais elevadas de caridade”, esse desejo voltou a se acender em meu coração. Tenho a consciência de que minha pertença a Cristo, no seguimento ao carisma de Dom Giussani, me faz ser livre diante de tudo e de todos. Sendo assim, estou completamente livre dos resultados. Há uma Beleza a ser comunicada ao mundo; há um desejo de Bem que precisa ser resgatado nos relacionamentos cotidianos e também na ação política, que, há muito tempo, deixou de buscar o bem comum e, como consequência, gerou o mar de lama a que o homem pode ser levado quando deseja o próprio bem-estar e não tem escrúpulos para alcançá-lo. Sei que será bastante difícil e que há um longo caminho a percorrer até as urnas, mas, para Deus, nada é impossível. Minha vida é o instante, minha existência é obra de um Outro e o meu pertencimento é a certeza de que jamais estarei sozinha. Sendo assim, como disse meu amigo: “Vamos em frente, até onde Deus nos levar!”.
Valéria, Rio de Janeiro (RJ)
NAS FÉRIAS. AS PERGUNTAS QUE DESPERTAM
No final de novembro eu sofri um acidente de moto do qual sobrevivi por milagre. Quando você se aproxima assim da morte, despertam em você muitas perguntas. No entanto, nos dias em que estive internado no hospital e naqueles de convalescência, não conseguia enfrentá-las: tinha medo. Procurava sempre me distrair para não pensar em nada. Depois, fui às férias dos colegiais. O que mais me marcou foram os três minutos em silêncio diante do túmulo de Santo André, em Amalfi, quando a nossa responsável nos disse para entregarmos a Cristo, através deste Santo, as perguntas e preocupações que tínhamos. Ali me veio uma grande gratidão pela nossa companhia, pois me ajuda a olhar para as minhas perguntas, das quais tenho medo, e as torna oração.
Giacomo, Prato (Itália)
FRATERNIDADE. “ESTA É A ESTRADA CERTA PRA MIM”
Oi, padre Carrón, eu trabalho num canteiro de obras operando a retroescavadeira. Tenho 55 anos e há quatro frequento uma pequena Escola de Comunidade na nossa paróquia em Roma. Quero pedir para fazer parte da Fraternidade. Há mais de um ano penso neste passo, muito importante e exigente, com a esperança de que ajude a minha fé a crescer ainda mais. Há cerca de quatro anos, uma pessoa muito querida está sofrendo por uma grave doença, e isso me provoca. Num sábado de manhã eu estava em casa sozinho e, num momento, pensei: “Mas será que o verdadeiro milagre que Cristo fez comigo foi me fazer começar este caminho?”. Devo dizer que aquela manhã foi um encontro que me marcou bastante. Mas veja, não foi tanto isso o que me levou a pedir a adesão à Fraternidade, mas o que aconteceu e está acontecendo após aquele primeiro encontro, com aquela pessoa: Jesus. Esta é uma experiência que é renovada todos os dias através da Escola de Comunidade, da família, dos amigos e também em alguns momentos de silêncio. Porém, o que mais me surpreende sou eu mesmo: tenho um trabalho, uma família e pensava que essas coisas poderiam ser suficientes para ser feliz, mas fazendo este caminho e encontrando Jesus, descobri que mesmo a pequena parte de mim que estava vazia estava sendo preenchida. Alguém me faz propostas, como você, Dom Giussani ou algum outro, e eu tenho condições de verificar, através das minhas experiências, se fazem a minha pessoa crescer. Não falo no sentido de me tornar mais inteligente, mas de ser uma pessoa adulta. As pessoas que estavam mais perto de Jesus e que decidiram segui-lo, não penso que tenham feito isso porque tinham simpatia por ele, mas porque tinha sido feita uma proposta a elas, foi uma mudança feita por uma verdadeira educação. Tenho dois filhos, um de 30 e outro de 20 anos. Não posso falar com eles sobre a doutrina, porque não fiz isso quando eram pequenos, mas tenho que falar com eles sobre por que eles precisam se levantar de manhã para ir ao trabalho ou à escola. Eu percebi que eles ouviram essas minhas propostas, depois foram eles que me perguntaram e então eu acho que estou no caminho certo, e digo isso sobretudo por mim mesmo.
Santo, Roma (Itália)
O CARTAZ DE PÁSCOA. A CORRIDA, A MANHÃ, O OLHAR
Eugène Burnand, em uma carta de 1897, resumiu assim a sua crença artística: “O misticismo para mim consiste mais na intensidade e profundidade da visão do que na livre imaginação. Eu sou um realista por natureza e pelo destino”. Esta aplicação também está na base do método seguido para tornar o trabalho cujo título completo é: Os discípulos Pedro e João correndo ao sepulcro na manhã da Ressurreição. De fato, a corrida e a manhã são elementos cruciais. “Eu me levanto ao amanhecer para estudar, no brilho dos olhos do meu modelo, o reflexo ardente do sol nascendo no horizonte”, escreveu em uma carta ao amigo Paul Robert. Depois explica que na "condensação luminosa" convergem o sentido teológico, o realismo atmosférico e o respeito cronológico do momento em que esse fato aconteceu. A luz do sol nascente realmente brilha, particularmente nos olhos bem abertos de Pedro: e é um dos mais belos detalhes da obra. E tem a corrida: os dois estão correndo, como sugerem tanto sua inclinação para a frente como o vento que desarruma os cabelos. Eles deixam para trás, longe e pequenas no horizonte, as três cruzes, para ir e abraçar aquela esperança inesperada. Eles ainda estão incrédulos, cheios de um espanto à beira da perplexidade (o que torna o estupor ainda mais provável). São um jovem e um homem que Burnand tentou respeitar mesmo na identidade antropológica dos palestinos desse momento preciso da história. Pessoas simples (note as mãos de Pedro), cujos rostos são definidos pelo que estão olhando.
Giuseppe Frangi
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón