Rosa Brambilla foi uma das primeiras a seguirem Dom Giussani, quando ainda era estudante secundarista em Milão. Atualmente, é coordenadora Geral das Obras Socioeducativas Padre Giussani, em Belo Horizonte, e recebeu vários prêmios por sua atuação no campo social
Mesmo depois de mais de quarenta e tantos anos, me dou conta, de uma forma quase visível, do encontro com Dom Giussani. E me lembro da frase de Vitorino quando se converteu: “quando encontrei Cristo, me descobri homem”. Naquele encontro com Dom Giussani descobri meu rosto, quem eu era. E isso é indelével, ninguém tira. O acontecimento tem uma forma, passa por um rosto; e para mim foi o de Dom Giussani e depois tantos outros rostos que passam a nos constituir. As ações, o agir, passou a ser feito disso.
O olhar para as coisas – pequeninas ou grandes – e para as pessoas vem deste olhar no qual eu me sinto olhada. As coisas nascem assim, olhando a realidade com estes olhos, não se baseando na própria capacidade (que se pode ter ou não) mas dentro desta certeza. É uma esperança concreta.
Eu nunca poderia imaginar que chegaríamos a cuidar de 1.100 crianças. Mas não é tanto pelas obras: é o Ser (com S maiúsculo) que se impõe, apesar do temperamento e dos limites. É Ele que se manifesta, quase sem que pensemos nisso: Ele se revela no operar. Em casa, com as pessoas que a gente acolhe, ou na obra social, é como se as pessoas vissem, através do nosso rosto, uma outra coisa.
Aquele olhar nos acompanha sempre; é isto que nos torna inteligentes. O que Deus fez surgir não depende de mim, não foi planejado por mim. Foi e é a simplicidade de reconhecer aquele olhar permanente, que me dá certeza: mesmo no plano econômico, nos problemas que nos amedrontam (não é que se viva sem consciência destas coisas!). Mas é algo que não nos abandona, está aí conosco. Desta mesma forma que eu sou olhada, eu procuro olhar as pessoas que estão à minha volta. A maneira de enfrentar as coisas é perpassada por este olhar de Cristo que chegou até Dom Giussani e, através dele, até mim, até nós.
Dou-me conta de que ser protagonista consiste no olhar para este fato que é o Outro. O Outro que não é só Cristo, mas passa através do rosto humano. Nesta consciência do Outro, neste pertencer a um Outro, o rosto da gente aos poucos, passo a passo, toma outro semblante, “se assemelha a”. É pertencer, mesmo dentro das crises e podridão, dentro de toda circunstância na qual estamos mergulhados, no mundo em que vivemos. É o que dá letícia, apesar de tudo. É o que nos torna serenos mesmo dentro do sofrimento e da dor. Porque é a dor que alimenta o amor e faz o rosto resplandecer. Cristo, ao se encarnar, dentro da dor, resplandeceu. Por ser experiência, isso é concreto. Deus, através de Dom Giussani, pegou a dor da gente, a miséria da gente: é pura misericórdia. É como um menino amedrontado e cheio de limites que, abraçado, muda o rosto. Eu me sentia assim antes de encontrar Dom Giussani.
Eu acho que sou chamada a ser protagonista, e ser protagonista é revelar o rosto do Outro. Eu percebo que a minha verdadeira personalidade é esta; não é o meu caráter. Não é nenhuma genialidade; trata-se só de olhar de verdade, de não tirar os olhos das pessoas. Porque Dom Giussani não é uma coisa passada, está dentro do carisma, das pessoas que Deus coloca perto de nós.
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