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Passos N.201, Abril 2018

RUBRICAS

Cartas

AS GRANDES COISAS QUE
NASCEM EM TALLAHASSEE

Acabo de chegar da Escola de Comunidade junto com os amigos de Tallahassee. Estou realmente comovido pelo que vi, e pelas grandes coisas que o Mistério está fazendo nascer ali. Eles me contaram sobre a caritativa. Atraídos pela proposta de Carrón nos Exercícios da Fraternidade do ano passado, começaram a se encontrar um sábado por mês para dar café aos moradores de rua da região. Fiquei marcado pela descoberta que fizeram, pois me contavam que, mais do que a comida que oferecem, essas pessoas estavam contentes e gratas porque alguém havia usado seu tempo com elas, alguém tinha parado para escutá-las e compartilhar suas necessidades. E a descoberta dos jovens do Movimento é que isso gera um “a mais” de humanidade e de alegria para a vida deles. É único o que eles estão fazendo, autonomamente de um certo ponto de vista, porque normalmente as paróquias oferecem comida, mas não dedicam tempo aos moradores de rua. Ao invés, seguindo a própria experiência e a proposta de um padre amigo (que está encontrando o Movimento com eles), estão vivendo a caritativa como a que propõe Giussani. Sobre a Escola de Comunidade, hoje estavam presentes trinta pessoas entre jovens trabalhadores e alguns casais, alguns que eu conhecia e outros novos. Porque à medida que fazem uma experiência de correspondência e de crescimento do humano, cada um convida outros amigos. Ver os passos que estão dando, a amizade que está nascendo, o desejo de conhecer Giussani e o Movimento, me comove. Muitas vezes não sabem bem o conteúdo, e, no entanto, o desejo ultrapassa tudo, e abre cada um ao percurso de conhecimento. Eu me percebo pequeno e indigno daquilo que Jesus está me permitindo participar, mas ao mesmo tempo tenho necessidade de vê-Lo agir, de voltar à origem do que fascina meu coração.
Luca, Gainesville (EUA)

ENTENDI O QUE VI EM SEU ROSTO

Caro Carrón, alguns dias atrás um caríssimo amigo faleceu e este período foi, para mim, uma redescoberta sobre o que quer dizer encontrar um lugar onde a verdade é comunicada. Quando meu amigo estava internado, fui visitá-lo. Vê-lo naquelas condições me perturbou, me entristeceu muito. Quando saí do quarto, com lágrimas nos olhos, logo pensei: “Por quê? Por que, Senhor, fazes isto com ele? Ele, que sempre foi uma pessoa tão gentil e fiel. Ele, que sempre confiou em Ti. Por quê? Não é justo!”. Mas, depois de ter pensado isso, algo nasceu em mim. Queria apenas parar por um momento e rezar com todas as minhas forças. Bastou realmente pouco para entender o que tinha visto no seu rosto: uma total adesão a Cristo, um deixar-se fazer, um saber confiar-se completamente, sem medo; sem perguntar o porquê daquele enorme sofrimento. Tinha um semblante inacreditavelmente sereno. Sorria como sempre porque sabia que aquele era o caminho certo, que havia Alguém que o chamava. Vendo isso concretamente nele, também desejei ter um olhar assim sobre a realidade, senti realmente necessidade de voltar a um lugar onde nos é comunicada a verdade de nós mesmos, onde é despertada constantemente a nossa verdade para que não prevaleça o esquecimento. Lendo o texto da Escola de Comunidade percebi como este lugar nunca me abandona; como, mesmo na dor, nos lembra de que existe um Outro, que há mais e que tudo não termina com a morte.
Lucia

OLHANDO E SEGUINDO

Somos duas professoras italianas que trabalham no colégio Alessandro Volta, em Bogotá. Este ano, a família de um estudante nos convidou para rezar uma novena em sua casa. O convite nos surpreendeu: não é óbvio que uma família convide para sua casa as professoras para um momento familiar. Ao início, nos ofereceram um presunto cru delicioso e um bom vinho italiano (um sinal de atenção particular para conosco), depois falamos, rezamos a novena juntos também com outras famílias convidadas e, finalmente, na melhor tradição colombiana, dançamos. Enquanto estávamos ali, olhando estas pessoas, nos demos conta: é uma história particular a qual temos de responder e o mais simples é começar com as relações que nascem e chamam você. Não é necessário inventar nada.
Martina e Vera, Bogotá (Colômbia)

“CAFÉ DA MANHÃ COM DOM GIUS” NO INTERIOR DE NEBRASKA

Depois de participar do New York Encounter voltei a ler a biografia Dom Giussani. A sua vida todas as manhãs durante meia hora, enquanto tomo café. Fico impressionada como, durante estas semanas, desde que voltei a ler o livro, Dom Giussani, a quem nunca conheci, tem se tornado o companheiro mais fiel e presente para mim, perdida no interior de Nebraska. Muitas vezes, durante o dia acontece algo que me traz à mente um episódio ou uma frase que li de manhã – “olha, Martina, eu faria assim” –. Também, frequentemente acordo com uma questão na cabeça, com uma preocupação, e as páginas que leio respondem justamente àquilo... Exatamente como faria um amigo sentado na minha frente se lhe contasse o que está me acontecendo e colocasse as perguntas que tenho. Por isso, comecei a chamar esse momento matinal de o meu “café da manhã com Dom Gius”.
Martina, Omaha (EUA)

A RAZÃO É EXIGÊNCIA DE TOTALIDADE

Ao ler sobre a Assembleia da América Latina com Julián Carrón, a ARAL 2018, no site do Movimento, fiquei muito comovido. Despertou-me o desejo de querer aquilo para mim, de tomar posse daqueles relatos para eu mesmo testemunhar o Acontecimento de Cristo em minha vida. Chamou muito a minha atenção quando, no texto, Pe. Carrón diz: “Nós achamos que a asfixia nasce dos limites das coisas, e não do fato de que o nosso desejo é infinito... A razão é exigência de totalidade”. Sou professor e, mesmo muito atarefado, arranjei um tempo para ler o artigo no intervalo das aulas. Senti meu coração se abrasar, como os corações dos discípulos de Emaús quando ouviam o Ressuscitado. Lembrei-me de Dom Giussani quando nos faz imaginar como João e André voltaram para casa depois daquela tarde com o Mestre. Não pude voltar para casa da mesma forma. Confesso que gostaria de ser um esposo e um pai melhor do que sou e Deus me deu uma resposta para essa angústia sobre meus próprios limites: “Quando percebemos que tudo é limitado deixamos de nos irritar com as coisas e com os outros. Não é culpa deles se não conseguem nos preencher... O problema é se eu vivo com a consciência do infinito dentro do limite”. Vi, então, que o meu problema é que valorizo os limites, meus e de minha esposa e filhas, não tendo essa consciência do infinito dentro desses limites. No retiro de Quaresma que fizemos com a comunidade, Pe. Saraiva nos provocava perguntando se Cristo ainda nos incomoda. Sinto-me incomodado por pensar que já tinha entendido o significado dessa “exigência de totalidade”, mas não. Nem agora entendo ainda, mas essas palavras do Pe. Carrón abriram uma ferida (mais uma) que, mesmo sabendo que não cicatrizará senão na Presença definitiva do Mistério, é a possibilidade de um novo início para mim. É o caminho que recomeça com o desejo dessa “consciência do infinito dentro do limite”. Quero essa consciência! Como diz a Escola de Comunidade, é na vivência da experiência da comunidade eclesial que recebemos uma mudança da nossa natureza e podemos verificá-la. Faço minhas essas palavras no texto da ARAL: “Que graça ter encontrado um lugar que me introduz a essa totalidade!”. Que gratidão por essa nossa companhia!
Márcio, Belém (PA)

DE UMA TESTEMUNHA A OUTRA

Nos dias 9 a 11 de fevereiro, nós, os amigos da comunidade de CL de Havana e Matanzas, tivemos um memorável fim de semana de convivência, aproveitando a presença do novo visitante da comunidade de CL em Cuba (a pessoa que nos acompanha nesta caminhada) e a despedida do que o tinha sido até agora. Pudemos desfrutar de nossa amizade, compartilhar os novos brotos do Movimento e nos fazermos conscientes da Presença de Cristo entre nós. O começo foi muito especial, com a pergunta provocadora de “o que significou o encontro com o Movimento para cada um de nós”. As respostas e intervenções foram tantas que não couberam em tão pouco tempo e se alongaram até o final do encontro. Todos experimentamos como Jesus tocou nossas vidas, de uma maneira muito especial, através do carisma e da educação que recebemos no Movimento: uns que começaram há cinco anos e outros que frequentam apenas há dois meses a pequena comunidade de amigos de CL, puderam expressar e compartilhar, com lucidez e maturidade enormes, o que aconteceu em suas vidas. Os que estão há mais tempo na fé, e pouco em CL, falavam emocionados de como sua fé e seu vínculo com a Igreja se renovou e rejuvenesceu desde que começaram a frequentar a Escola de Comunidade e a analisar a vida do Movimento. Outros, mais novos, falaram da provocação que supõe todas as semanas compartilhar a vida, as circunstâncias diárias à luz da certeza de um Jesus que se apresenta contemporâneo e próximo a nós; de como a vida começa a ser lida e escutada com mais clareza, com mais realismo; dos compromissos eclesiais que agora são iluminados pelo acontecimento e pela experiência nova de CL. Um jovem contava que havia frequentado a Igreja durante toda sua vida (catequese, grupos de adolescentes, pastoral juvenil e universitária) mas que nunca ninguém lhe havia apresentado Jesus de um modo tão fascinante quanto nos seis meses em que está no Movimento. Enfim, foi um fim de semana fora do comum. No encontro, acolhemos e começamos a caminhar com Portu, nosso novo visitante, e nos despedimos de Carras, que, como o primeiro amor, permanece em nossa lista de contatos, mas também em nossas vidas, tocadas por Cristo com as mãos dele. O que mais podemos pedir? O Senhor tem se mostrado grande para conosco e estamos muito alegres.
Fifo, Havana (Cuba)

A CARTA À FRATERNIDADE. A MESMA VIBRAÇÃO, HOJE

Caro Julián, no Domingo de Ramos de 1975 eu estava no fundo da Sala Nervi, porque o Papa nos encontraria depois da missa da Praça São Pedro. Ainda não tinha completado 17 anos e ali, sentada no chão, ouvi a voz de Dom Giussani dizendo: “Sua Santidade me disse: Tenham coragem, o senhor e seus jovens, porque este é o caminho certo”. Daquele dia – no qual me preparando para participar do gesto foi-me ensinado pela primeira vez o valor de Pedro na Igreja – lembro-me apenas disso e da Praça semivazia com o Papa distante. “Tenham coragem, o senhor e seus jovens...”. Senti a mesma vibração no coração hoje quando li a carta que você escreveu depois da audiência com o Papa em fevereiro. Percebi o eco daquela comoção e daquela paixão de Dom Giussani que continua e se renova no seguimento ao seu carisma. Por este motivo, mesmo no meio das minhas mil decisões e recaídas, assim que terminei de lê-la meu ímpeto foi telefonar aos amigos da Associação Portofranco, e dar minha disponibilidade para ajudá-los no reforço escolar. Porque eu também quero participar da “febre de vida” que Dom Giussani nos comunicou e que sinto vibrar em mim.
Letizia, Rímini (Itália)

APÓS AS FÉRIAS
NO CORAÇÃO DAS COISAS, SEM MÁSCARAS

Percebi que as férias dos Colegiais realmente foram de grande ajuda, porque me senti muito reavivada. De fato, desde que voltei para casa carrego no coração todas as perguntas que nasceram naqueles dias. A coisa extraordinária é que essas perguntas não me abandonam. Todos os dias descubro que tenho o desejo de ser Sua serva: na oração, peço que minha vida seja ditada por Ele e que eu seja um meio através do qual Ele possa ser encontrado pelas pessoas. A coisa bonita desse desejo é que me torna livre e não escrava: livre porque se a minha vida é segui-Lo, sei que tudo é para um bem. Ao mesmo tempo, não me sinto “escrava” desse desejo e do resultado: não sei se meus colegas, vendo como vivo, dizem “ela vive por Cristo”, porém eu sei que viver assim, por Ele, torna-me mais feliz. Outra coisa que estou descobrindo é que preciso muito ser olhada pelo que sou e ser aceita assim. Percebo que isso acontece quando vou ao Student Youth (os Colegiais da Grã-Bretanha) porque ali é muito claro o que significa que cada um de nós pode ser o que é. E, portanto, a minha preocupação não é mais parecer “adequada”. Normalmente sou escrava dessa visão atual que diz que se você não for de determinado modo, tem menos valor. Quando me liberto de todas as pretensões sobre mim (a de ter determinada aparência, comportar-me de determinado modo), posso ir ao coração das coisas de modo mais verdadeiro, sem máscaras, nem nada.
Maria, Londres (Grã-Bretanha)

DOAÇÃO
O “PORQUÊ” DO MEU GESTO

Caro padre Julián, há tempos desejava fazer uma doação à Fraternidade e, ao me perguntar “por quê?”, disse a mim mesmo: por afeição, porque vivo há cinquenta anos no Movimento. Mas, que golpe foi assistir a Escola de Comunidade em conexão via internet com você. Em outras ocasiões teria feito objeção se ouvisse falar sobre a pobreza que me falta e sobre o formalismo que me invade. Recentemente, perdi minha esposa e minha casa incendiou-se. Permaneci de pé. Disse a mim mesmo: “Senhor, para onde irei, longe de Ti?”. Mas isso não bastou. Você nos disse: “Se, quando o Senhor me escolhe para se fazer sentir, me tira da minha distração e me torna novamente pobre, não tomo consciência de mim e não O acolho continuamente, Ele não perpassa, não entra em mim”. Mas, na Escola de Comunidade, tudo era para mim, os amigos que falaram eram para mim, você era para mim: mais uma vez a Fraternidade se mostrou ser o lugar que desperta a minha capacidade de ser verdadeiro e leal em primeiro lugar comigo mesmo, o lugar que me devolve o respiro e o sentido da realidade. Mas, sobretudo, na minha vida, a Fraternidade é o lugar onde Ele se manifestou e continua a se manifestar, alimentando uma irrefreável paixão pela vida e pelos meus amigos.
Gilberto, Lecce (Itália)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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