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Passos N.201, Abril 2018

MAGISTÉRIO

“Ressuscitou e te convida a voltar ao teu primeiro amor”

por Papa Francisco

A homilia do Santo Padre durante a missa da noite de Páscoa. Basílica Vaticana. Sábado Santo, 31 de março de 2018

Começamos esta celebração no átrio externo, imersos na escuridão da noite e no frio que a acompanha. Sentimos o peso do silêncio diante da morte do Senhor, um silêncio em que cada um de nós se pode reconhecer e que penetra profundamente nas fendas do coração do discípulo, que, à vista da cruz, fica sem palavras.

São as horas do discípulo emudecido face à amargura gerada pela morte de Jesus: Que dizer diante desta realidade? O discípulo que fica sem palavras, tomando consciência das suas reações durante as horas cruciais da vida do Senhor: diante da injustiça que condenou o Mestre, os discípulos guardaram silêncio; diante das calúnias e falsos testemunhos sofridos pelo Mestre, os discípulos ficaram calados. Durante as horas difíceis e dolorosas da Paixão, os discípulos experimentaram, de forma dramática, a sua incapacidade de arriscar e falar a favor do Mestre; mais ainda, renegaram-No, esconderam-se, fugiram, ficaram calados (cf. Jo 18, 25-27).

É a noite do silêncio do discípulo que se sente enrijecido e paralisado, sem saber para onde ir diante de tantas situações dolorosas que o oprimem e envolvem. É o discípulo de hoje, emudecido diante duma realidade que se lhe impõe fazendo-lhe sentir e – pior ainda – crer que nada se pode fazer para vencer tantas injustiças que vivem na sua carne muitos dos nossos irmãos.

É o discípulo perplexo porque imerso numa rotina avassaladora que o priva da memória, faz calar a esperança e habitua-o ao “fez-se sempre assim”. É o discípulo emudecido e ofuscado que acaba por se habituar e considerar normal a frase de Caifás: “Não vos dais conta de que vos convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira” (Jo 11, 50).

E no meio dos nossos silêncios, quando calamos de modo tão oprimente, então começam a gritar as pedras (cf. Lc 19, 40: “Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras”) dando lugar ao maior anúncio que alguma vez a história tenha podido conter dentro de si: “Não está aqui, pois ressuscitou” (Mt 28, 6). A pedra do sepulcro gritou e, com o seu grito, anunciou a todos um novo caminho. Foi a criação a primeira a fazer ecoar o triunfo da Vida sobre todas as realidades que procuraram silenciar e amordaçar a alegria do evangelho. Foi a pedra do sepulcro a primeira a saltar e, à sua maneira, a entoar um cântico de louvor e entusiasmo, de júbilo e esperança no qual todos somos convidados a participar.

E se ontem, com as mulheres, contemplamos “Aquele que trespassaram” (Jo 19, 37, cf. Zc 12, 10), hoje, com elas, somos chamados a contemplar o túmulo vazio e ouvir as palavras do anjo: “Não tenhais medo! (…) Ressuscitou” (Mt 28, 5-6). Palavras que querem alcançar as nossas convicções e certezas mais profundas, as nossas maneiras de julgar e enfrentar os acontecimentos diários; especialmente o nosso modo de nos relacionarmos com os outros. O túmulo vazio quer desafiar, mover, interpelar, mas sobretudo quer encorajar-nos a crer e confiar que Deus “Se faz presente” em qualquer situação, em qualquer pessoa, e que a sua luz pode chegar até aos ângulos mais imprevisíveis e fechados da existência. Ressuscitou da morte, ressuscitou do lugar donde ninguém esperava nada e espera-nos – como esperava as mulheres – para nos tornar participantes da sua obra de salvação. Esta é a base e a força que temos, como cristãos, para gastar a nossa vida e o nosso ardor, inteligência, afetos e vontade na busca e, especialmente, na criação de caminhos de dignidade. “Não está aqui... Ressuscitou!” (28, 6). É o anúncio que sustenta a nossa esperança e a transforma em gestos concretos de caridade. Como precisamos de deixar que a nossa fragilidade seja ungida por esta experiência! Como precisamos que a nossa fé seja renovada, que os nossos horizontes míopes sejam questionados e renovados por este anúncio! Jesus ressuscitou e, com Ele, ressurge a nossa esperança criativa para enfrentar os problemas atuais, porque sabemos que não estamos sozinhos.

Celebrar a Páscoa significa voltar a crer que Deus irrompe sem cessar nas nossas vicissitudes, desafiando os nossos determinismos uniformizadores e paralisantes. Celebrar a Páscoa significa deixar que Jesus vença aquela atitude pusilânime que tantas vezes nos cerca procurando sepultar qualquer tipo de esperança.

A pedra do sepulcro desempenhou o seu papel, as mulheres fizeram a sua parte, agora o convite é dirigido mais uma vez a ti e a mim: convite a quebrar os hábitos rotineiros, renovar a nossa vida, as nossas escolhas e a nossa existência; convite que nos é dirigido na situação em que nos encontramos, naquilo que fazemos e somos; com a “quota de poder” que temos. Queremos participar neste anúncio de vida ou ficaremos mudos perante os acontecimentos?

Não está aqui, ressuscitou! E espera por ti na Galileia, convida-te a voltar ao tempo e lugar do primeiro amor, para te dizer: “Não tenhas medo, segue-Me”.

© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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